Milionários se preparam para o pior nos investimentos
Pesquisa do Citi Private Bank mostra que os clientes endinheirados estão muito mais preocupados em preservar o capital do que em multiplicá-lo
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2012 às 09h28.
São Paulo – Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo Citi Private Bank (divisão que atende os clientes de alta renda do banco americano) e pela imobiliária Knight Frank mapeou os investimentos dos clientes milionários ao redor do mundo e chegou a conclusões nada animadores. Ao menos do ponto de vista dos investimentos, os endinheirados têm se mostrado muito mais interessados na preservação do capital do que em sua multiplicação.
Os responsáveis pela pesquisa “Wealth Report 2012: A Global Perspectiva on Prime Property and Wealth” chegaram a essa conclusão ao examinar os portfólios de investimento de milhares de clientes. Seja no mercado financeiro ou no imobiliário, o dinheiro migrou de ativos considerados mais arriscados para outros mais seguros.
Para Malay Ghatak, Philip Watson e Richard Cookson, três dos principais gestores de investimentos do Citi Private Bank, trata-se de uma mudança estrutural que começou no auge da crise de 2008 e que tem se acentuado desde então. “O foco ainda é na redução de risco, aumento da transparência e melhoria da liquidez”, escreveu Malay Ghatak, chefe de investimentos para mercados emergentes do banco.
A crise de 2008 pregou vários sustos nos investidores. De perdas bilionárias com papéis hipotecárias a esquemas de pirâmides como o montado por Bernard Madoff, várias surpresas negativas abalaram a confiança dos milionários. “Os clientes estão perguntando como nunca e querem saber sobre os riscos de seus portfólios em detalhes”, afirmou Ghatak.
Outro sinal de cautela está no fato de que os ativos de risco têm cada vez menor peso nas carteiras de investimentos. Muito dinheiro tem sido mantido em caixa – sem remuneração nenhuma. Outra preferência recai sobre títulos públicos das maiores economias do mundo, como Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. Ainda que esses papéis paguem juros baixíssimos (ao redor de 2% ao ano para papéis de 10 anos), o risco baixo de calote é o que tem mais pesado nas escolhas.
Nada demonstra melhor essa tendência de que os títulos públicos japoneses de 30 anos. Os juros pagos por esses papéis chegaram a ser os menores da história mundial: 0,91% ao ano. O recorde anterior de baixa havia sido cravado quase 500 anos antes, quando os títulos emitidos por Gênova, na Itália, pagaram juros de 1,125% ao ano.
A prudência dos japoneses é acentuada pelo fato de que a bolsa de Tóquio registra desvalorização nas últimas duas décadas – ainda que tenham ocorrido alguns momentos de ganhos nesse período. Diante de resultados tão pífios, o japonês prefere ganhar menos de 1% ao ano com suas economias do que perder capital no mercado acionário.
Outra demonstração do cuidado generalizado vem da Suíça. Em 2012, os títulos helvéticos de 30 anos também passaram a pagar juros inferiores a 1% ao ano.
Pode parecer paradoxal, mas quem comprou títulos públicos americanos, suíços ou japoneses no começo de 2011, quando os juros eram mais altos, ganhou um bom dinheiro. Sempre que as taxas pagas por um papel caem, seu valor de face sobe. O ganho dos milionário veio, portanto, muito mais do aumento do preço unitário dos papéis do que das taxas de juros pagas por eles.
O ouro foi outro “porto seguro” que entrou na carteira de praticamente todos os milionários atendidos pelo Citi. “Nós achamos que o ouro vai permanecer no foco da comunidade de investidores enquanto as incertezas sobre a economia mundial e os estímulos fiscais dos governos continuarem em cena”, escreveu Ghatak.
Em relação aos papéis privados, os milionário têm demonstrado uma clara preferência por títulos de renda fixa de grandes companhias em detrimento de ações das mesmas empresas. Os poucos setores que se destacaram na bolsa foram os de alimentos, saúde e telecomunicações. Todo são considerados defensivos por especialistas porque pouca gente adia ou reduz esse tipo de consumo mesmo diante de uma grave crise internacional.
Outro destaque da bolsa foram os papéis bons pagadores de dividendos, que superaram a média de quase todos os mercados acionários no planeta. A busca dos investidores por ações de empresas que atuam em economias que ainda crescem também motivou uma grande diferença de preços de ativos ao redor do mundo.
No Japão, as ações são negociadas em média por menos do que o valor patrimonial. Na Europa, as empresas são negociadas a 11 vezes o valor do lucro líquido. O índice é a metade do registrado nas bolsas americanas. Da mesma forma, enquanto as ações europeias são negociadas pelo valor patrimonial, as empresas americanas valem duas vezes o patrimônio líquido. Os números são um sinal claro da falta de apetite por ativos de risco na Europa ou no Japão.
No mercado de câmbio, os milionários optaram por ficar vendidos em euro durante boa parte de 2011 devido à crise da União Europeia. Também demonstraram interesse por moedas de mercados emergentes e países escandinavos – ainda que a liquidez do mercado mundial de câmbio esteja concentrada em euros, dólares e ienes.
São Paulo – Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo Citi Private Bank (divisão que atende os clientes de alta renda do banco americano) e pela imobiliária Knight Frank mapeou os investimentos dos clientes milionários ao redor do mundo e chegou a conclusões nada animadores. Ao menos do ponto de vista dos investimentos, os endinheirados têm se mostrado muito mais interessados na preservação do capital do que em sua multiplicação.
Os responsáveis pela pesquisa “Wealth Report 2012: A Global Perspectiva on Prime Property and Wealth” chegaram a essa conclusão ao examinar os portfólios de investimento de milhares de clientes. Seja no mercado financeiro ou no imobiliário, o dinheiro migrou de ativos considerados mais arriscados para outros mais seguros.
Para Malay Ghatak, Philip Watson e Richard Cookson, três dos principais gestores de investimentos do Citi Private Bank, trata-se de uma mudança estrutural que começou no auge da crise de 2008 e que tem se acentuado desde então. “O foco ainda é na redução de risco, aumento da transparência e melhoria da liquidez”, escreveu Malay Ghatak, chefe de investimentos para mercados emergentes do banco.
A crise de 2008 pregou vários sustos nos investidores. De perdas bilionárias com papéis hipotecárias a esquemas de pirâmides como o montado por Bernard Madoff, várias surpresas negativas abalaram a confiança dos milionários. “Os clientes estão perguntando como nunca e querem saber sobre os riscos de seus portfólios em detalhes”, afirmou Ghatak.
Outro sinal de cautela está no fato de que os ativos de risco têm cada vez menor peso nas carteiras de investimentos. Muito dinheiro tem sido mantido em caixa – sem remuneração nenhuma. Outra preferência recai sobre títulos públicos das maiores economias do mundo, como Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. Ainda que esses papéis paguem juros baixíssimos (ao redor de 2% ao ano para papéis de 10 anos), o risco baixo de calote é o que tem mais pesado nas escolhas.
Nada demonstra melhor essa tendência de que os títulos públicos japoneses de 30 anos. Os juros pagos por esses papéis chegaram a ser os menores da história mundial: 0,91% ao ano. O recorde anterior de baixa havia sido cravado quase 500 anos antes, quando os títulos emitidos por Gênova, na Itália, pagaram juros de 1,125% ao ano.
A prudência dos japoneses é acentuada pelo fato de que a bolsa de Tóquio registra desvalorização nas últimas duas décadas – ainda que tenham ocorrido alguns momentos de ganhos nesse período. Diante de resultados tão pífios, o japonês prefere ganhar menos de 1% ao ano com suas economias do que perder capital no mercado acionário.
Outra demonstração do cuidado generalizado vem da Suíça. Em 2012, os títulos helvéticos de 30 anos também passaram a pagar juros inferiores a 1% ao ano.
Pode parecer paradoxal, mas quem comprou títulos públicos americanos, suíços ou japoneses no começo de 2011, quando os juros eram mais altos, ganhou um bom dinheiro. Sempre que as taxas pagas por um papel caem, seu valor de face sobe. O ganho dos milionário veio, portanto, muito mais do aumento do preço unitário dos papéis do que das taxas de juros pagas por eles.
O ouro foi outro “porto seguro” que entrou na carteira de praticamente todos os milionários atendidos pelo Citi. “Nós achamos que o ouro vai permanecer no foco da comunidade de investidores enquanto as incertezas sobre a economia mundial e os estímulos fiscais dos governos continuarem em cena”, escreveu Ghatak.
Em relação aos papéis privados, os milionário têm demonstrado uma clara preferência por títulos de renda fixa de grandes companhias em detrimento de ações das mesmas empresas. Os poucos setores que se destacaram na bolsa foram os de alimentos, saúde e telecomunicações. Todo são considerados defensivos por especialistas porque pouca gente adia ou reduz esse tipo de consumo mesmo diante de uma grave crise internacional.
Outro destaque da bolsa foram os papéis bons pagadores de dividendos, que superaram a média de quase todos os mercados acionários no planeta. A busca dos investidores por ações de empresas que atuam em economias que ainda crescem também motivou uma grande diferença de preços de ativos ao redor do mundo.
No Japão, as ações são negociadas em média por menos do que o valor patrimonial. Na Europa, as empresas são negociadas a 11 vezes o valor do lucro líquido. O índice é a metade do registrado nas bolsas americanas. Da mesma forma, enquanto as ações europeias são negociadas pelo valor patrimonial, as empresas americanas valem duas vezes o patrimônio líquido. Os números são um sinal claro da falta de apetite por ativos de risco na Europa ou no Japão.
No mercado de câmbio, os milionários optaram por ficar vendidos em euro durante boa parte de 2011 devido à crise da União Europeia. Também demonstraram interesse por moedas de mercados emergentes e países escandinavos – ainda que a liquidez do mercado mundial de câmbio esteja concentrada em euros, dólares e ienes.