Copom deve ter uma das reuniões mais difíceis dos últimos anos
Economia aquecida e crise externa dificultam decisão do BC sobre juros
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
O rumo da política monetária - se aperta, com juros mais altos, ou se afrouxa, com queda nas taxas - ainda não é consenso entre os economistas. O Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne na próxima semana para definir o destino da taxa de juros. A vida do BC ficou bem mais complicada nesse momento de crise porque a demanda deve desacelerar nos próximos meses, o que reduzirá a pressão sobre os juros, mas o dólar subiu e deixou de ser anti-inflacionário.
“Essa reversão forte do câmbio trará impacto para os custos, e as empresas tentarão repassar para os preços”, diz o economista Armando Castelar, da Gávea Investimentos. “Não podemos esquecer que as empresas passaram a depender muito de insumos importados”. Seria o caso da indústria petroquímica, que produz o plástico e as resinas usadas por quase toda a indústria de bens de consumo.
Além do câmbio, a inflação gerada pela demanda também deve continuar a existir. “O mercado de trabalho internamente vai continuar empregando, e por isso as pessoas continuarão comprando, a demanda permanecerá forte”, diz o economista Cristiano Souza, do Banco Real. “E isso, junto com a pressão do câmbio nos preços, se traduz em risco de inflação. É um trabalho extra para o Banco Central”. Ele prevê duas altas nos juros este ano, que deve fechar em 14,5%.
Já o economista Rubens Penha Cysne não acredita em novas altas dos juros. “Não há mais espaço para aumentos. A medida aumentaria os gastos do governo com o pagamento da dívida e, no mercado consumidor, aumentaria a inadimplência. Seria piorar o quadro”. Ele afirma que a economia brasileira deverá sofrer o baque, e este é o momento que a sociedade precisa urgentemente discutir como se dará o sacrifício, no Congresso, para evitar conseqüências mais desastrosas. Para ele, é época de discussão sobre orçamento para 2009, e a sociedade precisa decidir o que cortará. “O orçamento precisa ser discutido de forma a preparar o país para a turbulência no próximo ano. Devemos aproveitar o momento da crise para consertar o jeito como o governo gasta dinheiro. Não há mais espaço para desperdício”, diz Cysne.