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Aos 51.000 pontos, a Bovespa ficou cara?

Analistas dão boas razões para a Bovespa continuar em alta - e também para uma bela realização de lucros

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O desempenho da Bovespa nas últimas seis semanas não deixa nada a desejar aos melhores momentos vividos por ela nos últimos anos. Com o fechamento desta terça-feira (5/5), o pregão acumula uma alta de 23,81% em relação a 31 de março. No ano, o Ibovespa já apresenta um ganho de 35%. Como comparação, basta lembrar que, em 2007, um ano que entrou para a história da bolsa brasileira, o retorno foi de 44%. Já em 2008, quando a crise financeira virou de ponta-cabeça as bolsas de todo o mundo, em seu ápice, a Bovespa acumulou um ganho anual de 15%. Por isso, a velocidade com que ela vem subindo levanta uma dúvida: no atual patamar, a Bovespa já ficou cara?

 Segundo um estudo da Ágora Corretora, a resposta é não. Quando comparada às dos demais países emergentes, a Bovespa ainda está barata. Um dos indicadores favoritos dos analistas para mostrar isso é o P/L, isto é, a relação entre o preço da ação e o lucro que ela gera. A corretora avaliou 11 bolsas emergentes. O P/L médio do grupo é 14,9. Já a Bovespa aparece com 12,4, em quinto lugar. Os dados foram colhidos no início de abril, antes, portanto, da disparada de 15,5% do mês passado. Mas, para Marco Antonio Melo, chefe da área de pesquisa e análise da corretora, o cenário não mudou muito. O desconto em relação às outras bolsas caiu, mas não zerou. "Isso ocorreu porque os outros emergentes também se valorizaram", diz.

Não chega a ser uma pechincha, já que a média do P/L é puxada para cima - bem para cima - pelas bolsas de Xangai e Hong Kong. Mas, em qualquer parte, ativos baratos são um chamariz para investidores em busca de oportunidades. Há uma percepção de que a bolsa brasileira ainda é uma boa opção, o que vem atraindo pessoas de todo o mundo. Esse é o primeiro motivo para a sua recente valorização. Neste ano, os investidores estrangeiros acumulam um saldo líquido positivo de negociações de 4,878 bilhões de reais até abril. E 73% desse saldo foram acumulados apenas no mês passado - o que justifica boa parte de sua disparada.

 Barato e rentável

Outra conta que os estrangeiros têm feito é a do retorno. Se em reais o desempenho da Bovespa anima, em dólares é ainda melhor. Até 5 de maio, o pregão acumula alta de 46,8%. Nos primeiros dias do mês, a rentabilidade foi de 8,7% em moeda estrangeira, contra 7,1% em reais. A maior parte do retorno vem da própria valorização dos papéis. A bolsa brasileira não está entre as que mais pagam dividendos no grupo dos emergentes. Segundo o estudo da Ágora, a Bovespa é a sexta entre as 11 bolsas avaliadas quando se considera o "dividend yield" - indicador que mostra quanto dividendo uma empresa paga pelo preço da ação. No caso, a média brasileira é de 3,6%. A bolsa tailandesa, líder nesse quesito, distribui 5,9%.

A atratividade da bolsa brasileira também aumentou, aos olhos dos investidores, quando os juros começaram a cair e a renda fixa passou a oferecer menos retorno. O Brasil, que por muitos anos liderou o ranking mundial de juros reais, hoje está na terceira posição, segundo a consultoria econômica Up Trend. O país, com juros reais de 5,8% ao ano, está atrás da China (6,6%) e da Hungria (6,4%).

Os investidores também não encontram muitos papéis atraentes no exterior. Os notes americanos - títulos públicos de médio prazo, com vencimento entre dois a dez anos - estão oferecendo uma rentabilidade de 3% ao ano. Já os fed funds - taxa básica de juros dos Estados Unidos - continuam oscilando na faixa de 0% a 0,25% ao ano, a fim de baratear o crédito e reerguer a claudicante economia americana. "O custo de carregamento desses papéis aumentou a disposição dos investidores a assumir riscos na renda variável", diz Melo, da Ágora.

Realização de lucros

No mercado, costuma-se dizer que prejuízos só viram prejuízos quando realizados. O mesmo ocorre com os lucros. Os investidores só receberão efetivamente seus lucros se venderem suas ações. E, para parte dos analistas, a Bovespa se aproxima de um momento de realização de lucros. "Quem entrou nos patamares de março talvez já queira realizar seu lucro", afirma Rossano Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos. Um lucro bastante razoável, diga-se, já que a valorização do Ibovespa, entre 2 de março e 5 de maio, bateu em 40%.

Outro argumento para que os investidores aproveitem o momento é simples: ninguém prevê o futuro. "A principal característica dessa crise é a incerteza", afirma um relatório da corretora Fator, assinado pela coordenadora de análises de investimento Lika Takahashi. Apesar de toda a disposição dos investidores de olharem a parte cheia do copo, ainda há muitas questões que precisam ser resolvidas para decretar oficialmente o fim da maior crise mundial desde a Grande Depressão dos anos 30.

Segundo Lika, entre os pontos que requerem cuidado, estão o fato de que o mercado imobiliário americano ainda não deu sinais claros de que bateu no fundo do poço - e de que, portanto, os sinais de sua recuperação são consistentes; o funcionamento ainda precário do sistema financeiro e a decorrente falta de crédito; a trilionária ajuda de governos de todo o mundo não vai durar para sempre, e a economia terá de provar que consegue andar sozinha em algum momento; o aumento do desemprego vai impactar o consumo e a taxa de confiança da população; os riscos inflacionários ainda não foram totalmente debelados; a racionalização produtiva está levando ao corte de capacidade instalada; e mesmo a China não pode salvar, sozinha, o mundo.

Ponto de saída

Ricardo Tadeu Martins, gerente de pesquisas da corretora Planner, também afirma que o mercado acionário pode assistir, em breve, a uma venda de papéis para realização de lucros. Segundo ele, restabelecer a liquidez do sistema financeiro será um processo demorado. Ele acrescenta que a maior parte dos países da Zona do Euro está em recessão, e há bastante dificuldade para que nações de todas as partes adotem soluções coordenadas para conter a crise, apesar de toda a boa vontade demonstrada em encontros de cúpula, como a última reunião do G-20. "Por todo esse cenário e pelo que enxergamos à frente, eu considero que o mercado já ficou caro. Acho que já está de bom tamanho", diz Martins.

Adivinhar o momento certo de sair da bolsa é uma daquelas perguntas de um milhão de dólares - às vezes, literalmente - no mercado. Segundo Melo, da Ágora, as análises gráficas apontam uma linha de resistência aos 51.000 pontos - um momento propício para desfazer posições e embolsar ganhos. "É um processo que não pode ser visto com maus olhos", diz.

Com gente vendendo muitos papéis, é natural que a bolsa, neste momento, apresente queda. Para Melo, essa realização de lucros pode forçar o Ibovespa a recuar para entre 47.000 e 48.000 pontos. Seria um movimento previsível e não haveria motivo para pânico. Segundo o analista, seria, inclusive, uma oportunidade de quem ainda não entrou na bolsa fazê-lo. Isto porque, apesar das oscilações naturais, os analistas enxergam perspectivas positivas para essa aplicação.

Ponto de chegada

Projetar qual será a valorização do Ibovespa no ano é outra pergunta do milhão. Aqui, porém, as estimativas divergem muito. A Planner, por exemplo, é bastante conservadora e projeta um Ibovespa de 44.000 pontos para dezembro. Segundo Martins, a estimativa pode ser revista, desde que dados mais consistentes de recuperação sejam divulgados.

A Ativa é a mais otimista. Em seu cenário base, divulgada em relatório de dezembro e ainda válido, a Bovespa terminará o ano aos 61.000 pontos. O principal ingrediente nessa projeção é a expectativa de que o Brasil cresça 3,3% neste ano - enquanto a média do mercado aponta para um retração do PIB em 2009. No cenário negativo da corretora, o Ibovespa subirá até 55.000 pontos. Para isso, o país teria de crescer 2,3%.

Como os analistas alertam, não há linhas retas na natureza e muito menos nos gráficos do mercado de capitais. Mesmo a expectativa mais pessimista, da Planner, representaria uma alta acumulada de 17% sobre os 37.550 pontos com que a bolsa encerrou 2008. Por isso, o mais aconselhável é manter a calma e saber aproveitar tanto os momentos de alta - para vender e obter lucros - e de baixa - para comprar. "O mercado tem uma boa perspectiva para o Brasil. As realizações de lucro são normais e boas para quem quer entrar", afirma Oltramari, da XP Investimentos.

 

O preço das bolsas
BolsaP/L*
Xangai39,3
Hong Kong23,3
Média14,9
México14,6
Portugal14,1
Coréia12,7
Brasil12,4
Índia10,6
Turquia10,1
Rússia9
Grécia8,4
*Preço/Lucro
Fonte: Ágora Corretora
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