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Saiba o que fazer se a crise reduziu sua poupança para a aposentadoria

Especialistas mostram que, mesmo com perdas, é possível se aposentar a curto prazo e manter o padrão de vida

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Após uma vida inteira de trabalho, muita gente viu o sonho da aposentadoria ser estragado ou, no mínimo, adiado pela crise financeira mundial. Quem investiu as economias na Bolsa ao longo dos anos para engordar o patrimônio e poder desfrutar a velhice com sossego e conforto, mas não tomou o cuidado de reduzir a exposição ao risco conforme o dia da aposentadoria se aproximava, neste momento deve estar amargando perdas que podem chegar à metade de tudo o que foi poupado.

No intervalo de cinco meses entre maio e outubro de 2008, o principal índice de ações da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) despencou quase 60%, oscilando do pico histórico de 73 mil pontos até os 29 mil pontos, mesmo nível de quatro anos atrás. De lá para cá, a situação melhorou um pouco e a Bolsa recuperou parte das perdas.

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Os especialistas são unânimes em afirmar que a previdência é um investimento de longo prazo e, por isso, permite que parte dos recursos seja acumulada em aplicações de renda variável para impulsionar o crescimento dos recursos que servirão de base para a aposentadoria. O diretor da consultoria Finplan, Rogerio Bastos, lembra que grandes oscilações como a que ocorreu em 2008 tendem a ser corrigidas com o passar dos anos. “O tombo foi grande, mas no longo prazo - e neste caso estamos falando de períodos de mais de 10 anos - a Bolsa sempre mostra uma performance superior a outros investimentos.”

Porém, quando se aproxima o momento da aposentadoria, a exposição ao risco deve ser reduzida justamente para evitar que o grande volume de capital acumulado durante a vida fique sujeito às oscilações bruscas do mercado. “Não faz sentido para uma pessoa que vai se aposentar estar exposto a tanto risco. A prioridade deve ser a preservação do patrimônio”, alerta o diretor de investimentos do Banque Safdié, Otávio Vieira. “O ideal é que nessa altura da vida, a pessoa tenha, no máximo, 20% do patrimônio em ações.”

Se o investidor não seguiu a regra básica de aumentar a proteção de seu dinheiro com o passar dos anos, o consultor Gustavo Cerbasi recomenda uma reavaliação dos planos. “Para quem não fez a lição de casa lá atrás, talvez o melhor seja refazer as contas, estimar uma nova data para a aposentadoria e arregaçar as mangas. Durante essa ‘hora extra’ é provável que as aplicações também reajam.”

Porém, nem todos podem esticar a vida profissional, seja devido às restrições impostas pelas empresas ou por questões pessoais. Depois de tantos anos no batente, o desejo pelo descanso e por qualidade de vida também falam mais alto. “A preocupação com o dinheiro afeta muito a saúde das pessoas. Ninguém gosta de engolir prejuízo”, afirma o consultor Fabiano Calil.

Mas mesmo no caso em que o investidor tinha muito dinheiro na Bolsa, os especialistas afirmam que é possível seguir o plano inicial de se aposentar a curto prazo e manter o padrão de vida, desde que sejam tomados alguns cuidados com relação aos investimentos daqui para frente.

O que fazer

A decisão do que fazer com o próprio dinheiro é sempre muito pessoal, especialmente quando os recursos dizem respeito à aposentadoria e à manutenção do padrão de vida, afirmam os especialistas. É preciso levar em conta uma série de fatores, como a idade da pessoa, o perfil profissional, as características da família e os planos pessoais. “Um homem de 55 anos tem, em geral, um prazo maior para acumular recursos do que outro que já esteja com 65. Já a perspectiva profissional de um jogador de futebol termina aos 40”, exemplifica Calil.

Mas o ponto de consenso é a questão da exposição ao risco. Quanto mais próximo do momento da aposentadoria, menor deve ser o risco das aplicações para garantir a preservação do patrimônio. “A composição da carteira precisa ser dinâmica, reduzindo a exposição conforme a idade avança”, explica o professor Luiz Augusto Ferreira Carneiro, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

A partir dessa premissa, foram considerados três casos hipotéticos de distribuição dos recursos no momento anterior à crise mundial. Nas três situações o investidor é um homem, funcionário de empresa privada, na faixa dos 60 anos.

Na melhor situação, o investidor conservador possui apenas 10% de recursos em renda variável, que podem ser ações, fundos de ações ou ainda fundos de previdência com parcela de renda variável. Os outros 90% estão em aplicações de renda fixa. A hipótese intermediária ou moderada considera 50% do patrimônio em renda variável. O terceiro e pior cenário é do investidor agressivo, que aplicou 80% do seu dinheiro na Bolsa e apenas 20% em renda fixa.

Tomando-se como base uma queda de 50% nos investimentos de renda variável desde a crise e uma alta de 10% para a parcela de renda fixa, a evolução do patrimônio seria a seguinte:

Conservador
Mesmo com a crise, o patrimônio desse investidor cresceu cerca de 4% de um ano para o outro. “Ele fez o correto até aqui. É uma época da vida que temos que ser extremamente conservadores”, salienta Carneiro. O economista Sergio Manoel Correia, da LLA Investimentos, também considera a situação desse investidor bastante confortável. “Como a parcela de investimentos em renda variável é pequena, a pessoa só precisará desse dinheiro lá na frente para compor sua renda. Então, ela pode esperar a recuperação das ações e ir vendendo aos poucos, em vez de realizar prejuízo agora.”

Moderado
Passada a turbulência, o capital total do investidor moderado foi reduzido em 20%. Embora não seja uma boa situação, os especialistas avaliam que é possível reverter o quadro e ainda garantir o padrão de vida atual após a aposentadoria, sem precisar postergar os planos. “Quem tem reservas em renda fixa suficientes para viver pelo menos os próximos cinco anos, pode se aposentar agora”, afirma Bastos. Nesse meio tempo, os investimentos em renda variável poderão se recuperar e deverão ser progressivamente convertidos em renda fixa, explica o consultor. O investidor deverá aguardar até que as perdas das ações sejam zeradas. A partir de então, ele poderá se desfazer dos papéis à medida que o rendimento alcance o equivalente ao CDI mais 10% ao ano, explica Correia. “Realizar prejuízo só em último caso”, acrescenta Vieira. Agora, se a pessoa depender dos recursos que estão em renda variável para garantir seu padrão atual de renda nos próximos cinco anos, então o melhor é tentar adiar a aposentadoria.

Agressivo
A situação do investidor agressivo é a que exige maior sacrifício. Após a crise, ele tem apenas 62% do que havia economizado até o começo do ano passado. “Esse investidor de 60 anos está com uma exposição compatível a de um jovem de 18 anos, que tem pelos menos 40 anos para juntar sua aposentadoria”, repreende Carneiro, da Fipecafi. “Quem errou lá atrás, agora terá de assumir uma posição responsável. Não adianta jogar na roleta de novo.” Segundo o professor, esse investidor terá de vender a maior parte das ações e assumir o prejuízo. O consultor Gustavo Cerbasi também apoia a venda das ações a curto prazo. “O investidor pode fazer isso aproveitando alguns picos do mercado para minimizar as perdas. Um bom dia para resgatar fundos e vender ações é quando notamos um pico de valorização diária da ordem de 3% ou mais.” Fabiano Calil observa que a reversão da estratégia agressiva para conservadora pode ter um impacto na renda a curto prazo. Colocando o dinheiro na renda fixa, o investidor poderá recuperar as perdas em sete anos, considerando a manutenção dos juros na faixa dos 12% ao ano, como atualmente. “Essa expectativa só não se confirma se os juros no Brasil caírem muito.”

Veja algumas lições da crise para todos os perfis de investidor:

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