Dólar alto faz viagens ao exterior despencarem e incentiva promoções
É melhor adiar a viagem internacional por causa do dólar alto ou aproveitar oportunidades?
Marília Almeida
Publicado em 14 de julho de 2018 às 07h00.
Última atualização em 16 de julho de 2018 às 11h18.
São Paulo - A alta de 16% do dólar entre abril e junho provocou uma queda brusca na procura por viagens internacionais. De acordo com um levantamento feito pelo buscador de viagens Kayak, enquanto em abril 64% dos usuários da plataforma buscavam viajar para fora, em junho apenas 46% dos visitantes do site tinham esse mesmo objetivo. Ou seja, uma queda de 28%.
A queda na demanda por essas viagens, contudo, cria oportunidades. Companhias aéreas, hotéis e agências antecipam para agora descontos que só seriam obtidos pelos viajantes em setembro e outubro, diz Viviane Pio, gerente da CVC. "Na compra de passagens, é possível obter, em média, 10% de desconto em destinos da América Latina e 20% de desconto para destinos nos Estados Unidos".
Tahiana Rodrigues, diretora do comparador Skyscanner para a América Latina, explica que há mais voos entre o Brasil e o país norte-americano do que para a Europa. Com a queda na demanda, os descontos tendem a ser mais agressivos onde há maior competição. "É uma tendência bem parecida com o que vimos em 2015, quando o dólar também atingiu o patamar de 4 reais".
Na Europa, o destaque é Portugal. "Ele é o único país europeu que se mantém na lista dos mais buscados ano após ano. Isso porque o país realiza diversas ações promocionais para atrair visitantes", diz Tahiana.
Eduardo Fleury, diretor do Kayak, aponta que, entre os destinos onde as buscas mais cresceram no site, apenas um é internacional e pode representar uma oportunidade: Buenos Aires. "Isso aconteceu porque a viagem para lá ficou mais barata agora. O peso argentino se desvalorizou mais do que o real em relação ao dólar". A cotação do peso argentino afundou quase 20% entre o início do ano e o fechamento desta quinta-feira (13).
A pesquisa do Kayak foi realizada no dia 12 de junho para buscas de voos no site. Todas as buscas foram feitas por usuários brasileiros por passagens de ida e volta saindo de todos os aeroportos do Brasil a todos os aeroportos do mundo entre 1º de abril a 30 de abril, 1º de maio a 31 de maio e 1º de junho a 30 de junho. O período das viagens considerado foi de 1º de junho a 31 de dezembro de 2018.
Além de descontos pontuais para alguns destinos, mais facilidades de pagamento também são uma forma de incentivar viagens para fora.
Há pouco mais de um mês a CVC passou a oferecer a possibilidade de pagar por um pacote de viagem no boleto bancário e quitar a primeira parcela da compra 60 dias após a aquisição. "É uma forma de garantir a cotação do câmbio para o viajante que não tem recursos suficientes para a compra agora, ao menos para a maior parte dos gastos da viagem", explica Viviane, da CVC.
A agência de viagem também fixou o dólar a 3,69 reais na compra de pacotes de viagem com passagem aérea e hospedagem para todos os destinos nos Estados Unidos, Canadá, América do Sul e Caribe. Contudo, a promoção pode ser encerrada a qualquer momento, caso a moeda americana oscile muito. "Esse câmbio menor equivale a 10% desconto, em média", diz Viviane.
Adiar a viagem ou aproveitar os descontos?
A decisão de adiar ou não a viagem ao exterior vai depender do orçamento de cada um. Se mesmo com o câmbio mais alto o passeio couber no bolso, e puder ser planejado com antecedência, a chance de ter gastos imprevistos é menor.
O ideal é começar a planejar a viagem para fora pelo menos seis meses antes , diz Fleury, do Kayak. "Quatro meses ou menos da data de partida há grande chance de que os preços não parem de subir", explica.
Para evitar prejuízos com a oscilação do câmbio, especialistas recomendam comprar a moeda aos poucos até a data da viagem . Dessa forma, é possível formar um preço médio, e não perder muito caso o dólar se valorize em relação ao real.
Há uma série de outras decisões que ajudam a compensar a alta do dólar. Preferir voos com escala é uma delas. E essa opção é especialmente interessante se a duração da escala for equivalente a dias. "Chamados de "free stop", esses voos permitem conhecer mais um destino gastando o mesmo que seria desembolsado em um voo direto. Muitas aéreas oferecem essa possibilidade, e não cobram nenhuma taxa adicional por isso", diz Viviane.
Diminuir o tempo da viagem é outra forma certeira de pagar menos, cada vez mais usada pelos viajantes atualmente, segundo a gerente de vendas da CVC. "Antes as pessoas costumavam ficar de 12 a 15 dias no exterior. Esse tempo agora diminuiu para entre 8 e 10 dias".
Outra opção, também mais frequente agora, é optar por apenas um destino, ao invés de realizar um tour pela Europa, por exemplo. Isso diminui gastos com transporte, seja aéreo ou por via terrestre, que equivale a um valor representativo da viagem.
Voos fora de dias de pico também são mais baratos. Fleury aconselha ainda que, em feriados, o viajante não opte por viajar na véspera, à noite. "Além de pagar uma diária de hotel a mais apenas para dormir, a chance de pegar um voo lotado e caro é grande".
Por fim, Viviane aponta que preferir destinos que cabem no bolso, mais próximos do país e que tenham moedas desvalorizadas em relação ao real, como os vizinhos da América Latina e países do Caribe, também podem tornar a viagem ao exterior viável. "Até destinos no Canadá, cuja moeda tem uma cotação mais baixa do que a do dólar americano, começam a ser mais observados agora".
O que fazer se a viagem já está marcada
Como o planejamento de uma viagem ao exterior leva tempo, a alta mais intensa do dólar pode ter pegado muita gente no contrapé. "Quem já comprou passagem dificilmente vai desistir da viagem, pois corre um grande risco de perder todo o valor desembolsado. Não vale a pena", diz Fleury.
Nesse caso, quem ainda não definiu a hospedagem pode optar por um hotel de padrão mais baixo ou resorts, nos quais os gastos são mais previsíveis, já que costumam incluir refeições e bebidas.
Uma outra maneira de gastar menos é mudar o foco das atividades que serão realizadas durante a viagem. "Quem vai para Miami, por exemplo, talvez opte por não passar três dias realizando compras e prefira priorizar passeios agora", diz Tahiana, do Skyscanner.