Construtoras terão lucro 14% menor no terceiro trimestre, segundo Fator
Balanços mostrarão queda do número de lançamentos, vendas e de margens
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
A construção civil será um dos primeiros setores a mostrar, em profundidade, como a escassez mundial de crédito vai afetar o dia-a-dia das empresas. Grande parte das construtoras e incorporadoras que abriram seu capital nos últimos dois anos aplicou os recursos captados na aquisição de terrenos. Para manter o giro, recorrem ao crédito bancário, da mesma forma que os compradores de imóveis. Por isso, os balanços do terceiro trimestre devem mostrar uma queda expressiva do número de lançamentos e de vendas, segundo a corretora do Banco Fator, que acompanha 12 empresas de capital aberto do setor. No total, essas companhias devem lucrar 401,8 milhões de reais, ante os 466,6 milhões obtidos entre abril e junho.
Os lançamentos devem atingir 4,622 bilhões de reais no terceiro trimestre, segundo o Fator. A cifra é 32% inferior aos 6,819 bilhões lançados no segundo trimestre. Já as vendas contratadas devem cair 24%, de 5,315 bilhões de reais para 4,017 bilhões na mesma comparação. Além disso, diante do aumento de custos operacionais e do custo de capital, a geração de caixa das empresas, apurada pelo ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), apresentará ligeira queda para 570,6 milhões de reais, ante 572,6 milhões no segundo trimestre.
Aperto de crédito
"O principal impacto [da crise] sobre o setor de construção é o crédito mais restrito. As companhias necessitam de grandes somas de capital de giro para financiar suas operações. O atual mercado de crédito corporativo tornou-se mais caro e seletivo, na medida em que os bancos ficaram mais seletivos na concessão de financiamentos", afirma o Fator.
Para enfrentar a situação, as empresas têm três alternativas, segundo a corretora: a) reduzir o número de lançamentos; b) vender ativos ou terrenos; c) levantar capital por meio de novos sócios. Outras duas opções estão mais difíceis agora: elevar o grau de endividamento e realizar novas emissões primárias de ações. Por isso, diante do cenário negativo, as construtoras deverão rebaixar suas previsões para os próximos meses. As primeiras a fazê-lo foram as companhias menores, mas o Fator estima que as maiores também seguirão o mesmo caminho.
A maior parte dos balanços das empresas do setor virá em novembro. Veja, a seguir, as projeções do Fator para cada companhia que acompanha:
Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI)
O volume de lançamentos, 297 milhões de reais, deve superar em 118% os feitos no segundo trimestre. As vendas contratadas, porém, serão 12% menores e somarão 220,9 milhões. O ebitda será de 9,8 milhões, com alta de 81,3%. Já o lucro líquido caírá 43%, para 4,7 milhões de reais.
Company
A empresa, que está em processo de incorporação pela Brascan, não deve apresentar lançamentos no terceiro trimestre, segundo o Fator, por causa do cenário mais adverso. As vendas contratadas devem ser 17% inferiores à do último trimestre, somando 97,8 milhões de reais. O ebitda, de 15,7 milhões, será 1,4% menor. A queda prevista para o lucro líquido é de 42%, para 8,1 milhões de reais.
Cyrela
A Cyrela, que recentemente anunciou o cancelamento da compra da Agra, deve apresentar um volume 36% menor de lançamentos no período sobre o segundo trimestre, alcançando 900 milhões de reais. O Fator projeta uma queda de 37% para as vendas contratadas, para 806,2 milhões. O ebitda também virá 11,4% menor, ao redor de 144 milhões de reais. O lucro líquido, 109,7 milhões, representará uma queda de 8%.
Gafisa
A incorporação da Tenda pela Gafisa deve ser votada pelos acionistas em 21 de outubro. Já o balanço deve ser divulgado apenas no início de novembro. O Fator projeta uma queda de 11% no volume de lançamentos, que atingirá 850 milhões de reais. As vendas contratadas, 446,9 milhões, serão 19% menores que as do segundo trimestre. O ebitda recuará 8%, para 67,9 milhões; e o lucro líquido de 45,7 milhões indicará uma queda de 22%.
Inpar
A Inpar deve apresentar uma queda significativa de lançamentos no terceiro trimestre. Os 50 milhões de reais registrados nessa rubrica serão 89% menores que os 464,8 milhões do segundo trimestre. As vendas contratadas também devem cair 45%, para 183,8 milhões. O ebitda de 6,3 milhões representará um recuo de 14%. E o lucro líquido, 1,6 milhão de reais, será 76% inferior. A empresa anunciou, recentemente, um plano para reforçar seu caixa, que passa pela redução dos lançamentos, venda de ativos, busca de parcerias, e foco na venda dos imóveis ainda em estoque.
Klabin Segall
A Klabin divulgou, nesta sexta-feira (17/10), alguns números do terceiro trimestre. Os lançamentos somaram 337 milhões de reais, 5% superiores aos dos três meses anteriores. As vendas contratadas, 273 milhões, ficaram 26% abaixo do período comparado. Para o Fator, os números estão em linha com suas expectativas. A corretora esperava lançamentos de 328,7 milhões de reais, e vendas contratadas de 247,7 milhões. O balanço da Klabin só será divulgado em 14 de novembro. O Fator espera que o ebitda crescerá 20%, para 37,1 milhões. E o lucro líquido mais do que dobrará, passando de 3,6 milhões de reais para 8,4 milhões.
MRV
Os lançamentos devem somar 507,5 milhões, 36% menores que os realizados entre abril e junho. As vendas contratadas cairão 12%, para 424,9 milhões. O ebitda, porém, será 16% maior, atingindo 80,4 milhões. O lucro líquido deve permanecer praticamente o mesmo: 66,8 milhões de reais, ante 66,7 milhões no trimestre anterior.
PDG Realty
Com 600 milhões de reais, a incorporadora apresentará uma ligeira alta de 0,5% no volume de lançamentos. As vendas contratadas, contudo, recuarão 18%, para 386,5 milhões. O ebitda de 108,9 milhões será 32% maior; e o lucro líquido de 73,8 milhões indicará uma alta de 16,5%.
Rodobens
Seguindo a fila das empresas que lançarão menos unidades no trimestre, a Rodobens apresentará lançamentos de 149 milhões no trimestre, segundo o Fator, ou 29% menos. As vendas contratadas somarão 103 milhões de reais, ou 46% menores. O ebitda será 4% inferior e ficará em 27,7 milhões. O lucro líquido, de 29,2 milhões, será 2% menor que o do segundo trimestre.
Rossi
Trinta e três por cento é a queda estimada pelo Fator para o volume de lançamentos da empresa no trimestre - que deve ficar em 518,5 milhões de reais. A empresa deve ser uma da poucas a elevar suas vendas contratadas - 1,1%, para 538,9 milhões. O ebitda também crescerá 19%, para 47,7 milhões de reais. O lucro líquido, contudo, não acompanhará a tendência de alta, vindo 32% inferior, ao redor de 34,4 milhões de reais.
Tecnisa
A Tecnisa deve encerrar o terceiro trimestre com lançamentos de 312,5 milhões de reais, ou 0,8% mais que nos três meses anteriores. As vendas contratadas cairão 22%, para 258,8 milhões, e o ebitda de 18,2 milhões será 28% inferior. O lucro líquido, 15,3 milhões, representará um recuo de 39%.
Tenda
Entre as empresas acompanhadas pelo Fator, a Tenda é a que apresentará a maior queda no volume de lançamentos - 80%, para 100 milhões de reais. As vendas contratadas cairão 32%, para 276,1 milhões de reais. A geração de caixa da empresa, apurada pelo ebitda, também apresentará forte retração de 78%, para 6,7 milhões de reais. O lucro líquido será 80% menor, na casa dos 4,1 milhões de reais.