Exame Logo

O dólar é mau negócio

As previsões são unânimes: a moeda americana continua a cair até o final deste ano

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h01.

Em meados de julho deste ano, o mercado financeiro global viveu dias agitados. O conflito entre Israel e Líbano agravou-se, o preço do petróleo disparou e as bolsas de valores desabaram ao redor do mundo. Há pouco mais de dois anos, notícias como essas seriam suficientes para deixar os investidores brasileiros em pânico -- e certamente teriam feito subir as cotações do dólar. Dessa vez, nada disso aconteceu. Ao contrário, os contratos futuros de dólar negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam em queda, mesmo nos dias mais agitados. A incerteza trouxe um pouco de oscilação aos preços, mas nada que intimidasse os investidores ou provocasse o temor de uma volta da inflação. Os analistas mantiveram as apostas. Para eles, apesar de um ou outro solavanco nos próximos meses, a moeda americana deve encerrar 2006 com leve queda em relação ao real. O grosso dos prognósticos oscila ao redor de 2,21 reais para dezembro.

Qual a explicação para tanta tranqüilidade? Hoje, há mais vendedores que compradores, o que pressiona os preços para baixo. No passado, o câmbio controlado e os juros internos elevados estimulavam as empresas a fazer dívidas corrigidas pelo dólar. Qualquer sinal de escassez de dólares fazia os devedores comprar preventivamente, pressionando os preços. Isso mudou drasticamente.

Veja também

Desde o início de 2005, as empresas e o próprio governo têm pago suas dívidas em dólares, reduzindo as possibilidades de alta. Segundo Alexandre Póvoa, diretor da administradora de recursos carioca Modal Asset Management, essa mudança fez com que o comportamento do câmbio nos últimos meses se tornasse totalmente diferente de tudo o que ocorria em anos anteriores. "Não vivemos mais uma situação em que qualquer escândalo lança a moeda americana às alturas", diz Póvoa. "Nos últimos três anos, o país teve uma grande melhora de seus principais indicadores econômicos e não é mais tão dependente dos capitais externos." Além disso, o Brasil ainda mantém juros na casa de 15% ao ano, o que torna o mercado local bastante atraente aos olhos dos estrangeiros. "Os juros altos estão atraindo muitos dólares para o Brasil", diz Eduardo Castro, do banco ABN Amro. "A moeda americana estaria ainda mais desvalorizada se não fosse a política do Banco Central de comprar dólares para recompor suas reservas."

Embora os analistas esperem mais volatilidade para a moeda americana até o fim do ano, sua rentabilidade não deverá superar a dos juros de mercado, o que a torna um mau investimento. Não por acaso, os fundos cambiais foram os que apresentaram o pior desempenho no mercado neste ano. Os 42 fundos tiveram perda média de 4,6% nos 12 meses encerrados em junho. Quando avaliados ao longo de três anos, o resultado é ainda pior. Na média, quem deixou o dinheiro nessas carteiras nesse período perdeu 19,2% do que investiu. Por isso, os analistas não indicam esses fundos. "Recomendo entre 10% e 15% de exposição cambial da carteira para um investidor individual apenas como estratégia de diversificação", diz Roberto Lombardi, diretor da corretora Interfloat. Ou seja, apostar no dólar só servirá para proteção. "Mas é preciso entender que aplicações usadas para proteção servem somente para minimizar perdas e não garantem lucros", adverte Póvoa.

Para quem não acredita em uma crise grave no futuro, mas mesmo assim insiste em aplicar parte de seu dinheiro em investimentos corrigidos pelo dólar, a melhor opção são os fundos que carregam títulos brasileiros corrigidos pela moeda americana, ou seja, que pagam cupom cambial. "Assim o cotista garante a variação da moeda e mais algum juro", diz Póvoa. Entretanto, é preciso estar preparado para os solavancos. Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento, os fundos cambiais registraram em maio rentabilidades acima de 10%, mas boa parte desses ganhos foi revertida em junho. O problema para o investidor é que esses títulos apresentam uma oscilação dupla. Seu preço varia com as flutuações do dólar, e os juros que pagam também estão de acordo com a oferta e a demanda. Ou seja, em um momento de alta súbita do dólar, como o que ocorreu em maio, os juros pagos pelos títulos recuaram.

Os especialistas também não recomendam que o pequeno investidor tente ganhar com a baixa do dólar. A única maneira de a pessoa física apostar na baixa do câmbio é por meio dos minicontratos futuros de dólar, negociados na BM&F. Esses instrumentos, porém, estão sujeitos aos mesmos solavancos do mercado futuro de dólar, e são considerados bastante arriscados para a pessoa física. "Mercados futuros são para os profissionais", diz o diretor de uma corretora paulista.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Minhas Finanças

Mais na Exame