Endividamento de famílias na pandemia já é maior do que na crise de 2014
Percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso chegou a 25,4% — o maior desde dezembro de 2017
Reuters
Publicado em 23 de junho de 2020 às 16h39.
Última atualização em 23 de junho de 2020 às 17h29.
Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que o percentual de famílias com dívidas aumentou em junho de 2020 e alcançou novo recorde histórico: 67,1% têm contas em aberto no cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal ou prestação de carro e seguro.
A proporção de endividados em junho é a maior da série histórica do indicador, iniciada em janeiro de 2010, ultrapassando a taxa registrada na crise de 2014.
Também em junho, o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso chegou a 25,4% — o maior desde dezembro de 2017, avançando 1,8 ponto percentual em relação a junho de 2019.
Desse grupo, 11,6% declararam não ter condições de pagar suas contas, o que é o maior percentual desde novembro de 2012.
Enquanto nas famílias com renda até dez salários mínimos o endividamento cresceu de 67,4% em maio para 68,2% em junho, ante 64,9% observados em junho de 2019, para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, ou seja, que recebem mais de 10.450 reais, o percentual de endividamento entre maio e junho diminuiu de 61,3% para 60,7%.
Na faixa de menor renda, 13,2% declararam que não iriam conseguir honrar suas dívidas em junho, ao passo que somente 4,7% dos que ganham mais disseram o mesmo.
Entre as pessoas que têm contas em aberto, 16,1% se declararam muito endividados; 24,5%, mais ou menos endividados; 26,5%, pouco endividado; 32,6% disseram não acumular dívidas desse tipo; e o restante não soube ou não quis responder.
A parcela média da renda comprometida com dívidas alcançou 30,4% do orçamento, frente a 29,5% em junho do ano passado. Este é o quinto mês consecutivo em que cresce o tamanho da renda familiar média envolvida com dívidas, cuja proporção máxima histórica chegou a 31,9% em dezembro de 2015.
Entre as diferentes classes sociais, o cartão de crédito é o maior concentrador de dívidas, sendo apontado por 76,4% dos que têm renda familiar mensal de até dez salários mínimos, e por 75,3% dos que recebem mais do que isso.
Para os que ganham menos, o segundo lugar é ocupado pelos carnês (18,4%), seguido por financiamentos de carros (10,6%). Já entre os que ganham mais, o segundo maior concentrador de dívidas é o financiamento da casa (19,2%), seguido pelo financiamento de carros (17,2%).