Itaú Unibanco gera dúvidas sobre modelo de resolução de conflitos
Analistas mostram cautela sobre a forma como eventuais divergências serão resolvidas pelos criadores do maior banco brasileiro
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Apresentada como uma união cordial de forças para criar uma potência verde-amarela capaz de se transformar em uma multinacional financeira, a fusão do Itaú com o Unibanco gerou dúvidas entre os analistas sobre como serão administrados os eventuais conflitos na direção do novo banco. Mesmo a boa vontade demonstrada entre os dois líderes da fusão - Roberto Setubal, pelo Itaú, e Pedro Moreira Salles, pelo Unibanco - não exime o negócio das previsíveis controvérsias surgidas no dia-a-dia da gestão de um negócio desse porte. Um ponto mais importante é que, no desenho final, a Itaúsa, que reúne os interesses dos controladores do Itaú, terá 61% das ações ordinárias da Itaú Unibanco Holding.
A Itaúsa deterá metade das ações ordinárias da IU Participações, dividindo o controle dessa empresa não-financeira com a família Moreira Salles. A IU Participações, por sua vez, controlará 51% das ordinárias da Itaú Unibanco Holding - o grupo que será criado a partir da fusão dos dois bancos. Se o desenho societário parasse por aqui, as famílias Setubal e Villela, de um lado, e Moreira Salles, de outro, dividiriam efetivamente o controle do grupo. Mas a Itaúsa também deterá, diretamente, 36% das ordinárias da nova holding. E, nas contas dos analistas, isso resulta em uma participação direta e indireta de 61% das ordinárias no novo grupo. Um peso capaz de dissuadir qualquer controvérsia, se assim se desejar.
Durante a teleconferência com analistas de mercado, nesta terça-feira (4/11), Setubal e Moreira Salles procuraram demonstrar confiança na solidez de sua relação. "Concordamos em concordar sempre", afirmou Setubal, ao ser perguntado sobre como será o processo de decisão dentro do novo grupo. Segundo o banqueiro, o acordo não contém nenhuma cláusula de resolução de conflitos. O modelo de gestão será importado do Itaú. "Temos de usar o bom senso e buscar o consenso sempre. A cláusula não existe no Itaú e não teria porquê existir aqui", completou Moreira Salles.
A estrutura administrativa contará com um conselho de administração com 14 membros. Destes, os controladores da Itaúsa e da Unibanco Holdings indicarão seis conselheiros. Os oito membros restantes serão independentes. O presidente do conselho será Pedro Moreira Salles. E o presidente executivo do grupo, Roberto Setubal.
Sinergias
Os analistas também insistiram nas perguntas sobre eventuais ganhos de sinergia. De concreto, os criadores do megabanco brasileiro afirmaram que ainda não fizeram as contas para saber quanto a fusão gerará em economias. Adiantaram, porém, que alguns ganhos óbvios virão da área de tecnologia, com a compra conjunta de sistemas, economia no pagamento de royalties e otimização do centro de processamento de dados. "A parte de tecnologia tem um peso relevante nos custos de um banco", afirmou Setubal.
Ambos reforçaram que não pretendem fechar agências após a fusão. O negócio criará um banco com 4.800 pontos de atendimento. Segundo Setubal, as agências existentes já estão trabalhando em sua capacidade máxima, e, por isso, não teriam condições de acomodar clientes transferidos de pontos eventualmente fechados. No caso do Itaú, o banqueiro afirmou que a instituição já está até abrindo agências próximas às mais antigas, para acomodar a demanda crescente. "A melhoria dos resultados não virá do fechamento de agências", disse.
Eles reforçaram que a vocação do novo banco é a expansão internacional. "Por ter tantos profissionais brilhantes no setor financeiro, eu estranho que até agora não tenha nascido um banco brasileiro desse porte", afirmou Moreira Salles. Entre os mercados visados, estão países da América Latina, como Chile, Colômbia, Peru e México. "Mas não descartamos negócios fora da América Latina", disse Setubal.