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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
O Brasil entrou - afinal - para o clube dos países tidos como seguros para investir. A agência de classificação de risco Standard & Poor's, a S&P, elevou hoje a nota de risco de crédito do Brasil de "BB+" para "BBB-", o que significa que o país já é "grau de investimento". O mercado foi pego de surpresa, pois a expectativa é que o país conseguisse a nova classificação apenas no último trimestre deste ano. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em alta de 6,33% e atingiu um novo recorde de pontos (67.868).
A nova avaliação é importante por seu impacto potencial nos investimentos estrangeiros no Brasil. A classificação de risco é uma ferramenta usada pelos investidores na hora de decidir onde irão aplicar o dinheiro. As notas concedidas pelas agências indicam qual é o risco de calote para o aplicador. Até a nota "BB+", que o país detinha a tarde desta quarta-feira, os países são considerados "grau especulativo". São, portanto, mais arriscados. A partir de agora, segundo a S&P, o risco de aplicar no Brasil é baixo.
Por isso mesmo, a tendência é de aumento no fluxo de dinheiro no Brasil, seguindo o padrão de quase todos os países que também subiram de patamar. A principal razão para isso é que muitos fundos de pensão estrangeiros têm uma limitação estatutária para investir em países sem o "grau de investimento". O Brasil entra agora no radar desse importante grupo - estima-se que os fundos de pensão detenham cerca de 25 trilhões de dólares para aplicar. Ninguém sabe quanto desse bolo o Brasil poderá atrair.
A nova nota coroa quase 15 anos de avanço macroeconômico. No comunicado divulgado pela S&P, a agência reconheceu em particular os esforços do Banco Central no combate à inflação. "Em contraste com pressões inflacionárias incontroladas em outros países com ratings mais baixos, o Banco Central do Brasil iniciou um ciclo de aperto em 16 de abril de 2008, para garantir que os benefícios duramente conquistados associados com a baixa inflação serão mantidos", afirmou Lisa Schineller, diretora da S&P. Até mesmo o Federal Reserve, o banco central americano, tem sido criticado por não ser suficientemente firme no controle de preços. O Fed reduziu nesta quarta-feira sua taxa básica de juros de 2,25% ao ano para 2%, confirmando a expectativa de grande parte dos analistas de mercado.
Ela destacou, porém, que a política fiscal segue como uma fragilidade brasileira. O principal entrave para a obtenção do "grau de investimento" vinha sendo o patamar da dívida pública, em 41,2% do PIB, muito acima do patamar de 20% do PIB para a média dos ratings BBB da agência. Apesar disso, o fato é que a dívida pública já foi de 57% em 2002.
Novas melhorias da nota estão condicionadas a um avanço mais sólido no front fiscal. "Passos de política para reduzir o nível do, e a rigidez no, atual gasto do governo, ou ambos, devem fortalecer a posição fiscal do Brasil e facilitar um declínio maior na taxa de juro, com implicações positivas para o investimento e crescimento e um declínio mais rápido nos encargos da dívida do país", disse Schineller. "A passagem das reformas tributária ou da previdência - que a S&P não espera dentro do horizonte de rating - seria um choque positivo para a confiança e contribuiria para fortalecer a qualidade de crédito."
*Com informações da Agência Estado