Lucros dos bancos, impostos e inadimplência impedem queda do spread
Elevação recente da Selic volta a acionar um círculo vicioso em que a retração da economia gera mais risco e torna ainda mais difícil o barateamento do crédito, condição para a expansão da economia
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Os altos spreads bancários vão continuar, sem perspectiva de redução mesmo no médio prazo. Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), um lento processo de queda da diferença entre o custo de captação e o que os bancos cobram dos tomadores de empréstimos será interrompido daqui para a frente, por conta do círculo vicioso acionado a cada nova alta da taxa básica de juros da economia.
O juro básico mais alto aumenta o risco, explica Oliveira, porque retrai a economia. Com riscos maiores, os bancos tornam-se mais seletivos na concessão de crédito e puxam para cima suas margens de segurança contra a inadimplência de 12,8% no segmento de pessoas físicas, 3,5% nas operações com empresas e 7,2% na média, segundo os últimos dados do Banco Central (BC).
Uma oferta escassa de crédito, combinada com a alta demanda por financiamento que caracteriza a economia brasileira as operações de crédito correspondem a 26,4% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto atingem 60% no Chile, por exemplo , é sinônimo de crédito mais caro. Ao mesmo tempo, com papéis públicos atrelados à Selic remunerando melhor (eles são 52,93% do total da dívida pública), as instituições financeiras retiram recursos do financimento do setor produtivo e do consumidor para alocar em tesouraria, já que financiar o governo torna-se, flagrantemente, melhor negócio.
Já antes doaumento da Selic, houve um incremento de 0,3 ponto percentual no spread bancário médio do mercado, que atingiu 27,5 pontos percentuais em agosto, segundo o BC, com um custo médio das operações de crédito com recursos livres mantendo o mesmo patamar de julho, em 43,9% ao ano. Com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em 15/9, essa tendência deve se intensificar.
A dificuldade para baixar o spread pode ser atribuída, diz Oliveira, a persistentes deficiências institucionais, como a falta de diferenciação dos bons e maus pagadores, apesar da criação recente do chamadocadastro positivo. Além dessa pressão do risco, os demais componentes do spread também seguem em alta, diz Oliveira. No quesito tributário, o percentual de impostos que incide sobre o resultado operacional dos bancos passou de 25% em 2002 para 34% em 2004 (leia reportagem da revista EXAME sobre o peso crescente dos impostos sobre o resultado dos bancos).
Para Roberto Luiz Troster, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), essa é a grande omissão no debate público em torno do custo do crédito no país. "Mesmo zerando Selic, inadimplência, remuneração do investidor, custo e lucro do banco, se você isolar apenas os custos tributários de uma operação de um mês, terá 29,4%." O economista também menciona a morosidade e politização das decisões do Judiciário em geral e a inexigibilidade do principal para questionar juros como entraves legais ao barateamento do crédito no Brasil.
Mas Oliveira, da Anefac, lembra que também o lucro dos bancos vem crescendo, graças a dois fatores opostos em sua natureza. Um é o clássico fenômeno da demanda maior que a oferta, que dá espaço para ganhos mais folgados. O outro é uma falha de mercado: a concorrência insuficiente do mercado. O barateamento do crédito estanca no limite imposto pela expectativa dos investidores quanto ao retorno dos bancos. Como os investidores das diferentes instituições almejam o mesmo rendimento, um acordo tácito no mercado torna proibitivo a redução drástica da margem de lucro. Em média, o retorno dos bancos é de 25% sobre o patrimônio líquido. Para se ter uma idéia, o retorno médio das500 maiores empresasdo Brasil é de 12,4%.