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Investir em ações conservadoras também é arriscado

No momento de recuperação da Bolsa, papéis devem subir menos e investidor que não mudar de estratégia deixará de ganhar

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 20h37.

Há um consenso entre os analistas de que os melhores setores para investimento na Bolsa atualmente são aqueles menos sensíveis ao mercado externo, como energia elétrica, telecomunicações e saneamento básico. Esses setores, dizem os especialistas, além de pagar bons dividendos, apresentam maior previsibilidade de fluxo de caixa e menor exposição à variação cambial - o que lhes garante menor volatilidade na Bolsa. Porém, da mesma forma que essas ações perdem menos em épocas de baixa, também oferecem ganhos menores em tempos de alta.

Embora nenhum analista arrisque dizer quando a Bolsa voltará a subir, todos ressaltam que em algum momento entre o segundo semestre de 2009 e o ano de 2010 haverá uma recuperação. "Nessa hora, quem estiver posicionado em ações conservadoras deixará de ganhar e poderá até perder dinheiro", diz o estrategista da consultoria Lopes Filho, Carlos Manuel Pereira de Sousa.

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Em relatório, o Santander aconselha seus clientes a começarem 2009 posicionados em ações defensivas, mas a se prepararem para mudar de estratégia ainda no primeiro semestre. Para a instituição, os papéis de empresas focadas no mercado doméstico devem trazer melhor retorno que aqueles de companhias voltadas para o mercado externo. Por isso, as indicações se concentram em construção, varejo e bancos.

Num primeiro momento, entretanto, é esperada uma alta mais acentuada das ações mais líquidas, como as de Vale, Petrobras e siderúrgicas. Os primeiros pregões deste ano dão uma ideia do que deve acontecer quando o mercado recobrar o fôlego. Em três dias de negociações, as ações de CSN ( CSNA3 ), Vale ( VALE5 ) e Petrobras ( PETR4 ) dispararam 26,2%, 21,2% e 12,8% respectivamente. No período, os investidores estrangeiros voltaram à Bovespa e aplicaram 961 milhões de reais, impulsionando os negócios. "O que vai nortear o mercado nos próximos meses é o fluxo de investimentos", diz Sousa.

Por enquanto, o cenário continua nebuloso e a velocidade de entrada e saída dos recursos é tão rápida que não permite análises de longo prazo. São muitas as variáveis que podem interferir nos preços das ações e, apesar de os analistas acreditarem que o pior da crise já passou, ninguém descarta novas perdas. "O Brasil nunca esteve tão bem preparado para enfrentar uma crise, mas não existe descolamento. Se a situação piorar lá fora, isso terá reflexos aqui", afirma o superintendente da Banif Corretora, Raffi Dokuzian.

A expectativa agora gira em torno dos efeitos do plano de socorro aos Estados Unidos a ser desenvolvido por Barack Obama e do impacto do corte nos juros brasileiros, previsto para ter início neste mês. "Pode ser que no segundo semestre o cenário não seja muito diferente do atual, mas só o fato de se ter uma situação mais clara já será positivo", diz Felipe Casotti, diretor de Renda Varial da Máxima Asset Management.

Se ainda pode piorar, por que ficar?

Já que ninguém espera uma recuperação no primeiro semestre, parece lógico manter-se longe da Bolsa no período e retornar apenas na segunda metade do ano. Essa estratégia, no entanto, é apontada como extremamente arriscada pelos analistas por dois motivos: primeiro porque quem entrou no mercado quando as ações estavam com preços superiores aos atuais vai realizar um prejuízo que talvez possa ser evitado. E, segundo, porque há a possibilidade de que sejam feitos ajustes positivos nos preços - e quem sair perderá os ganhos.

Como o mercado antecipa a economia real, tudo o que se vê hoje e o que se espera para os próximos meses já está precificado. Na avaliação de Pedro Lérias, gestor de Carteiras da Verax Serviços Financeiros, a desvalorização muito acentuada de alguns setores em 2008 - como o de construção, que caiu mais de 70% - mostra que a realidade pode se apresentar menos ruim do que se previa.

Além disso, com a entrada de 2009, os gestores de recursos terão de enfrentar novas metas e refazer suas estratégias. Isso pode reforçar a entrada de investimentos no Brasil e dar ânimo aos negócios na Bolsa. "Como os juros lá fora estão praticamente zerados, os gestores terão de avaliar outras opções para performar. E o Brasil pode ser uma delas", diz Dokuzian. Segundo Lérias, após o escândalo envolvendo o ex-presidente da Nasdaq, Bernard Madoff, os estrangeiros passaram a valorizar ainda mais mercados como o Brasil, que são bem regulamentados.

O que fazer?

Para os especialistas, o momento é de cautela. Quem está na Bolsa deve manter os investimentos e aproveitar para fazer uma autoanálise, checando se suas aplicações condizem com seus objetivos e tolerância a risco. "Tão importante quanto verificar se a participação de ações na carteira de investimentos está adequada é avaliar a reação à volatilidade. Muitos investidores com perfil agressivo não têm estrutura para suportar a variação brusca das ações. Nesse caso, é melhor rever a carteira, preferindo papéis menos voláteis", diz Lérias.

Já quem está fora do mercado acionário pode ir à caça de oportunidades. Nas carteiras sugeridas pelas corretoras há ações com estimativa de valorização de até 200% em 2009. "Quando há muito sobe-e-desce no mercado, as maiores chances de lucro se concentram no curto prazo. Comprou um papel e ele subiu, venda", sugere Casotti.

O início de um ciclo de alta na bolsa, de acordo com a estrategista e coordenadora de Análise de Investimento da corretora Fator, Lika Takahashi, geralmente começa quando ainda há muitos dados negativos sendo divulgados. Por isso é difícil saber o momento certo de trocar as ações conservadoras por outras mais agressivas. A sugestão do estrategista da Lopes Filho é ficar de olho nos dados da economia americana. "Ao primeiro sinal de retomada, mude sua estratégia", diz. Já Dokuzian é mais conservador. "Melhor aguardar um posicionamento mais consistente da Bolsa. Às vezes, é preferível deixar de ganhar que voltar a perder", diz.

A previsão dos especialistas
Ibovespa (dez/09)
Ágora48.600
Ativa61.000
Banif48.600
Fator51.000
Lopes Filho51.000
Planner44.000
Fonte: instituições
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