Brasileiro se endivida, investe menos e finanças pioram
Finanças dos brasileiros caíram 9,5% no primeiro semestre, segundo o Índice de Saúde Financeira calculado pelo GuiaBolso
Da Redação
Publicado em 10 de agosto de 2015 às 10h11.
São Paulo - Com contas no vermelho, mais dívidas e menos investimentos , as finanças dos brasileiros pioraram 9,5% no primeiro semestre, segundo o Índice de Saúde Financeira calculado pelo GuiaBolso.
Em uma escala que vai de zero a 700, o indicador fechou junho em 389 pontos, ante 430 em janeiro. Preços em alta são o principal motivo apontado para o descontrole do orçamento.
"O orçamento foi impactado pela inflação. Começamos a ver uma influência do desemprego, mas ainda está no início", afirma o presidente do GuiaBolso, Thiago Alvarez. Ele conta que, entre os pesquisados, as contas residenciais - basicamente energia e água - tiveram aumento de mais de 44%, alta considerada significativa.
A empresa, que desenvolveu um aplicativo de finanças pessoais que hoje conta com 950 mil usuários, fez a pesquisa com base em uma amostragem de 10 mil pessoas, segmentadas por região e renda.
O aplicativo tem acesso à movimentação da conta corrente dos usuários, para assim construir uma espécie de planilha automática que aponta onde eles estão gastando o dinheiro.
Com base nesses dados, foi montado o Índice de Saúde Financeira, formado por três categorias: fluxo de caixa (se o usuário gastou menos do que ganha no mês), dívidas (se houve aumento do uso do cheque especial) e investimentos (se a pessoa aplicou parte dos recursos).
O indicador piorou nos três quesitos. "Em janeiro e fevereiro, o índice era considerado saudável, mas passou para o nível febril nos meses seguintes, em que o fluxo de caixa na média se manteve negativo", diz Alvarez. Com os gastos maiores do que os ganhos, a saída encontrada por muitos foi recorrer ao cheque especial. "Não sobrou nada para investir", comenta.
Em junho, mais da metade dos pesquisados (52%) gastou mais do que a renda, contra 48% em maio. Aproximadamente 13% utilizaram o cheque especial, pagando em média R$ 179 em juros. E 68% resgataram mais dinheiro do que investiram.
Para equilibrar o orçamento, a sugestão é anotar os gastos e conhecer a renda. O GuiaBolso calcula que o brasileiro superestima a renda em 7%, pois esquece de descontar os impostos e contribuições do holerite.
"A renda encurtou e os preços subiram, mas a nossa velocidade para abrir mão de hábitos conquistados, como a TV a cabo, não é a mesma do que a das mudanças financeiras", diz o professor do Instituto Educacional da BM&FBovespa, Arthur Vieira de Moraes. Ele explica que o planejamento financeiro não precisa ser algo complexo.
Basta um primeiro passo para que a pessoa saiba onde está errando. "Em um mês que o consumidor anotar os gastos, ele já vai conseguir ver como está o orçamento", avalia. Para isso, o interessado pode utilizar aplicativos como o GuiaBolso, planilhas online como a da Bolsa (bit.ly/1dTDAXS) ou mesmo fazer seu próprio orçamento.
O cheque especial, uma das modalidades mais caras de crédito (em junho, a taxa de juros atingiu 241,3% ao ano), é um bom instrumento de financiamento, desde que usado com cautela.
Os especialistas indicam que o cheque especial deve ser usado por no máximo três dias. Acima disso, já é melhor utilizar outras linhas de juro menor, como o crédito consignado ou mesmo o pessoal.
Caso a pessoa já esteja endividada, a recomendação é estancar a dívida do cheque especial, além de tentar uma negociação com o credor. "É preciso trocar a dívida cara pela barata, se é que existe dívida barata no Brasil", diz o professor.
"A dívida mais adequada seria aquela com um juro em torno de 5% ao mês. Com o dinheiro em mão, é possível pagar o que deve negociando um desconto", diz.
Questão cultural
A pontuação do índice, que no máximo pode somar 700, se divide igualmente entre três categorias, sendo que cada uma delas chega a 233 pontos aproximadamente.
Dos três parâmetros, o investimento foi o aspecto que mais piorou no semestre, tendo recuado 21%. Alvarez comenta que pesa no resultado o aspecto sazonal, já que, em janeiro, a população em geral está com mais recursos devido ao 13º salário e ao pagamento de bonificações.
Chama a atenção o fato de o investimento ser a categoria de menor pontuação entre as três do índice. Em nenhum mês chegou a alcançar 100 pontos. Nesta questão, diz Moraes, pode pesar a falta de cultura de investimento do brasileiro, que ainda aplica pouco, mesmo havendo mais informações e produtos no mercado.
Deixar o dinheiro parado na conta corrente é uma péssima opção, principalmente em um País no qual a inflação é alta. Um estudo do Instituto Assaf mostra a perda do valor da moeda no tempo. Um brasileiro que deixou R$ 100 na conta corrente em 1994 hoje teria o equivalente a R$ 19,89, por causa da inflação acumulada de 402,74% nestes 21 anos de Plano Real.
Especialistas lembram que o momento do cenário econômico não é dos melhores, mas que há oportunidades entre os investimentos.
"Se o Brasil tem o maior juro do mundo, isso é péssimo para quem paga e ótimo para quem empresta. Todo mundo devia ter como meta deixar de ser devedor para ser credor. É uma questão de escolha", afirma o professor do instituto da Bolsa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
São Paulo - Com contas no vermelho, mais dívidas e menos investimentos , as finanças dos brasileiros pioraram 9,5% no primeiro semestre, segundo o Índice de Saúde Financeira calculado pelo GuiaBolso.
Em uma escala que vai de zero a 700, o indicador fechou junho em 389 pontos, ante 430 em janeiro. Preços em alta são o principal motivo apontado para o descontrole do orçamento.
"O orçamento foi impactado pela inflação. Começamos a ver uma influência do desemprego, mas ainda está no início", afirma o presidente do GuiaBolso, Thiago Alvarez. Ele conta que, entre os pesquisados, as contas residenciais - basicamente energia e água - tiveram aumento de mais de 44%, alta considerada significativa.
A empresa, que desenvolveu um aplicativo de finanças pessoais que hoje conta com 950 mil usuários, fez a pesquisa com base em uma amostragem de 10 mil pessoas, segmentadas por região e renda.
O aplicativo tem acesso à movimentação da conta corrente dos usuários, para assim construir uma espécie de planilha automática que aponta onde eles estão gastando o dinheiro.
Com base nesses dados, foi montado o Índice de Saúde Financeira, formado por três categorias: fluxo de caixa (se o usuário gastou menos do que ganha no mês), dívidas (se houve aumento do uso do cheque especial) e investimentos (se a pessoa aplicou parte dos recursos).
O indicador piorou nos três quesitos. "Em janeiro e fevereiro, o índice era considerado saudável, mas passou para o nível febril nos meses seguintes, em que o fluxo de caixa na média se manteve negativo", diz Alvarez. Com os gastos maiores do que os ganhos, a saída encontrada por muitos foi recorrer ao cheque especial. "Não sobrou nada para investir", comenta.
Em junho, mais da metade dos pesquisados (52%) gastou mais do que a renda, contra 48% em maio. Aproximadamente 13% utilizaram o cheque especial, pagando em média R$ 179 em juros. E 68% resgataram mais dinheiro do que investiram.
Para equilibrar o orçamento, a sugestão é anotar os gastos e conhecer a renda. O GuiaBolso calcula que o brasileiro superestima a renda em 7%, pois esquece de descontar os impostos e contribuições do holerite.
"A renda encurtou e os preços subiram, mas a nossa velocidade para abrir mão de hábitos conquistados, como a TV a cabo, não é a mesma do que a das mudanças financeiras", diz o professor do Instituto Educacional da BM&FBovespa, Arthur Vieira de Moraes. Ele explica que o planejamento financeiro não precisa ser algo complexo.
Basta um primeiro passo para que a pessoa saiba onde está errando. "Em um mês que o consumidor anotar os gastos, ele já vai conseguir ver como está o orçamento", avalia. Para isso, o interessado pode utilizar aplicativos como o GuiaBolso, planilhas online como a da Bolsa (bit.ly/1dTDAXS) ou mesmo fazer seu próprio orçamento.
O cheque especial, uma das modalidades mais caras de crédito (em junho, a taxa de juros atingiu 241,3% ao ano), é um bom instrumento de financiamento, desde que usado com cautela.
Os especialistas indicam que o cheque especial deve ser usado por no máximo três dias. Acima disso, já é melhor utilizar outras linhas de juro menor, como o crédito consignado ou mesmo o pessoal.
Caso a pessoa já esteja endividada, a recomendação é estancar a dívida do cheque especial, além de tentar uma negociação com o credor. "É preciso trocar a dívida cara pela barata, se é que existe dívida barata no Brasil", diz o professor.
"A dívida mais adequada seria aquela com um juro em torno de 5% ao mês. Com o dinheiro em mão, é possível pagar o que deve negociando um desconto", diz.
Questão cultural
A pontuação do índice, que no máximo pode somar 700, se divide igualmente entre três categorias, sendo que cada uma delas chega a 233 pontos aproximadamente.
Dos três parâmetros, o investimento foi o aspecto que mais piorou no semestre, tendo recuado 21%. Alvarez comenta que pesa no resultado o aspecto sazonal, já que, em janeiro, a população em geral está com mais recursos devido ao 13º salário e ao pagamento de bonificações.
Chama a atenção o fato de o investimento ser a categoria de menor pontuação entre as três do índice. Em nenhum mês chegou a alcançar 100 pontos. Nesta questão, diz Moraes, pode pesar a falta de cultura de investimento do brasileiro, que ainda aplica pouco, mesmo havendo mais informações e produtos no mercado.
Deixar o dinheiro parado na conta corrente é uma péssima opção, principalmente em um País no qual a inflação é alta. Um estudo do Instituto Assaf mostra a perda do valor da moeda no tempo. Um brasileiro que deixou R$ 100 na conta corrente em 1994 hoje teria o equivalente a R$ 19,89, por causa da inflação acumulada de 402,74% nestes 21 anos de Plano Real.
Especialistas lembram que o momento do cenário econômico não é dos melhores, mas que há oportunidades entre os investimentos.
"Se o Brasil tem o maior juro do mundo, isso é péssimo para quem paga e ótimo para quem empresta. Todo mundo devia ter como meta deixar de ser devedor para ser credor. É uma questão de escolha", afirma o professor do instituto da Bolsa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.