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Crise eleva vantagem da poupança sobre fundos de renda fixa

Rentabilidade acumulada pela poupança chega a ser quase 20% maior que a oferecida pelos fundos de renda fixa nos últimos 30 dias

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A crise que sacode os mercados mundiais fez com que a caderneta de poupança rendesse mais que os fundos de renda fixa nos últimos 30 dias até 17 de agosto. As contas de poupança com aniversário neste dia, por exemplo, foram remuneradas com uma taxa de 0,58%. O resultado é quase 20% maior que o 0,49% acumulado entre 18 de julho e 17 de agosto pelos fundos de renda fixa mais conservadores, que só aplicam em papéis atrelados aos juros domésticos ou à inflação, de acordo com a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). As carteiras de médio e alto risco - que também podem comprar papéis atrelados a créditos - foram as únicas que ultrapassaram a poupança, com rentabilidade de 0,74%. E os fundos de renda fixa com alavancagem - aqueles que aumentam a capacidade de investimento por meio de empréstimos - acumulavam perda de 0,71% até aquela data. É preciso lembrar, ainda, que a incidência de Imposto de Renda e CPMF sobre as aplicações de renda fixa corrói a rentabilidade nominal desses produtos, o que amplia a vantagem da poupança, que é isenta de tributação.

Diante do nervosismo do mercado, os gestores não conseguiram evitar a contaminação das carteiras de renda fixa, pois os próprios papéis que as compõem arcaram com pesadas perdas nos últimos dias. Títulos públicos atrelados à inflação, como os NTBs, por exemplo, chegaram a cair 30% no acumulado de 30 dias até 17 de agosto, de acordo com o Tesouro Direto. Assustados, muitos investidores saíram desse mercado. No mesmo período, a captação líquida dos fundos de renda fixa conservadores ficou negativa em 3,392 bilhões de reais. A renda fixa alavancada também perdeu 465 milhões em investimentos. Somente as carteiras de médio e alto risco atraíram recursos - 1,052 bilhão.

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No total, a indústria brasileira de fundos - que inclui os produtos de renda fixa e variável -, viu 1,061 bilhão de reais deixarem as aplicações nos 17 primeiros dias de agosto, diante das perdas registradas pela maioria das carteiras. Ao mesmo tempo, até o dia 16, a captação líquida da poupança foi positiva 1,386 bilhão de reais. É claro que não se pode ser simplista e afirmar que o dinheiro simplesmente saiu dos fundos para a poupança. Investidores estrangeiros, por exemplo, podem ter deixado suas posições no Brasil em busca de maior rentabilidade em outros países.

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A crise causada pelo mercado hipotecário americano é apenas o mais recente estímulo dos investidores para reabilitarem a poupança. Desde o final do ano passado, quando a taxa básica de juros dava sinais de queda consistente, essa modalidade de investimento já chamava novamente a atenção, ao oferecer rentabilidade próxima ao de alguns fundos cuja taxa de administração é mais alta. Com novos cortes da Selic neste ano, a poupança ampliou sua competitividade, pois também não vê sua rentabilidade ser corroída pela carga tributária que prejudica as outras opções: o Imposto de Renda e a CPMF.

"A poupança era o patinho feio do mercado; agora, muita gente quer aplicar nela", afirma o professor William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas. Um sinal do interesse dos investidores é a expansão do saldo total. Segundo o Banco Central, no final de julho, o saldo total da poupança era 208,3 bilhões de reais, 10% maior que os 188,5 bilhões com que fechou janeiro. Trata-se de um desempenho próximo ao da indústria de fundos, cujo patrimônio líquido cresceu 12% na mesma comparação e somou 1,051 trilhão de reais em julho.

Para Maria Izabel Gribel, gerente executiva de Investimentos do Banco do Brasil, parte desses recursos foi gerada pelo crescimento da renda da população, que permitiu que mais pessoas se tornassem poupadoras. "O interesse pela poupança aumentou muito desde meados do ano passado. A queda da taxa de juros tornou essa opção mais atraente", afirma.

Neste ano, a carteira de poupança do Banco do Brasil subiu de 37,8 bilhões de reais, em janeiro, para 41,9 bilhões no final de julho. A instituição detém 20% desse mercado, o que a coloca em segundo lugar, atrás apenas da Caixa Econômica Federal. No mesmo período, o número de clientes que possuem uma caderneta de poupança no banco subiu de 14,6 milhões para 15,2 milhões de pessoas.

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