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Imóveis: a onda do coliving veio para ficar?

Os apartamentos estão cada vez menores, e as áreas comuns, cada vez maiores. As construtoras garantem que faz sentido para um novo perfil de cliente

Imóveis: em São Paulo, um apartamento de 10 metros quadrados já é vendido a mais de 100.000 reais (Germano Lüders/Site Exame)
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EXAME Hoje

Publicado em 20 de setembro de 2017 às 16h47.

Última atualização em 20 de setembro de 2017 às 16h47.

“Um novo jeito de morar” é a expressão mais comum nos folhetos de divulgação dos novos, modernos, e minúsculos apartamentos em construção nas grandes cidades brasileiras . Apartamentos de 45, 30, 14 e até 10 metros quadrados. As áreas são cada vez menores, quanto a isso não há discussão. Mas, segundo as construtoras e imobiliárias, a metragem importará cada vez menos, pelo menos para um público específico. Será mesmo?

Em São Paulo, um apartamento de 10 metros quadrados já é vendido a mais de 100.000 reais. Os atrativos? Estar localizado no bairro de Higienópolis, região nobre da capital paulista, que oferece diversas opções gastronômicas, universidades e edifícios comerciais. E, claro, as áreas comuns, para o cliente fazer ginástica, lavar roupa ou fazer uma refeição junto com os vizinhos. É a tendência do coliving.

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A adaptação e a diminuição dos apartamentos é cada vez mais comum em grandes cidades. Junto, vem o discurso de que você não precisa viver com tudo dentro de casa, e pode compartilhar mais. Custa o preço de imóveis muito mais espaçosos. Em Londres, por exemplo, pessoas interessadas em morar na região de Old Oak, um bairro restaurado e com muitas opções de estações de trens e metrô, pagam por um quarto com cozinha compartilhada o aluguel de 1.000 libras por mês.

Em Staten Island, Nova York, a pessoa que desejar morar em um estúdio de três pequenos cômodos deverá desembolsar cerca de 1.830 dólares por mês. Os edifícios têm livraria, sala de jogos, cinema, biblioteca, lavanderia, sala de ginástica, spa, terraço, sala de jantar – mas tudo fora dos apartamentos, em áreas comuns.

Lucas Vargas, presidente do portal de Imóveis VivaReal explica que dois fatores contribuem para o crescimento da tendência de coliving. A primeira diz respeito ao comportamento das pessoas. É cada vez maior o número de pessoas com até 35 anos, solteiros e divorciados da classe média alta, por exemplo, que priorizam a localização e a praticidade na hora de morar.

Embora a localização seja um dos fatores que mais influenciam no preço de um imóvel, Vargas afirma que outros aspectos do mercado imobiliário também ajudam no preço “salgado” dessa tendência. Segundo a pesquisa da VivaReal, a demanda por apartamentos de até 50 metros quadrados, nos últimos dois anos, tem sido maior que a oferta. No último ano, a demanda por apartamentos de até 50 metros quadrados foi de 14%, enquanto a oferta não saiu do patamar dos 10%. Além disso, apartamentos menores são mais atrativos para investidores que pretendem alugar os imóveis. “O imóvel pequeno é muito mais buscado por executivos e estudantes que pretendem ficar por um tempo no local”, diz Vargas.

Dados da plataforma VivaReal mostram que mais de 190 construtoras já investem neste mercado. Somente neste ano, a plataforma recebeu 476 anúncios de apartamentos de até 50 metros quadrados, boa parte deles estilo co-living. E os anúncios não são somente de construtoras especializadas no mercado. Nomes como Brookfield, Gafisa e Eztec e MRV Engenharia, tradicionais no mercado da construção, aparecem entre as que têm lançado apartamentos menores com mais áreas comuns.

Um grande negócio

Em Porto Alegre, a incorporadora Wikhaus desenvolve os primeiros projetos de coliving no Brasil desde 2014. Eduardo Pricladnitzki, sócio fundador da Wikihaus, explica que a ideia de criar residências colaborativas nasceu na preocupação de montar empreendimentos no centro da cidade para o público jovem. Em fevereiro de 2016, por exemplo, a incorporadora realizou um Workshop em Porto Alegre (RS), para discutir, de forma colaborativa, a melhor maneira de morar em conjunto. Com as ideias recolhidas, a incorporadora restaurou o Cine Teatro Presidente, três meses depois, e o transformou em apartamentos e estúdios, com muitas áreas em comum. O edifício tem 58 unidades, e 60% dos apartamentos já foram comprados.

“Os jovens têm se preocupado cada vez menos em acumular, e querem ter acesso a tudo, mas com praticidade”, diz Eduardo Pricladnitzki. “No coliving, as lavanderias são coletivas, há uma sala de ferramentas compartilhadas, além de um salão de festa aberto 24 horas, e áreas de coworking”.

Além do comportamento, a mudança no zoneamento nas cidades grandes também foi um importante fator na adaptação das construções e das construtoras. Em São Paulo, a Lei de Zoneamento, que entrou em vigor em março do ano passado, tinha como objetivo principal distribuir as construções comerciais e residenciais nas mesmas áreas da cidade. Com isso, passou-se a pensar em apartamentos mais próximos aos eixos de transportes públicos, em regiões predominantemente comerciais, em que o morador tivesse mais acesso às lojas para suprir suas necessidades, sem necessitar de veículos particulares.

E a ideia propiciou a construção de apartamentos menores e com mais áreas comuns. Segundo Lucas Vargas, da VivaReal, essa mudança foi favorável para as construtoras, que podem cobrar mais pelo metro quadrado em apartamentos menores, e distribuem o custo de construção das áreas comuns para todos os compradores. “Normalmente um apartamento com espaço maior tem desconto no metro quadrado”, afirma.

Desta forma, as incorporadoras assumiram o lema de “reinventar as cidades”, e passaram a se focar na construção para este nicho. A Vitacon, por exemplo, é a incorporadora responsável pela construção do apartamento de 10 metros quadrados em Higienópolis, e de outros edifícios com o mesmo perfil na cidade de São Paulo.

Qual o tamanho desse nicho é a grande pergunta. A tendência já existe, e tem se apresentado cada vez mais forte nas cidades grandes do Brasil e do mundo. Porém, vale avaliar o limite do compartilhamento. Para Lucas Vargas, da VivaReal, a classe média alta, que é o público alvo das incorporadoras do coliving, pode não querer abrir mão de sua privacidade. “Existe a crença de que vamos cada vez mais compartilhar. Quando falamos de áreas de lavanderia, salão de festa, grandes áreas que tendem a ter a personalidade descaracterizada. Mas quando falamos de outros cômodos, a situação se torna menos confortável”, explica.

Para ele, o limite do compartilhamento pode emperrar no conforto e na personalização dos espaços. Vale acompanhar também se as áreas comuns de fato serão utilizadas, ou se ficaram a esmo. Mas só será possível de conferir daqui uns anos. Até lá, o coliving vai ser mais uma tendência imobiliária.

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