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Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2010 às 19h43.
O economista paulistano Felipe Renea, de 26 anos, adora encontros virtuais. Dono de ações da Petrobras, Duratex e Vale do Rio Doce, ele acompanhou sete teleconferências em 2006. Só não participou de outras por falta de tempo. "Elas são simples, mas é importante ter alguma noção de como funciona o mercado antes de acessar esses serviços", diz. Felipe prefere eventos de empresas conhecidas por atraírem mais gente. "As teleconferências da Embraer geram muitos questionamentos", diz o economista. "Todos querem saber os planos da empresa para mercados como China e Índia, por exemplo."
Os executivos que comandam uma organização vez ou outra param seus afazeres para dar satisfação aos donos da empresa sobre o andamento dos negócios. Em companhias com ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), essas reuniões incluem também investidores que compraram papéis da corporação. Até pouco tempo, só o pessoal mais abastado, gestores de fundos, além de analistas e jornalistas especializados, era convidado para participar desses eventos. Com a crescente popularização da bolsa isso mudou.
Ultimamente, investidores pessoa física, mesmo com pouco dinheiro, e até quem nunca investiu, são incentivados a participar de teleconferências, assistir a videoconferências ou se cadastrar para receber boletins pelo webcast (tecnologia que serve para transmitir informações por internet ou intranet) sobre a empresa. "Esses eventos são uma ótima chance de ouvir os diretores e presidentes das companhias", diz Paulo Esteves, sócio-diretor da consultoria Capital Partner. "O clima é cordial e ninguém é ridicularizado na hora de tirar dúvidas, por mais simples que elas sejam."
Participar é fácil. Numa teleconferência -- o evento mais comum no momento --, basta ligar, dizer o nome, o número de telefone e informar se pertence a uma instituição, como um banco ou corretora, ou se é autônomo. Em poucos segundos, os principais diretores da empresa estarão ao alcance do seu ouvido, passando os principais números da companhia no último ano, semestre ou trimestre. Eles comentarão sobre as vendas da empresa, seu crescimento e sua estratégia, agindo como se estivessem em uma palestra.
Há quem ache tedioso passar uma hora ao telefone -- tempo médio de duração desse serviço. Se esse for o seu caso, você pode ligar o computador e assistir à videoconferência do evento. Muitas empresas oferecem versões multimídia pela internet, nas quais dá para ver e ouvir os executivos explicando as informações, com a vantagem de poder checar os slides que eles prepararam com os resultados da empresa. As companhias não trabalham com calendários fechados de eventos. Por isso, você deve se cadastrar no site da empresa, na área de relação com investidores (RI), que se encarregará de enviar um e-mail avisando o dia e horário. Ao final de cada encontro virtual, todos os participantes podem fazer perguntas.
A seção de perguntas é a parte predileta do engenheiro Alex Marchesi, de 27 anos, que há seis meses investiu 70 000 reais em ações da Vale do Rio Doce. Como bom mineiro que é, ele fica quieto, atento a tudo. "Mando as minhas perguntas por e-mail depois", diz. Aos teleconferencistas de primeira viagem, Alex recomenda atenção redobrada diante de termos técnicos. "Na teleconferência da Cemig, quem não tiver noção do que é um sistema elétrico de potência ficará voando em determinados momentos", diz. Uma saída é conversar com sua corretora para que ela explique alguns detalhes sobre o setor que você quer investir, como energia, siderurgia, construção. Outro caminho é deixar a vergonha de lado e perguntar tudo o que você quiser saber, até mesmo sobre um termo técnico.
Algumas informações não podem deixar de ser fornecidas pelos executivos da empresa. "O ideal é que eles expliquem o desempenho da companhia num intervalo mais amplo, não se detendo apenas a números mais recentes", diz Haroldo Levy Neto, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec). Outro ponto básico é saber os motivos que levaram a empresa a apresentar o resultado divulgado, mesmo que os números sejam positivos. "Conhecer as estratégias de atuação é fundamental", diz Geraldo Soares, presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidor (Ibri) e chefe de RI do Itaú.
As empresas também investem em reuniões presenciais. Aquelas que pertencem aos níveis 1 e 2 de governança corporativa da Bovespa, devem, no mínimo uma vez por ano, organizar encontros públicos com acionistas. Gerente de RI da Petrobras, Paulo Maurício Campos é testemunha dessa prática. Ele já chegou a visitar oito cidades brasileiras em uma semana.
Conhecer investidores não é a única intensão das empresas. Em alguns casos, boas idéias surgem a partir desse contato. Foi o que aconteceu numa reunião do Itaú em Recife, em 2003. "Um dos investidores perguntou se o banco não podia reinvestir os dividendos", conta Geraldo. Esse foi o ponto de partida para a criação do programa de reinvestimento de dividendos, lançado pelo banco em 2004. Uma prova de que, ao vivo ou à distância, informação é uma moeda valiosa para quem compra e para quem vende ações.
SEM PERDER A ETIQUETA
Conheça algumas atitudes elegantes e também micos de acionistas nas teleconferências promovidas pelas empresas:
CERTO
* Fazer perguntas de forma objetiva e clara.
* Usar as perguntas dos outros para aprofundar determinados pontos.
* Acompanhar a apresentação desde o começo.
* Não desligar o telefone e sair da teleconferência até compreender a estratégia da empresa para crescer no período seguinte.
ERRADO
* Distrair-se e repetir a mesma pergunta de outros acionistas.
* Desdenhar das colocações de outras pessoas.
* Chegar no meio da discussão.
* Perguntar aquilo que a empresa não pode responder, como qual será o faturamento no próximo semestre, e ficar chateado se ficar sem resposta.