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Cada vez mais em moda, os consultores de vinhos ajudam os clientes a comprar os melhores vinhos -- e, principalmente, a não pagar mico

A consultora Paula Gonsales "Torpedo" para orientar o cliente a fazer o pedido correto num restaurante
DR

Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h08.

Para um apreciador de vinho, só há uma gafe pior do que pagar caro por uma garrafa de qualidade duvidosa: oferecê-la como presente ou abri-la para uma degustação com convidados. Para escapar dessas armadilhas, muitos interessados na bebida têm recorrido a um novo profissional: o consultor de vinhos, espécie de personal wine cellar que orienta os clientes na hora de comprar as bebidas e organizar a adega. A paulista Paula Gonsales é uma dessas profissionais. Anos atrás, Paula foi fazer um MBA em marketing em São Francisco, nos Estados Unidos, e aproveitou para se matricular num curso de vinhos em Berkeley, a 40 minutos do Vale do Napa. "De volta ao Brasil, comecei a dar aulas para uma família que apreciava vinhos, mas não sabia encontrar a safra ideal de cada região", diz ela. Diretora financeira de uma empresa paulista do setor químico, Paula aproveita o tempo livre para oferecer cursos e também para dar dicas a clientes sobre a melhor maneira de montar uma adega. Nos últimos dois anos, ela organizou 15 adegas particulares e atualmente tem em sua carteira mais de uma dezena de clientes fixos. Sua remuneração varia de 10% a 20% do valor de cada garrafa indicada. Essa clientela muitas vezes faz pedidos inesperados. "Outro dia, enviei um torpedo pelo telefone, dizendo em que restaurante estava e o que ia comer", diz o executivo Carlos Eduardo Mateos, um dos clientes cativos de Paula. "Ela mandou a resposta na hora e o jantar foi inesquecível."

Além de indicar as melhores garrafas, o consultor também ajuda a organizá-las. Desde 2005, o empresário Márcio Vedovato Verrone, dono da empresa de insumos agrícolas Agrovecal, localizada no interior paulista, conta com os serviços de Arthur Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) e consultor desde 2000. Há três anos, Verrone construiu uma adega climatizada para abrigar suas cerca de 600 garrafas. Ao participar de um curso na ABS e conhecer o enólogo, decidiu contratá-lo. "Azevedo veio à minha casa e constatou que, apesar de bem catalogados, os vinhos estavam todos misturados", diz Verrone, que já utilizava o banco de dados de Robert Parker para catalogar as garrafas. "Ele então me ajudou a separar por país e tipos de uva. Assim, a adega ficou bem mais coerente e hoje é até mais fácil encontrar e consumir as bebidas."

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Contratar o serviço de um "personal" não é apenas coisa de neófito. Dono de uma espetacular adega com quase 1 300 garrafas, o empresário Meyer Joseph Nigri, proprietário da Tecnisa Engenharia, também tem uma consultora particular. "Com a adega organizada, sei a localização exata de cada garrafa, a safra a que pertence, seu produtor, como harmonizá-la com a comida", afirma Nigri. A responsável pela reengenharia é a enófila Débora Breginski, sommelier de um sofisticado restaurante de São Paulo e consultora nas horas vagas. Além de separar as garrafas, Débora ajuda Nigri a escolher os vinhos ideais para consumo nas confrarias que reúnem cerca de 15 amigos, duas vezes ao mês, numa sala privativa do restaurante Fasano, em São Paulo. "Meu desafio é fazer com que as pessoas experimentem e aprendam a apreciar novos sabores", diz ela.

Assim como Paula e Débora, outros consultores entraram nesse ramo quase por acaso -- transformando o hobby numa segunda profissão ou aproveitando as horas vagas para prestar consultoria. O empresário paulistano Felipe Kauffman foi para o Chile em 2005 disposto a abrir uma cadeia de lojas infantis brasileira no país. Paralelamente, matriculou-se num curso de vinhos da Pontificia Universidad Católica de Chile. Enquanto mergulhava no universo que envolve a fabricação da bebida, viu naufragar seu plano de montar a rede de lojas. Foi quando teve a idéia que mudaria sua vida: oferecer seu conhecimento às vinícolas locais, assumindo sua representação junto a grandes clientes no Brasil, nos Estados Unidos e na Ásia. "Realizo um trabalho de alfaiataria, indicando, entre os rótulos que represento, os mais adequados ao perfil e ao paladar de cada cliente", diz ele.

Entre seus fregueses cativos está José Luiz da Costa Carvalho, proprietário da JLCC Corretora de Seguros, de São Paulo. Os dois se conheceram durante uma degustação. O vinho escolhido para acompanhar o prato, à base de bacalhau, foi um Chardonnay safra 2003, importado por Kauffman. "Adorei o vinho. Anotei os dados do rótulo e fiz uma encomenda a Kauffman, que fez questão de entregar a caixa pessoalmente", diz Costa Carvalho. "Ficamos amigos e, desde então, ele vive trazendo novidades para eu experimentar." Encontrar novidades para o empresário não é exatamente uma tarefa fácil. Ao longo de quase 20 anos, Costa Carvalho organizou uma adega climatizada com acervo de cerca de 4 500 garrafas. "A consultoria está me ajudando a conhecer melhor as ofertas do Novo Mundo", afirma.

Os imperdíveis
Os dez vinhos que os consultores obrigam os clientes a ter em casa
Porto
Quinta do Noval Porto Old Tawny 20 anos
(Douro/Portugal)
R$ 562
Tintos
Château La Nerthe Cuvée des Cadettes 2001
(Châteauneufdu-Pape)
R$ 480

Jacques & François Lurton El Albar Excelencia 2002
(Toro/Espanha)
R$ 198

Quinta do Crasto Touriga Nacional 2004
(Douro/Portugal)
R$ 277

Abadia Retuerta Pago la Garduña Syrah 2003
(Castilla y León/Espanha)
R$ 846

Champanhes
Egly-Ouriet Millésime Brut 1996
(Champagne/França)
R$ 480

Bollinger "RD" Extra-Brut 1995
(Champagne/França)
R$ 547,80

Branco
Domaine Jacques Prieur Montrachet 2001
(Borgonha/França)
R$ 1 700
Doces
Zind-Humbrecht Pinot Gris Clos Jebsal Turckheim
(Alsácia/França)
R$ 235 meia garrafa

Alois Kracher Grande Cuvée Trockenbeerenauslese Nouvelle Vague Nr. 6
(Áustria)
R$ 196,90

Fonte: Arthur Azevedo
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