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Elogiada pelo mercado, compra do Votorantim deixa BB sem muitas opções para superar o Itaú Unibanco

Parceria com o banco dos Ermírio de Moraes é o último passo óbvio da instituição federal, segundo os analistas

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A compra de metade do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil foi bem recebida pelo mercado, que elogiou o preço pago e as linhas de atuação complementares das duas instituições. Antecipada por EXAME em outubro do ano passado, a aquisição foi fechada por 4,2 bilhões de reais. O valor ficou abaixo do estimado pelos analistas, que esperavam um preço de até 6 bilhões. Com o acordo, o Banco do Brasil se aproxima do líder Itaú Unibanco em volume de ativos, reforça sua presença no segmento de crédito automotivo e aumenta a carteira de crédito de pessoas físicas. Por outro lado, os especialistas afirmam que, após essa transação, ficará mais difícil para o BB encontrar bons alvos de compra e, assim, retomar a liderança do setor bancário perdida para as famílias Setubal e Moreira Salles.

Os 4,2 bilhões de reais que o BB desembolsará na operação serão divididos em duas partes. A instituição pagará 3 bilhões de reais por ações ordinárias do BV em poder da Votorantim Finanças, holding dos Ermírio de Moraes que controla o BV. Outros 1,2 bilhão de reais serão injetados pelo BB diretamente no Banco Votorantim, por meio da compra de ações preferenciais. A operação ainda prevê a distribuição, pelo BV, de 750 milhões de reais em dividendos aos seus acionistas.

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Entre os analistas, houve quem considerou que a aquisição saiu barata para o BB, e os que acharam que o valor pago foi justo. Nenhum, porém, tratou o valor como acima do esperado. O price book da operação (preço pago pelo BB dividido pelo valor patrimonial do Banco Votorantim) ficou em 1,48 vezes. Quando se considera a injeção de 1,2 bilhão de reais do BB no BV, o indicador cai para 1,2 vezes. "É um valor bastante adequado", afirma Eduardo Roche, gerente de análises da Modal Asset. Como comparação, basta lembrar que a compra da Nossa Caixa, anunciada em novembro do ano passado, saiu por um price book quase duas vezes maior.

Um sinal de que os investidores gostaram do negócio foi o comportamento dos papéis na Bovespa. Em um dia de realização de lucros, que arrastaram o Ibovespa para o vermelho, as ações ordinárias do BB (BBSA3, com direito a voto) subiram quase 5% por volta das 11h. No mesmo horário, o Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, recuava 2,30%.

"Preciosidade"

Tradicionalmente, o BB é um banco de varejo centrado no atendimento em agências e com uma carteira de crédito rural muito forte. Nos últimos tempos, porém, o banco federal iniciou um processo de diversificação do portfólio que passa por aquisições e a atuação em novas áreas, como o crédito imobiliário. A compra do Unibanco pelo Itaú, no início de novembro, que transformou o banco dos Setubal na maior instituição brasileira em volume de ativos, com 575 bilhões de reais, também estimulou o BB a ir às compras.

Além da Nossa Caixa, a instituição já acertou a compra do Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) e do Banco do Estado do Piauí (BEP). Negocia, ainda, a aquisição do Banco de Brasília (BRB). Mas o negócio mais esperado era, de fato, a união com o Banco Votorantim.

"Depois que o Unibanco se uniu ao Itaú, o Votorantim virou uma preciosidade no mercado bancário", afirma Ricardo Tadeu Martins, gerente de análises da corretora Planner. Sétimo maior banco privado brasileiro, com ativos totais de 82 bilhões de reais, o BV tem forte presença no crédito para pessoas físicas, por meio da BV Financeira, e de veículos, com a BV Veículos. Por isso, o mercado avalia que a união faz sentido por completar a linha de atuação do Banco do Brasil. Com a parceria, por exemplo, a carteira de crédito do BB para pessoas físicas crescerá de 51,5 bilhões de reais para 62,6 bilhões.

Durante a coletiva de imprensa para explicar o negócio, realizada em Brasília, o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores do Banco do Brasil, Aldo Luiz Mendes, afirmou que a proximidade do BV com os clientes é um ponto forte para os objetivos do BB de crescer. "Os bancos que não saírem de suas agências para irem onde os clientes estão vão ficar para trás", afirmou, em referência à forma de o BV atuar, por exemplo, no crédito automotivo - com representantes dentro das revendedoras de automóveis.

Poucas alternativas

Com a união com o BV, os ativos do Banco do Brasil crescerão 8%, para 553 bilhões de reais. O incremento, porém, ainda não será suficiente para retomar a liderança do setor bancário brasileiro, já que o BB ficará 21 bilhões de reais atrás do Itaú Unibanco.

A perda do pódio, no final do ano passado, mexeu com os brios do governo em Brasília. Do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, partiram declarações de que o BB voltaria em breve ao primeiro lugar. Mas, para o mercado, a compra do Votorantim foi o último passo óbvio do BB. A partir de agora, restam poucas opções relevantes no mercado. Entre os potenciais alvos, estariam o Banco Safra, cujos ativos somavam 64 bilhões de reais em dezembro de 2007 (últimos dados disponíveis), as operações do Citi no Brasil, instituições de médio porte, como o Daycoval (com ativos totais de 8 bilhões no terceiro trimestre), e o Banrisul, banco controlado pelo governo gaúcho, com ativos de 25,5 bilhões de reais.

"O BB deu duas tacadas grandes, a compra da Nossa Caixa e do Votorantim; agora, a dúvida é se o banco vai manter a meta de reconquistar a liderança do setor", afirma Roche, da Modal Asset.

Margem mais apertada

Outro ponto que chama a atenção dos analistas é como o BB vai administrar seu nível de alavancagem. Ao comprar o Votorantim, o índice de Basiléia da instituição federal baixou para cerca de 12% - um ponto percentual acima do limite mínimo de 11% estabelecido pelo Acordo de Basiléia para bancos de países emergentes. Em linhas gerais, esse indicador mostra o quanto um banco pode se endividar: para cada cem reais empenhados em empréstimos e dívidas, precisa ter 11 reais de capital próprio no mínimo. Os bancos privados brasileiros operam com níveis mais conservadores, na casa de 15%.

A queda não chega a ser preocupante para o mercado, porque ainda está dentro do limite e foi causada por uma compra estratégica, e não por uma perda de controle de sua gestão financeira. Mas ela coloca dois problemas para o BB: reduz sua capacidade de tomar dinheiro emprestado no mercado para repassá-lo às suas linhas de crédito; e pode frear um pouco o apetite por novas aquisições. "A partir de agora, novas oportunidades precisam ser bem avaliadas", afirma Martins, da Planner.

Para Henrique Navarro, analista de bancos do Santander, ainda há margem de manobra para o BB voltar às compras e ampliar sua carteira de crédito. Uma alternativa seria reduzir os dividendos distribuídos, o que ampliaria o capital da empresa. "Além disso, apesar da queda do índice, a capacidade de alavancagem do banco ainda é boa", diz.

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