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Não, o dólar não está tão caro quanto parece

Se considerado o efeito da inflação, o dólar deveria custar 4,88 reais hoje para estar no mesmo patamar da cotação de janeiro de 2003, de 3,53 reais

Dólar e lupa: Em termos reais, dólar deveria valer R$ 4,88 hoje para se equiparar à cotação de R$ 3,53 em 2003, (Thinkstock/John Foxx)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de agosto de 2015 às 16h50.

São Paulo – As altas do dólar têm causado calafrios nos brasileiros que pretendem viajar ao exterior. Mas, ainda que em agosto a moeda tenha atingido sua maior cotação desde janeiro de 2003 (ao bater os 3,53 reais), ao dizer que o dólar está tão caro quanto em 2003 algumas complexidades que envolvem o assunto são jogadas para o escanteio.

Por causa da inflação , os 3,53 reais de hoje compram uma quantidade menor de bens do que em 2003. Assim, é como se a cotação do dólar a 3,53 hoje estivesse mais barata do que a cotação do dólar a 3,53 reais em 2003.

A partir de dados do Banco Central , que mostram as cotações históricas do dólar ao final de cada mês, André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, mostrou qual cotação do dólar hoje corresponderia à cotação de 3,53 reais em 2003 ao considerar a inflação.

A cotação da moeda ao fim de julho, de 3,39 reais (último dado disponível na série do BC), corresponde a 96% da cotação de janeiro de 2003, de 3,53 reais. Mas, ao observar a série de cotações do BC que embute o efeito da inflação (medida pelo IPCA ), conclui-se que a cotação de 3,39 reais ao final de julho equivale a apenas 58% da cotação de 3,53 reais de 2003.

Ao fazer um outro cálculo, que considera não só a inflação no Brasil, como nos Estados Unidos (considerando o índice inflacionário Consumer Price Index - CPI), o dólar deveria estar cotado a 4,88 reais para estar no mesmo patamar de janeiro de 2003 - aos 3,53 reais - em termos reais.

"Não se trata de dizer que a situação está pior ou melhor, mas apenas que o câmbio nominal não expressa totalmente a realidade. Para que hoje o brasileiro fizesse o mesmo esforço que fazia em 2003 ao comprar um dólar, na verdade ele deveria pagar 4,88 reais", diz Perfeito.

É importante lembrar que o cálculo do câmbio real é feito com base em dois índices inflacionários, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no caso do Brasil e o Consumer Price Index (CPI), no caso dos EUA. Apesar de serem dois dos principais termômetros da inflação de ambos os países, eles medem a evolução de preços de uma cesta de produtos, portanto podem não representar com 100% de precisão o aumento dos preços .

O economista-chefe da Gradual diz que para refletir o mesmo poder de compra de janeiro de 2003, quando o dólar valia 3,53 reais, hoje a moeda norte-americana deveria estar cotada a 1,97 reais, segundos os cálculos que consideram a inflação em ambos os países.

Para esclarecer melhor o conceito, Perfeito cita um exemplo: Alguém que recebia um salário de 7 mil reais gastaria 3.500 reais para comprar 1.000 dólares (arredondando a cotação para 3,50 reais) em 2003, o que representaria 50% do seu salário. Supondo que o salário tenha subido para 10 mil reais hoje, para comprar 1.000 dólares agora ela pagaria os mesmos 3.500 reais (considerando a cotação de 3,50 reais), mas isso passaria a representar apenas 35% do seu salário.

Em outras palavras, mesmo que 3,53 reais comprem hoje menos bens que em 2003 (porque a inflação corrói o poder de compra do real), em ambos os períodos os 3,53 reais poderiam ser trocados por 1 dólar. Assim, hoje os brasileiros abrem mão de um poder de compra menor para adquirir a mesma quantidade de dólar.

Isso se reflete nas compras realizadas por brasileiros em dólar: mesmo com o real mais fraco, conseguimos comprar a mesma quantidade de dólares de 2003, assim nosso esforço de compra é menor. Justamente por essa razão, é possível dizer que a cotação da moeda norte-americana não está exatamente tão cara quanto em 2003.

Para observar a questão a partir de outro ponto de vista, basta pensar em um americano que convertesse seus dólares para reais: hoje ele conseguiria comprar menos bens no Brasil do que compraria em 2003, ainda que em ambos os casos cada dólar valesse 3,53 reais.

O gráfico a seguir, elaborado por André Perfeito com base nos dados do Banco Central e do U.S. Bureau of Labor Statistics (BLS), espécie de IBGE dos EUA, mostra a variação do dólar entre janeiro de 2003 e julho de 2015. A linha azul mostra a variação nominal do dólar e a linha vermelha mostra a variação em termos reais (incluído o efeito da inflação dos EUA e no Brasil).

Gráfico mostra a variação nominal do dólar e a variação real, que considera a inflação no Brasil e nos EUA (Gradual Investimentos, com base em dados do BCB e do BLS)

No gráfico nota-se que as linhas se distanciam ao longo do tempo e que o último ponto da linha vermelha - referente à cotação do dólar em julho de 2015, considerada a variação da inflação - está bem abaixo do ponto inicial do gráfico, que marca a cotação a moeda em 2003.

O economista-chefe da Gradual diz que não é comum calcular a variação do dólar considerando a inflação, mas defende que para períodos mais longos o correto seria observar a variação real da moeda, descontada a inflação.

Dessa forma, em sua opinião, seria possível compreender com mais clareza se o dólar está de fato mais caro ou não.

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São Paulo - Não, você não precisa descartar seus planos de viajar para fora por causa da alta do dólar . Ainda que alguns dos destinos preferidos dos brasileiros usem a moeda norte-americana como referência, o mundo não se resume a " Disneys " e " Nova Yorks ". Para mostrar algumas alternativas interessantes, o site Quanto Custa Viajar realizou um levantamento, a pedido de EXAME.com, com os 15 melhores destinos internacionais para escapar da alta do dólar. Apesar de alguns deles serem distantes do Brasil e exigirem um investimento maior na passagem,  e outros chegarem a usar o dólar (como Quito, no Equador), a lista mostra quais são os destinos com menor custo diário dentre algumas das cidades mais buscados por turistas no mundo todo. São lugares que, mesmo sofrendo alguma influência do dólar nos preços (afinal, o mundo todo sofre), por serem baratos, deixam a viagem para fora um pouco menos salgada, mesmo diante das atuais circunstâncias da economia brasileira . Para chegar ao gasto diário de cada destino, principal critério levado em conta para a formação da lista, o Quanto Custa Viajar inclui os preços das principais atrações turísticas, os custos médios com transporte, as opções de hospedagem mais baratas da cidade e as despesas com refeições. Confira a seguir os 15 melhores destinos para fazer sua viagem internacional sem sofrer (tanto) com as altas do dólar.
  • 2. Santiago - Chile

    2 /17(Thinkstock/tifonimages)

  • Custo diário: R$ 80,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 910,29 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: As passagens aéreas para Santiago são as mais baratas desta lista. Além disso, as principais atrações da cidade custam menos de 25 reais e os passeios para o Vale Nevado e a vinícola Concha Y Toro saem por menos de 150 reais, com traslado. A alimentação em Santiago também é barata, é possível jantar bem com 30 reais (com direito a vinho da casa).
  • 3. Curaçao - Caribe

    3 /17(ThinkStock/Medioimages/Photodisc)

    Custo diário: R$ 183,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 2.124,01 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Uma das principais vantagens de Curaçao, em termos de custos, é que muitos hotéis trabalham com o sistema all inclusive, no qual a alimentação é incluída no preço da diária. Como o centro pode ser visitado a pé, os gastos praticamente se resumem à diária do hotel, que custa entre 250 e 300 reais. A viagem só fica mais cara se o viajante optar por alguns passeios, como mergulho, por exemplo. De qualquer forma, é um dos destinos mais acessíveis no Caribe. As companhias aéreas também costumam fazer promoções em baixa temporada, vendendo passagens por 1.200 reais ida e volta.
  • 4. Cairo - Egito

    4 /17(Thinkstock/Donyanedomam)

    Custo diário: R$ 56,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 3.574,41 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: O tíquete avulso de metrô custa 39 centavos e a maioria das atrações, assim como o jantar e as diárias de albergues, saem por menos de 25 reais. A entrada na Pirâmide de Khafre, por exemplo, sai por 9,95 reais e a entrada no platô de Gizé, que inclui visitas a três pirâmides e sete tumbas custa 19,91 reais.
  • 5. Montevidéu - Uruguai

    5 /17(Thinkstock)

    Custo diário: R$ 94,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 961,82 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Montevidéu é uma cidade que tem muita história, uma arquitetura encantadora, ruas arborizadas e belas paisagens, portanto algumas das principais atrações turísticas não são pagas, o que já representa uma boa economia. Albergues ficam na faixa de 55 reais a diária e hotéis quatro estrelas têm diárias de 300 reais por casal. Também vale ressaltar que o preço da passagem é o segundo menor da lista.
  • 6. Bogotá - Colômbia

    6 /17(Thinkstock/DC_Colombia)

    Custo diário: R$ 56,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo): R$ 1.426,12 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Bogotá se destaca pelo intenso movimento literário e por unir o moderno e o tradicional em seus costumes e na arquitetura. A hospedagem e as atrações na cidade são baratas, assim como a alimentação. É possível gastar 30 reais por diária nos albergues e jantar com 15 reais, sem precisar se restringir a lanches.
  • 7. Cracóvia - Polônia

    7 /17(Thinkstock/ViewApart)

    Custo diário: R$ 68,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 3.944,59 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Cracóvia é uma das opções de destino mais baratas do leste europeu. O custo de vida da cidade é bem baixo. De acordo com o Índice BigMac, da revista The Economist, o BigMac na Polônia sai por 2,48 dólares, enquanto nos Estados Unidos o sanduíche é vendido por 4,78 dólares e por 5,48 dólares no Brasil. Os gastos com alimentação, transporte e hospedagem são bem baixos e a maioria dos hotéis estrelados custa menos de 170 reais a diária.
  • 8. Quito - Equador

    8 /17(Thinkstock/demarfa)

    Custo diário: R$ 96,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 2.002,64 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: O transporte público custa 75 centavos e as atrações saem por menos de 20 reais. A alimentação já não é tão barata, um jantar sai por 27 reais, mas os preços das acomodações são bem atrativos, as diárias em albergues saem por 30 reais, em média, e é possível encontrar apartamentos para alugar por 50 reais a diária. *Conforme mencionado no início da matéria, apesar de o dólar ser a principal moeda usada no Equador, o custo baixo de Quito permite que a cidade seja considerada uma alternativa a outras que também usam o dólar, mas são mais caras.
  • 9. Nova Délhi - Índia

    9 /17(Thinkstock/saiko3p)

    Custo diário: R$ 70,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 4.005,28 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Em Délhi, as atrações turísticas custam menos de 15 reais, como a visita à Tumba de Humayun, que sai por 11,90 reais. Algumas opções de albergues custam menos de 20 reais a diária e mesmo quem busca uma estadia com mais conforto encontra preços acessíveis: alguns hotéis de luxo têm diárias de 110 reais.
  • 10. Bali - Indonésia

    10 /17(Thinkstock/Klaus Hollitzer)

    Custo diário: R$ 88,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 4.399,73 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Bali tem baixo custo de alimentação e atrações turísticas belíssimas com preços convidativos, ou até mesmo gratuitas, já que as praias e as paisagens formadas pelas plantações de arroz são atrações à parte e não exigem ingressos. Também é possível encontrar hotéis de quatro e cinco estrelas por 130 reais a diária. São preços que compensam a passagem aérea mais cara.
  • 11. São Petersburgo - Rússia

    11 /17(Thinkstock/Sergei Butorin)

    Custo diário: R$ 70,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 4.248,02 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: São Petesburgo é uma cidade com alimentação barata - com jantares que custam menos de 20 reais - e as atrações turísticas, que são lindas, custam todas menos de 35 reais, sendo que a maioria fica em torno de 20 reais. A entrada no Museu Hermitage, por exemplo, que é um dos mais completos do mundo em arte ocidental, custa 24,48 reais. O transporte também é bem barato, um tíquete do metrô que inclui dez viagens sai por 18 reais.
  • 12. Bangcoc - Tailândia

    12 /17(Thinkstock/luamduan)

    Custo diário: R$ 74,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 4.809,12 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: O ônibus turístico de Bangcoc é barato, custa 63 reais e passa pelos principais pontos turísticos, e o quilômetro da tarifa de táxi sai por menos de 1 real. A alimentação também tem um bom preço, um jantar pode custar 20 reais. À exceção do principal templo, Wat Phra Kaew, os ingressos dos outros templos custam menos de 10 reais, como o do templo Wat Arun (foto). O preço da passagem aérea, no entanto, é o maior da lista, o que pode tornar a viagem inviável para quem não tem algumas boas milhas acumuladas.
  • 13. Cartagena - Colômbia

    13 /17(Thinkstock/Gary Tognoni)

    Custo diário: R$ 74,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 1.863,53 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Os principais atrativos de Cartagena das ìndias são suas praias e a arquitetura, que podem ser apreciadas sem nenhum custo. Suas casas coloridas e a beleza natural levaram a cidade a ser considerada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco. As atrações turísticas pagas também não são caras, custam menos de 20 reais, e os tours para ilhas paradisíacas da região custam cerca de 70 reais. A hospedagem em hotéis cinco estrelas, frente ao mar, sai por 315 reais o casal, um ótimo preço.
  • 14. Lima - Peru

    14 /17(Thinkstock/Maria Pavlova)

    Custo diário: R$ 80,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo): R$ 1.517,15 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: O jantar em Lima custa menos de 25 reais, em média, e as diárias em albergues saem por menos de 30 reais. Um apartamento no bairro de Miraflores, um dos mais badalados da cidade, com parques repletos de flores e diversas opções de bares e restaurantes, tem diária de 140 reais e acomoda quatro pessoas (35 reais por cabeça).
  • 15. Mendoza - Argentina

    15 /17(Martin Isaac/Thinkstock)

    Custo diário: R$ 84,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 1.365,43 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Uma das principais atrações de Mendoza, o Parque Provincial Aconcágua, tem entrada livre para qualquer visitante. Ele abriga o monte Aconcágua, que tem 6.962 metros e é conhecido como “teto das Américas” por ser o ponto mais alto do continente e do hemisfério ocidental. O preço médio do jantar é baixo, de 20 reais, e o bilhete de ônibus custa apenas 1,19 real. As diárias em albergues custam menos de 40 reais e a degustação de vinhos na Adega Pulenta Estate sai por  27,15 reais.
  • 16. Istambul - Turquia

    16 /17(Thinkstock/silverjohn)

    Custo diário: R$ 87,00 Preço médio das passagens de ida e volta (a partir de São Paulo) : R$ 3.155,67 Por que o destino está na lista, segundo o Quanto Custa Viajar: Istambul é a única cidade do mundo dividida entre dois continentes, Europa e Ásia. Essa divisão entre o Oriente e o Ocidente se reflete em seus costumes e na arquitetura. Por um lado, a cidade é marcada pelas mesquitas, palácios e igrejas históricos; por outro, surpreende com ruas e restaurantes agitados e modernos. Apesar de a passagem aérea ser mais cara, as atrações saem por menos de 30 reais e a alimentação é barata, os jantares custam menos de 25 reais em média. A cidade também tem opções de albergues por menos de 30 reais a diária.
  • 17. Agora veja como garimpar promoções

    17 /17(andercism/Photopin)

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