CPMF corrói cada vez mais o retorno de investimentos
Com a queda dos juros, peso do tributo sobre os investimentos praticamente dobrou
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Segundo cálculos do vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, o custo da CPMF sobre os investimentos dobrou em dez anos. Considere, por exemplo, um investimento de um mês em renda fixa. Em 1997, quando a CPMF foi criada, o impacto do tributo sobre a aplicação era de 23,5% do rendimento - já que na época um fundo DI rendia em média 1,61% ao mês e a alíquota da CPMF era de 0,20%. Hoje, com a rentabilidade caindo para cerca de 0,88% ao mês devido à redução da Selic e um alíquota de 0,38% para o tributo, o peso da CPMF sobre o rendimento chega a 43% - isso considerando que o dinheiro não tenha saído da conta corrente após o resgate da aplicação.
"O investidor se acostumou com a CPMF e não percebeu o quanto ela impacta no retorno de seus investimentos", afirma Oliveira (veja na tabela abaixo o peso da CPMF em seus investimentos). É certo que o investidor não paga a CPMF todos os meses, já que a incidência ocorre apenas em duas ocasiões: quando o dinheiro sai da conta corrente para a aplicação e quando é resgatado do investimento e retirado da conta corrente. A existência da cobrança, no entanto, dizem os especialistas, inibe a movimentação dos recursos, mesmo havendo a possibilidade de utilização da conta investimento.
"Grande parte dos investidores não tem idéia para que serve a conta investimento e, muitas vezes, não sabe nem que ela existe. Essa sensação de complicação nos investimentos acaba desanimando os investidores a pesquisar as melhores opções no mercado e migrar seus recursos de um investimento para outro", diz Oliveira.
Para Fabiano Calil, planejador financeiro pessoal, a melhor forma de tentar minimizar os efeitos da CPMF é investir no longo prazo. "No curto prazo, o impacto sobre o rendimento é maior. Quem aplica com horizonte de longo prazo, além de ver o custo da CPMF diluído no investimento, pode aproveitar o benefício de restituição da CPMF após 90 dias de aplicação, dado por alguns bancos", afirma.
Histórico
A CPMF foi criada em 1997 com o objetivo de financiar projetos na área de saúde. Na ocasião, a alíquota era de 0,20% e o tributo deveria ser extinto em 1999. Em votação, no entanto, o governo decidiu prorrogar sua cobrança por mais três anos, elevando a alíquota a 0,38% e ampliando a destinação dos recursos, que serviriam também à Previdência Social.
Em 2001, a CPMF foi novamente prorrogada e os recursos passariam a custear, ainda, o Fundo de Combate à Pobreza. A extinção do tributo estava prevista para 2004, mas novamente foi prorrogado, dessa vez até dezembro de 2007.
Agora, o governo discute uma nova prorrogação, que seria válida até 2011. Entre as propostas em análise está a do PSDB, que prevê redução da alíquota da CPMF de 0,38% para 0,20% e o compartilhamento dos recursos com Estados (20%) e municípios (10%). O PDT sugere a redução gradual da contribuição, que passaria dos atuais 0,38% neste ano para 0,28% em 2008, 0,18% em 2009 e chegaria a 0,08% em 2010. A partir de então, a CPMF se tornaria um imposto permanente, servindo para ajudar a Receita Federal a combater a sonegação. (veja abaixo o impacto que as mudanças provocariam em seus investimentos)
No ano passado, foram arrecadados 29,9 bilhões de reais com a contribuição, e a previsão para este ano é de que a CPMF renda mais 32 bilhões de reais aos cofres públicos.
O impacto dos tributos em seus investimentos
Para cada R$ 10.000 disponíveis para aplicação em fundo DI
Alíquota | CPMF paga | Valor aplicado | Rentabilidade (média de 0,88%) | IR (alíquota de 22,5%) | Ganho líquido | Resgate após 1 mês | Rentabilidade líquida |
0,38% | R$ 38,00 | R$ 9.962,00 | R$ 87,66 | R$ 19,72 | R$ 67,94 | R$ 10.029,94 | 0,30% |
0,20% | R$ 20,00 | R$ 9.980,00 | R$ 87,82 | R$ 19,76 | R$ 68,06 | R$ 10.048,06 | 0,48% |
0,15% | R$ 15,00 | R$ 9.985,00 | R$ 87,87 | R$ 19,77 | R$ 68,09 | R$ 10.053,09 | 0,53% |
0,10% | R$ 10,00 | R$ 9.990,00 | R$ 87,91 | R$ 19,78 | R$ 68,13 | R$ 10.058,00 | 0,58% |
0,08% | R$ 8,00 | R$ 9.992,00 | R$ 87,99 | R$ 19,80 | R$ 68,19 | R$ 10.067,39 | 0,67% |
Fonte: Fabiano Calil