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Brasil Ecodiesel lidera valorização entre empresas de biocombustível na Bolsa

Após estréia conturbada na Bovespa, papéis da companhia destacam-se frente ao desempenho da Cosan e da São Martinho

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O biodiesel pode não atrair a mesma atenção que o etanol na busca por combustíveis mais limpos, mas, pelo menos na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), é o que mais se destaca. Das três empresas de biocombustíveis listadas no pregão paulista, a Brasil Ecodiesel, maior produtora nacional de biodiesel, é a que apresenta o melhor desempenho nos últimos meses. Já a Cosan e a São Martinho, voltadas à produção de etanol, sofrem com a depreciação do preço do açúcar no mercado mundial - ainda a maior fonte de receita dessas companhias.

Nesta quinta-feira (12/7), as ações ordinárias (com direito a voto) da Brasil Ecodiesel fecharam cotadas a 14,45 reais. Se considerado o pior momento dos papéis, quando chegaram a ser cotados a 8,80 reais em 22 de março, a alta acumulada é de 64,2%. No mesmo período, as ações da Cosan acumularam baixa de 14,8% e as da São Martinho, de 12,5%.

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A valorização dos papéis mostra que a Brasil Ecodiesel superou sua tumultuada estréia no mercado de capitais. Após uma oferta inicial de ações complicada, com dúvidas no mercado sobre a governança corporativa da empresa, os papéis saíram com um preço inicial de 12 reais, bem abaixo do valor mínimo avaliado pelos coordenadores (17 reais). "A perspectiva do mercado de biodiesel sustenta uma avaliação mais otimista dos papéis", afirma Marcos Paulo Fernandes Pereira, analista de investimentos da corretora Fator. A corretora projeta um preço-alvo de 19 reais para o papel no final de abril de 2008, e apresenta recomendação de compra aos investidores. O valor está na faixa superior das projeções das corretoras. O menor preço-alvo projetado pelos analistas para o período é de 16 reais.

Início conturbado

A chegada da Brasil Ecodiesel à Bovespa foi cercada de problemas. A empresa esperava uma captação entre 536,8 milhões de reais e 694,7 milhões de reais. No final, a operação levantou 378,9 milhões, devido à desconfiança do mercado acerca da real capacidade da empresa de cumprir o seu plano de investimentos.

Fundada no segundo semestre de 2004 pelo empresário Daniel Birmann - hoje afastado do controle - a empresa apresentou-se aos investidores bem menor do que é hoje. Quando foi ao mercado, contava com apenas uma usina de biodiesel em atividade - a de Floriano, no Piauí, com capacidade instalada de 45.000 metros cúbicos por ano. Desde então, a empresa inaugurou mais quatro unidades: Porto Nacional, em Tocantins; Crateús e Iraquara, no Ceará; e Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul. Sua capacidade de produção subiu para 520.000 metros cúbicos. Até o final do ano, a empresa espera atingir uma capacidade de 800.000 metros cúbicos, com a inauguração de novas usinas e a duplicação da planta de Floriano.

"Respondemos com resultados a todas as dúvidas dos investidores. Nos últimos seis meses, as vendas cresceram e cumprimos o plano de investimentos apresentado no IPO", afirma o diretor executivo de Finanças e Relações com Investidores da empresa, Ricardo Viana.

Sócio desconhecido

A maior polêmica, porém, surgiu às vésperas do IPO da empresa. A imprensa apontou a existência de um sócio desconhecido, a Eco Green Solutions, que detinha na época 47,7% do capital da companhia - hoje, esta participação é de 35,80%. A única informação disponível sobre esse sócio era de que se tratava de uma holding americana. Essa holding é controlada por uma trust, a BT Global Investment, sediada nas Ilhas Cayman.

A falta de informações levantou a suspeita de que, por trás do arranjo societário, estivesse o empresário Daniel Birmann. Em março de 2005, Birmann foi punido pela Comissão de Valores Mobiliários por abuso de poder econômico na reestruturação de uma de suas companhias - a SAM Indústrias. Além de uma multa de 243,175 milhões de reais, o empresário também foi proibido de exercer, por dois anos, a administração de empresas de capital aberto.

A desconfiança fez com que a CVM adiasse o IPO da Brasil Ecodiesel, marcado inicialmente para 13 de novembro, a fim de obter maiores informações. Além disso, foi autorizado que os investidores que já haviam reservado papéis desistissem da operação. Cerca de metade dos participantes suspendeu os pedidos. Assim, o IPO, apontado por alguns analistas como um bom negócio, atraiu no final 9.841 investidores, sendo 9.315 pessoas físicas. "Sempre prestamos todas as informações pertinentes com total transparência", diz Viana.

Papel alternativo

A atual cotação dos papéis ainda está longe da faixa de preço pretendida pela companhia em seu prospecto preliminar. Mesmo o preço-alvo projetado pelas corretoras não supera os 22 reais projetados como o máximo valor no IPO. Mas, para os analistas, a tendência de alta da Brasil Ecodiesel é uma opção para os investidores que procuram papéis entre as empresas de biocombustíveis.

É claro que o biodiesel e o etanol têm mercados distintos. O primeiro ainda é uma indústria nascente, apoiada em leilões de compra da Agência Nacional de Petróleo, e que deve contar com um impulso especial a partir do próximo ano, quando se tornará obrigatória a mistura de 2% do produto em cada litro de diesel mineral. Já o etanol é um mercado mais consolidado, com ampla aceitação entre proprietários de veículos de passeio, custos competitivos e cada vez mais atraente aos olhos de grandes grupos internacionais e fundos de investimento.

Mas, no mercado financeiro, é possível pensar em uma disputa desses papéis pelo interesse do investidor. "Faz algum sentido para o pequeno investidor migrar de usinas de açúcar e álcool para o biodiesel", afirma Pereira, da corretora Fator.

Não estão descartadas, entretanto, as chances de que, assim como acontece com o açúcar e o álcool, também haja excesso de oferta de biodiesel no futuro. O Ministério de Minas e Energia estima que, em 2008, a demanda por biodiesel seja de 840.000 metros cúbicos. Sozinha, a Brasil Ecodiesel terá capacidade para 800.000 metros cúbicos. Outros concorrentes também preparam-se para atender à demanda. Por esse motivo, segundo especialistas, é claro que o risco existe, mas alguns fatores o atenuam. O primeiro é o potencial de consumo de grandes clientes industriais, que já manifestaram interesse em misturar mais do que os 2% obrigatórios do óleo em seu diesel mineral. "Esse será um grande fator de crescimento do mercado, ainda não totalmente medido", afirma Viana, da Brasil Ecodiesel.

O segundo é o mercado externo. As empresas esperam escoar parte da produção sobretudo para a Europa, grande consumidora de biodiesel. Diante da escassez de terras para ampliar a produção local e com demanda crescente por combustíveis limpos, os europeus devem aumentar as importações.

Por último, há sempre a possibilidade de uma providencial ajuda do governo, que encara o biodiesel como um projeto social capaz de combater a miséria no Nordeste. Incentivos fiscais são dados às empresas que compram a matéria-prima do biodiesel de pequenos produtores rurais da região. "Diante de uma possível superoferta, o governo pode ampliar a taxa de mistura, por exemplo", diz Viana.

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