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O que dizem 7 economistas sobre a crise nos EUA

EXAME ouviu 7 economistas renomados sobre o mau momento da economia americana; o único consenso é de que o cenário é de incertezas

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Desde meados de julho, o desaquecimento do mercado imobiliário nos Estados Unidos passou a ser a maior fonte de preocupação de investidores do mundo todo. O rápido crescimento da inadimplência e as dificuldades financeiras de algumas empresas do setor de hipotecas ou de fundos que aplicaram em papéis dessas companhias levaram a uma dramática redução de linhas de crédito. O resultado foi o rápido aumento da aversão ao risco e a desvalorização de ativos. Economistas parecem muito longe de um consenso sobre o impacto dessa turbulência no mercado sobre a economia real. A única certeza é de que o momento exige maior cautela de investidores. Veja o que dizem sete famosos ouvidos por EXAME:

Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI e professor de Economia da Universidade de Harvard

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"Nas décadas recentes, os Estados Unidos tiveram somente pequenas flutuações, com curtos processos de recessão. Nesse meio tempo, as pessoas passaram olhar a China como uma superpotência, e os Estados Unidos, não mais. Isso está errado. O fato é que os Estados Unidos estavam vivendo uma fase de estabilidade que não era fonte de preocupação. Mas se os Estados Unidos entrarem numa recessão séria, assim como nós vimos em 1983, teremos um impacto enorme no resto do mundo. Até tivemos períodos que chamamos de crise em 1991 e 2001. Mas eles foram muito pequenos nos EUA. O fato é que estamos no começo de um período que nem podemos definir se temos uma crise ou não. Mas estamos vendo um elevado risco de crise. Para o Fundo Alfa da Goldman Sachs, por exemplo, já estamos em crise. Mas nós não estamos em crise - ainda. Eu diria que no momento essa é a fumaça do incêndio e não propriamente o fogo. É um momento de risco.

Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central

"Essa é uma crise restrita ao mercado interbancário nos Estados Unidos. O problema dos novos instrumentos financeiros é que quando cai o preço do ativo objeto (nesse caso, os imóveis) ocorre um efeito em cadeia. Ninguém sabe quanto vai custar o derivativo do derivativo. Enquanto não houver uma limpeza nas carteiras desses bancos, alavancados em derivativos, a volatilidade vai continuar."

José Júlio Senna, economista e sócio da consultoria MCM

"Se eu pudesse escolher um momento para uma crise mundial seria esse. Isso porque um novo perfil da economia mundial limita os impactos da crise. O mundo depende menos da economia americana. O setor privado também está mais sólido. Hoje, nos Estados Unidos, a taxa de crescimento dos lucros das empresas é maior que a taxa de crescimento do PIB. Além disso, a saúde do setor bancário mundial também é muito maior. É bom lembrar também que se no passado recente, os emergentes eram parte do problema - hoje eles são parte da solução. O FMI divulgou que mais da metade do crescimento mundial virá dos países emergentes."

Júlio Sérgio de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda

"O crescimento americano não pode ficar abaixo de 2% ao ano. Caso contrário, os Estados Unidos entram na rota da recessão. E a atual crise imobiliária coloca o país no perigoso limiar da desaceleração. Essa é a maior crise que já se viu nos Estado Unidos em tempos recentes. Maior talvez do que a que ocorreu em 1987 no mercado acionário americano."

Dalton Gardiman, economista do banco de investimento Calyon

"As intervenções dos bancos centrais dos Estados Unidos, União Européia e Japão (até agora 420 bilhões de dólares) não resolvem o problema. E mesmo a redução da taxa de redesconto do Federal Reserve não significa muito. O resgate do Fed é elegante demais para ser efetivo. O problema nos Estados Unidos se explica pelo agressivo impulso monetário. Assim como no Brasil alguns setores defendem uma queda de juros mais forte para conquistar mais crescimento, nos Estados Unidos, a lógica é dar mais crédito para crescer mais."

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central

"É difícil ainda avaliar a profundidade desse momento. Os fundamentos da economia mundial são positivos e estamos vendo um processo de ajuste ainda restrito ao mercado financeiro. Por isso, creio que a atual turbulência não deverá mexer no desempenho do PIB mundial. Evidentemente, se a crise ganhar maior força, os reflexos na esfera financeira também podem ser maiores - e aí com repercussões na economia real. Mas não acredito que seja esse o caso."

Carlos Kawall, sócio da Rio Bravo Investimentos e ex-secretário do Tesouro Nacional

"Por enquanto, todo tipo de crédito será afetado nos Estados Unidos. No passado, eram apenas os bancos que estavam envolvidos no crédito imobiliário. Com a securitização de ativos, os fundos entraram nesse mercado. E, sem dúvida, houve exageros. Creio que ainda vão levar meses para que a confiança seja restaurada."

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