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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
Investir parece complicado à primeira vista. Jornais, revistas e sites de finanças pessoais oferecem uma enxurrada de informações. Há muitos caminhos possíveis. Aplicações de curto ou de longo prazo? Mais ou menos risco? Renda fixa ou renda variável? Não precisa se sentir confuso. Não é tão difícil quanto parece. Vamos explicar passo a passo como obter o máximo com o que você investe. Primeiro conceito: investir dinheiro não é a mesma coisa que poupar. Poupar é simplesmente deixar de gastar. Investir é colocar seu dinheiro para trabalhar para você. É "comprar" um produto financeiro - como uma caderneta de poupança, um fundo de investimento ou um certificado de depósito bancário (CDB) - para ganhar mais dinheiro.
Antes de começar, é preciso fazer um pequeno exercício de autoconhecimento e responder a três perguntas:
1. Quanto desse dinheiro você pode perder?> É isso mesmo: para ter lucro, você tem de se arriscar a ficar no prejuízo.
2. Quanto tempo você pode esperar? Não adianta aplicar um dinheiro que terá de sacar para pagar as contas daqui a três semanas. Você vai pagar taxas e impostos e provavelmente vai sair com menos do que entrou.
3. Quanto você tem para investir? Quem tem mais dinheiro pode escolher aplicações melhores e mais rentáveis.
Essas três perguntas englobam os três conceitos fundamentais do investimento: rentabilidade, risco e liquidez.
Rentabilidade é quanto o investidor ganha para cada real investido.
Risco é a probabilidade de você aplicar 1 real e, no vencimento, receber menos que isso. Maior a probabilidade, maior o risco.
Liquidez é a possibilidade de mudar o seu dinheiro de lugar sem prejudicar a rentabilidade.
Se o mundo fosse perfeito, todos os investimentos teriam alta rentabilidade, baixo risco e grande liquidez. Só que não é possível ter tudo, pois essas três características se excluem mutuamente. Rentabilidades maiores, por exemplo, significam que você está correndo mais riscos. Já a caderneta de poupança rende pouco, mas é o investimento mais seguro do mercado. Claro que essa segurança toda tem um preço. Nos últimos tempos, a poupança tem rendido pouco mais de 1% ao ano acima da inflação (veja gráfico ao lado).
Se você não se incomoda em fazer contas (e se tem um pouco mais para investir), pode começar a pensar em aplicações mais sofisticadas, como os certificados de depósito bancário (CDB) e as estrelas do mercado, os fundos de investimento. A principal diferença dessas aplicações em relação à poupança é que você está correndo mais riscos, embora a rentabilidade possa ser bem maior.
Entender os CDBs é fácil. Um banco funciona como um corretor de imóveis, que "apresenta" quem tem uma casa para alugar aos inquilinos interessados e ganha uma comissão se fechar o negócio. Um banco "apresenta" quem tem dinheiro de sobra a quem precisa de dinheiro e está disposto a pagar um "aluguel" para obtê-lo. Esse "aluguel" são as taxas de juro. Fazer essas apresentações é o feijão-com-arroz diário dos bancos. Quando é a pessoa física que precisa de dinheiro, eles o emprestam de várias formas e com várias taxas de juro, como empréstimo pessoal ou cheque especial.
Quando os bancos precisam de dinheiro, eles fazem como você. Pedem emprestado, vendendo papéis. Se o comprador for uma pessoa ou uma empresa, os papéis são CDBs. Se o comprador for outro banco, o nome do papel é CDI (certificado de depósito interbancário). Ao emprestar dinheiro a um banco, você vai receber juros. Essa será a rentabilidade do seu CDB. O risco desses papéis é o risco do banco. Se ele quebrar, quem comprou seus CDB perde o dinheiro que investiu acima de 20 mil reais. A maioria dos fundos de renda fixa (veja na página xxx) oferece ao investidor um rendimento comparável à taxa do CDI, principal indicador do apetite da economia por dinheiro.
A grande desvantagem do CDB para os pequenos investidores é que os bancos costumam tratar mal quem chega com pouco dinheiro. Quanto mais você tem para investir, melhor a taxa de juro que o banco vai lhe pagar. Por isso o CDB só compensa em aplicações grandes, de 100 mil reais por exemplo. Se você investir menos do que isso, vai ser difícil obter uma boa taxa. Esse é o principal argumento para os investimentos em fundos, que hoje são o produto financeiro mais importante no Brasil.
O princípio dos fundos de investimento é simples: comprar no atacado é mais barato do que no varejo. O que um administrador de fundos faz é reunir o dinheiro de muitos investidores de diferentes tamanhos e comprar títulos públicos, CDBs ou ações em quantidade. O fundo terá taxas melhores do que as obtidas individualmente pelos investidores. Para prestar esse serviço, o administrador cobra uma taxa de administração, que é um percentual do total aplicado. Neste guia, a taxa de administração média é de 2,25% ao ano.
Os fundos são um sucesso porque têm vantagens tanto em relação à poupança quanto em relação ao CDB. Eles rendem mais do que a poupança porque acompanham mais de perto os juros do mercado interbancário -- o tal do CDI. E são melhores que os CDBs para os pequenos aplicadores porque todos os investidores obtêm a mesma rentabilidade, quer eles invistam mil ou 1 milhão de reais num mesmo fundo. O investidor tem outro benefício: ele vai delegar os cuidados com seu dinheiro a um profissional especializado, o gestor do fundo, que sabe traçar a estratégia mais adequada de investimento. A única dificuldade é escolher o fundo mais adequado. No Brasil existem hoje mais de 3,5 mil fundos. Eles podem, porém, ser divididos em cinco grandes tipos: de renda fixa (os mais importantes), de ações, cambiais, alavancados e multimercados.
O BRILHO DOS JUROS
A maior parte do dinheiro está nos fundos de renda fixa mais conservadores (veja o gráfico "Quem é quem"). Os fundos de renda fixa investem em títulos públicos e em CDBs, e acompanham as taxas de juro, normalmente a do CDI. São pouco arriscados e os mais comuns no mercado. Todo banco tem alguns para oferecer. A única diferença entre eles é a estratégia do gestor, a pessoa que decide onde investir o dinheiro. No caso dos fundos DI, também chamados fundos de renda fixa passivos ou referenciados, ele tem de acompanhar ao máximo a variação dos juros do CDI. Se os juros sobem, o fundo DI rende mais. Se os juros caem, o fundo renderá menos. Neste guia, os melhores fundos DI foram escolhidos pela fidelidade com que acompanharam o CDI.
Já os fundos de renda fixa ativos podem render mais do que os fundos DI, embora tenham um pouco mais de risco. Nesses fundos, o gestor vai comprar e vender papéis para aumentar a rentabilidade. Se o gestor acertar, o fundo ativo renderá mais do que o fundo DI. Se ele errar ou se as condições do mercado mudarem de maneira inesperada, o fundo vai render menos. Como fazer na hora de escolher um fundo de renda fixa? Se você quiser aplicar em um fundo DI, procure o que cobra a menor taxa de administração. Agora, se você quiser investir em um fundo de renda fixa ativo, é preciso procurar um pouco mais. A avaliação dos fundos ativos neste guia mostra a relação entre o risco e a rentabilidade. Os fundos que renderam mais e fizeram você correr menos riscos receberam as melhores notas.
O VERDE DO DÓLAR
É fácil reconhecer quem investiu em fundos cambiais no início deste ano: é aquele sujeito que chega assobiando no escritório em plena segunda-feira. Ele tem razão para essa alegria. Até o fim de outubro, os fundos cambiais renderam 42%, em média. Para comparar, os de renda fixa renderam 12%. Em outras palavras: quem investiu 20 mil reais em um fundo cambial no começo do ano tinha, em média, 28,4 mil reais no fim de outubro. Já quem investiu na renda fixa tinha apenas 22,4 mil reais. Essa diferença ocorreu porque os fundos cambiais investem em títulos corrigidos pelo dólar. Eles têm mais risco que os fundos de renda fixa. Neste guia, os fundos cambiais foram premiados por reproduzir o comportamento do dólar. Quanto mais próximo, melhor a avaliação.
O RISCO DAS AÇÕES
Antes de explicar o que é um fundo de ações, duas palavras sobre o que é uma ação. É um pedaço de uma empresa. Quando uma companhia quer captar dinheiro sem pagar juros, ela vende um pedacinho de si mesma e promete que o comprador ganhará uma parcela dos lucros -- se houver. Se a empresa tiver lucro ou aumentar sua participação no mercado, mais investidores estarão interessados em comprar suas ações, o que elevará os preços. Se a empresa tem prejuízo, suas ações podem cair. Por isso as ações são um investimento de risco.
Os fundos de ações podem ser de dois tipos: ativos e passivos. Os fundos passivos compram ações que fazem parte do Índice Bovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo. Assim, quando o Ibovespa sobe ou cai, o fundo tende a ter um comportamento igual. Já o resultado dos fundos ativos depende mais do administrador. Neste guia, os fundos de ações foram premiados de duas maneiras. Os fundos passivos que mais se aproximaram dos índices obtiveram as melhores notas. Já os fundos ativos que obtiveram o maior rendimento oferecendo o menor risco ao investidor foram os vencedores.
A PIMENTA DOS DERIVATIVOS
Quem ouve falar de fundos alavancados pensa imediatamente em enormes prejuízos, porque esses fundos usam bastante os derivativos, que podem expor o investidor a um risco muito elevado.
Deri o quê? Derivativos são ativos financeiros que se derivam de outros produtos. A maneira mais fácil de explicar isso é sair para tomar um café na padaria (sim, tem de ser na padaria). Enquanto você toma seu café, observe o padeiro colocar à venda mais uma fornada de pão. Dependendo da hora do dia, você pode ver também um caminhão estacionar à porta da padaria e descarregar algumas sacas de farinha de trigo. Aí você se lembra dos tempos de escola primária, quando sua professora dizia que o pão é um dos derivados do trigo.
Derivativos financeiros são a mesma coisa: são ativos derivados (daí o nome) de outros ativos, financeiros ou físicos. O preço dos derivativos oscila de acordo com o preço dos ativos-base. Se o preço da farinha subir, o pão também sobe, porque o custo de produção aumenta. Um padeiro que perceber essa alta nos preços da farinha pode ganhar dinheiro com isso. Como? Por exemplo, fazendo hoje uma grande encomenda de farinha, acertando o preço e prometendo pagar daqui a dois meses. A fatura só será paga quando a farinha já tiver virado pão. O padeiro terá um belo lucro.
Qual a utilidade dos derivativos? Pense em uma empresa que compra e vende farinha. Uma alta de preços pode reduzir as vendas e acabar com o lucro. Para se proteger, ela pode comprar muita farinha e estocar. Mas há dois problemas: 1) farinha mofa e 2) muito dinheiro vai ficar "empatado" no estoque. A empresa pode resolver isso comprando o direito de comprar farinha a um determinado preço de um produtor. Esses direitos são chamados de opções. Paga-se uma fração do preço total para garantir o direito de comprar um determinado ativo a um determinado preço. Se quem comprou a opção não quiser comprar a farinha no futuro, perderá o que já pagou. A vantagem é que o prejuízo será menor. A desvantagem é que, como basta uma fração do valor dos ativos-base para operar, é possível fazer apostas gigantescas. E qualquer oscilação pode provocar enormes prejuízos. Por isso os fundos alavancados oferecem tanto risco. Eles são os que vão apostar pesado na alta ou na baixa dos juros, do dólar ou das ações. Alguns podem fazer você perder todo o dinheiro que aplicou. Por isso, ao investir num fundo desses, leia cuidadosamente as regras de investimento e saiba qual pode ser sua perda máxima.
MISTURA FINA
Depois de todas essas explicações, fica fácil entender os fundos multimercados. São aqueles em que o gestor pode investir tanto em ações como em títulos de renda fixa, e também nos derivativos. A idéia é diversificar: se os juros forem baixos e as ações estiverem subindo, o gestor poderá aproveitar esses dois movimentos no mercado com chances maiores de um retorno positivo. Neste guia, os fundos multimercados foram avaliados pela relação entre risco e retorno. Agora que você já teve o trabalho de ler tudo isso, mãos à obra. É hora de colocar seu dinheiro para trabalhar para você.
OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE FUNDOS
Por William Eid Jr.A EAESP FGV - Escola de Administração de Empresas de São Paulo, por meio de seu Centro de Estudos em Finanças (CEF/GV), avaliou os fundos para a elaboração deste Guia. O objetivo é propiciar uma informação clara ao leitor, utilizando o que há de mais moderno e objetivo na avaliação de fundos.O primeiro passo foi selecionar os fundos destinados ao pequeno investidor. Para participar da análise, o fundo deve ser aberto à captação, voltado para o varejo, ter uma aplicação mínima inicial de até 20 mil reais e ter estado ativo entre 01 de novembro de 2000 e 31 de outubro de 2001.Selecionamos 381 fundos, que foram então separados em passivos e ativos. Os fundos passivos são aqueles que se propõe a seguir um índice de mercado. Quando você investe num fundo passivo espera que ele acompanhe o índice de referência. Por isso, avaliamos os fundos pela sua proximidade com o índice. Utilizamos uma medida estatística chamada Erro Quadrático Médio (EQM).
Os fundos ativos são os que se propõe a superar os índices. Quem investe num fundo ativo espera que o retorno supere o do índice de referência, mas sem correr muito risco. Avaliamos os fundos desse tipo por sua relação retorno x risco. Usamos um índice chamado Índice de Sharpe Generalizado (ISG). Após calcularmos o EQM e o ISG para os diferentes tipos de fundos, nós os premiamos Os 10% melhores em cada categoria receberam cinco estrelas, os seguintes 15% quatro estrelas e para cada um dos três grupos de 25% seguintes foram dadas três, duas e uma estrela, respectivamente. Em seguida selecionamos os 200 melhores fundos do grupo, e 37 deles receberam cinco estrelas. São os melhores!