Aposentadoria: apenas 4% dos brasileiros guardaram recursos para a aposentadoria em doze meses (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2017 às 17h05.
Última atualização em 5 de outubro de 2017 às 14h50.
Vai até diz 8, domingo, a Semana Mundial do Investidor, ou World Investor Week 2017. Haverá debates em vários países sobre aprimoramentos na educação e proteção do investidor.
No Brasil, a agenda de atividades traz novidades para o mercado e ações de estímulo à conscientização e à educação financeira.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), como integrante e presidente do Comitê 8 da Organização Internacional das Comissões de Valores (Iosco) – Comitê Investidores de Varejo, organizou 22 eventos.
Em evento no Rio de Janeiro, a CVM apresentou o estudo ‘Educação financeira para além do conhecimento: estratégias de intervenção no comportamento de poupança’, que mostra que o brasileiro poupa significativamente menos que a média mundial.
Segundo levantamento realizado em 2014 pelo Banco Mundial (Bird), a proporção de poupadores da amostra brasileira (28%) equivale à metade do percentual relativo a todos os países (56,5%).
Apenas 4% dos brasileiros guardaram recursos para a aposentadoria em doze meses, enquanto 24% fizeram isso na média mundial.
Somente 36% dos brasileiros conseguiriam ter o equivalente a 1/20 do PIB per capita, indicador da renda por pessoa, para enfrentar uma emergência, contra 61% da amostra mundial.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas, nos últimos anos o brasileiro tem poupado menos do que na década de 70.
Comparativamente, mesmo em relação a países da mesma região, o padrão brasileiro seria baixo. Em 2008, o Brasil era o país latino-americano de menor poupança doméstica, ao lado da Bolívia.
Dados do Serviço de Proteção e Crédito ao Consumidor (SPC Brasil) mostram que 79% dos respondentes nas classes C, D e E não pouparam recursos financeiros nos primeiros seis meses de 2017 e a proporção de não poupadores nas classes A e B foi de 62%
Com foco nesse tema, a CVM organizou discussão sobre estratégias para tentar melhorar o comportamento de poupança dos brasileiros.
Uma pesquisa preliminar realizada pela equipe da CVM abordou o uso de ‘insights’ da psicologia e de outras ciências comportamentais para compreender comportamentos econômicos.
Com base nesse trabalho, a CVM lançou relatório com teorias da psicologia formuladas para compreender os mecanismos envolvidos na mudança de comportamento, bem como barreiras e vieses que impedem a adoção de comportamentos financeiros desejáveis.
Renata Massalai, da CVM, explicou que o material é um dos primeiros resultados do projeto da ‘CVM Educação Financeira para além do conhecimento’.
Segundo ela, o foco do projeto “é o desenvolvimento de produtos educacionais para estimular a formação de poupança entre mulheres de renda intermediária, que possuem potencial de poupança.”
A ideia é compreender não apenas o comportamento de poupança dos brasileiros, mas também utilizar métricas de avaliação psicológica para estudar o comportamento de poupança e avaliar o impacto dos produtos educacionais.
“Também foram realizados levantamentos referentes às principais intervenções e incentivo a comportamento de poupança”, explicou Renata.
Nesse caso, foram integradas a Economia Comportamental e Educação Financeira, que conectam Psicologia e Economia, juntamente com as principais teorias de mudança de comportamento.
As principais barreiras psicológicas apontadas pelo estudo como fatores que desfavorecem a formação de reservas financeiras são: falta de autocontrole, contabilidade mental, influências sociais e excesso de confiança.
Já entre os programas de educação financeira que trabalharam os vieses na tomada de decisão de poupança, destacam-se os produtos com comprometimento “rígido” e “leve”, testados nas Filipinas, EUA, Chile e outros países.
Um exemplo de compromisso rígido seria uma poupança cuja possibilidade de saque esteja atrelada ao acúmulo de valor previamente estabelecido ou a uma data futura, como um plano de previdência ou um título de capitalização.
Já um compromisso leve poderia ser, talvez, oferecer um cofre para poupança com o nome do objetivo escrito nele (exemplo: reserva para despesas de saúde).
O intuito, nesse último caso, é lembrar a pessoa da destinação do dinheiro quando ela pretender sacá-lo para outros propósitos.
Ainda de acordo com a pesquisa, mecanismos de inscrição automática, sobretudo em planos de aposentadoria complementar, foram aparentemente bem-sucedidos em incentivar formação de reservas de longo prazo.
Ou seja, em vez de pedir para o interessado se inscrever no plano de previdência, ele já é automaticamente incluído e tem de optar por sair se não quiser, o que vence a falta de iniciativa e insegurança de muitos poupadores.
Intervenções educativas oferecidas nos momentos importantes da vida financeira do indivíduo, como o recebimento do primeiro salário ou o lançamento de novo sistema de previdência, também costumam ter maior eficácia.
“O problema da baixa taxa de poupança das famílias é complexo e, para elaborar solução efetiva, é fundamental entender seus aspectos comportamentais” – destacou Frederico Shu, coordenador da comissão da CVM que fez o estudo.
Segundo compilação realizada pelo estudo, entre as conclusões dos pesquisadores está a de que um dos instrumentos mais utilizados para a formação de poupança é o dispositivo de compromisso, seja ele rígido ou leve.
Entretanto, nota-se que o comprometimento rígido, apesar de suas vantagens, pode ser contraprodutivo dependendo da necessidade de liquidez de cada pessoa.
Nesse sentido, a conclusão é que, para pensar um produto de poupança vinculado à educação financeira, é preciso levar em consideração o motivo da poupança: aposentadoria, proteção frente a choques financeiros (compromissos leves, como lembretes, são ferramentas promissoras), dentre outros.
Tomando como referência as teorias comportamentais, diz o estudo, pode-se afirmar que é preciso considerar os hábitos e crenças da população brasileira que impedem a formação de poupança.
O projeto prosseguirá, segundo os pesquisadores, com a concepção e elaboração de produtos educacionais para o público alvo selecionado ‒ indivíduos de renda intermediária com potencial de formação de reservas financeiras ‒ além da validação dos instrumentos de avaliação de impacto e busca de parceiros para a execução de um teste-piloto do protótipo a ser construído.
Também foi lançado no evento o novo folheto da CVM “Regras de ouro do bom investidor”, elaborado em conjunto com o Serviço de Proteção ao Crédito – SPC Brasil. Nele, são destacadas atividades primordiais no momento de investir:
1. Reorganize seu orçamento: saiba quanto pode guardar todo mês, programando a retirada automática dos recursos de sua conta se possível.
2. Entenda seu objetivo: os investimentos devem ter três objetivos claros: imprevistos, sonhos e aposentadoria.
3. Nivele sua disposição ao risco: o poupador deve entender se o risco da aplicação é adequado à situação financeira, à finalidade da reserva e à sua personalidade, seja ela arrojada ou conservadora.
4. Diversifique e acompanhe sua carteira: repare se seus investimentos estão convergindo para as suas expectativas e faça ajustes se necessário.
5. Esteja atento: busque informações e novidades em relação aos investimentos disponíveis.
6. Respeite o tempo: tenha determinação, paciência e disciplina. São os depósitos regulares e o efeito dos juros no tempo que farão sua reserva financeira crescer.
Para buscar mais informações sobre realização de palestras no evento basta acessar o site: http://semanadoinvestidor.cvm.gov.br/agenda-oficial/
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Arena do Pavini.