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Empresas com caixa vão se sair melhor na crise, diz professor de Harvard

Para Pankaj Ghemawat, empresas e países mais afetados pela queda das commodities também oferecem risco maior

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O professor Pankaj Ghemawat, das escolas de negócio Harvard Business School e IESE (University of Navarra), acredita que as empresas que têm caixa neste momento estão mais preparadas para enfrentar a crise. Além disso, ele acredita que as companhias e países ligados ao setor de commodities estão mais expostas à desaceleração da economia mundial.. Guemawat é autor do livro "Redefinindo estratégia global: cruzando fronteiras em um mundo de diferenças que ainda importam", em que contesta a teoria de Thomas Friedman, sobre a globalização, publicada em "O mundo é plano". Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

EXAME - O mundo financeiro é plano?

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Ghemawat - Algumas instituições são planas. Os mercados financeiros são altamente integrados, mas o que discordo é de levar esse fato a conclusões extremadas e generalistas sobre integração em todos os outros níveis da economia. A primeira coisa que devemos lembrar é que as crises globais não são uma coisa nova. Elas acontecem desde o pós-guerra no início do século e especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial. Não se pode tratar as crises financeiras como uma prova de que o mundo é plano. Essa é uma conclusão muito generalista. Da última vez que eu chequei, UBS e Credit Suisse haviam perdido mais dinheiro em suas grandes crises hipotecárias domésticas mais de uma década atrás do que perderam desta vez. Pelo menos até dois meses atrás, quando chequei isso. Se você procura por exemplos reais, se o mundo é tão integrado, como grandes bancos globais poderiam tomar a decisão de sair de alguns de seus maiores mercados, como os Estados Unidos?

EXAME - E não falando sobre empresas e bancos especificamente, como poderíamos medir o impacto da crise sobre cada um dos Bric?

Ghemawat - Há algumas diferenças do ponto de vista das empresas. O primeiro grande fator a se observar é que, no momento em que a liquidez do mercado financeiro é limitada, as empresas que têm cash e capacidade financeira estão em uma situação melhor que as demais. Isso se aplica independentemente do país em que está localizada. Este é o primeiro ponto. O segundo ponto é o relacionado às commodities. Particularmente Rússia e Brasil são afetadas. Assim como o boom que víamos até recentemente dos preços das commodities impactavam sobre suas economias, a queda dos preços irá afetar também. E estamos começando a ver isso. Apesar de o preço do petróleo ainda estar alto, estamos começando a ver problemas na Rússia, devido à queda da confiança nas bolsas. Isso não quer dizer que há uma grande conexão entre as instituições financeiras da Rússia e as demais instituições. As empresas mais afetadas ainda são as diretamente envolvidas no setor de petróleo e gás.

EXAME - No que diz respeito aos preços de commodities, as pessoas parecem concordar que a Rússia sai mais afetada que o Brasil, por ser mais dependente de um único produto, o senhor também acha isso?

Ghemawat - Sim, esse seria meu palpite. A Rússia é muito mais monocultural e o Brasil tem uma diversidade maior de recursos naturais, mas, apesar de a Rússia tender a ter mais problemas, o Brasil também vai sofrer com a baixa dos preços de commodities.

EXAME - Podemos analisar alguns dos principais fatores que impactam sobre cada um dos países dos Bric?

Ghemawat - Sim, mas eu gostaria de dizer que, mesmo quando focando no nível do país, há diversos fatores que podem ter diferentes conseqüências. Sou um professor de escola de negócios, então eu tendo a ver as coisas mais atreladas umas as outras, a olhar para a coisa mais focada em alguns pontos do que para toda a cadeia produtiva de um país. E, novamente, a primeira coisa que eu destacaria, há muitas variações, como sugeri antes...

EXAME - O senhor arriscaria algumas previsões sobre o que está por vir para os Bric?

Ghemawat - Não acredito que coletar previsões seriam úteis aos seus leitores, qualquer pessoa pode fazer previsões e ninguém tem autoridade suficiente para fazê-las. Mas essa noção, de extrapolar as experiências do passado como uma forma de pensar no futuro não é tão boa. Em vez de dizer "estamos vivendo em uma era de maior globalização, etc". Há muitas variáveis... Acredito que o mais importante é pensar em cada uma das companhias e pensar no que pode acontecer com elas, em vez de tentar colocar países inteiros no mesmo pacote de previsões.

EXAME - Falamos pouco sobre a Índia, especificamente. Como esse país está lidando com a crise?

Ghemawat - A Índia ainda não é um país muito internacionalizado, a não ser por alguns setores, como o de TI, mas a Índia não passa por grandes preocupações ainda. Seus desafios têm mais a ver com a situação doméstica. As eleições estão chegando. As eleições sempre levam a perda de dinheiro. Outro problema é que a inflação está muito alta, e a demanda por alguns produtos de exportação está diminuindo com a desaceleração global.

EXAME - Quais são alguns desses produtos? Porque a Índia não é essencialmente exportadora, não é?

Ghemawat - Esse não é o maior fator de preocupação, mas com certeza haverá um impacto. O principal produto são os serviços de tecnologia da informação. Nos Estados Unidos houve uma reunião clientes e fornecedores do setor e a sensação geral era que os ganhos estavam diminuindo. Lembre-se que muitas das empresas de software indianas levantaram cerca de 45% de seu faturamento vinha de serviços financeiros e seguradoras. Então, não é surpreendente que esse setor sinta o impacto.

EXAME - Sobre investimentos estrangeiros...

Ghemawat - O relatório da Unctad veio em um momento ingrato. O ano de 2007 foi muito bom e é quase certo que o mesmo sucesso não poderá se repetir em 2008.

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