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Ações da AmBev podem não ter chegado ao fundo do poço

Papéis já recuaram 35,6% desde o pico, mas mercado vê perda ainda maior caso a InBev eleve a oferta de compra da Anheuser-Busch

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A aquisição da americana Anheuser-Busch pela belgo-brasileira InBev pode ser considerada histórica para o capitalismo brasileiro por diversos motivos. Primeiro porque a empresa resultante da fusão seria a quarta maior companhia de bens de consumo do mundo. Depois porque o negócio foi arquitetado pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, hoje os maiores acionistas individuais da Inbev, que há anos sonham em criar a maior cervejaria do mundo. Além disso, o presidente da InBev, o brasileiro Carlos Brito, entraria para o time dos executivos mais poderosos do planeta.

No curto prazo, entretanto, a expectativa de realização do negócio tem gerado severas perdas para os acionistas da InBev e também da AmBev. No caso da empresa brasileira, as ações preferenciais (AMBV4), que chegaram a valer 146,86 reais em março, acumulam uma desvalorização de 35,6%. Nesta quarta-feira, os papéis fecharam cotados a 94,55, o menor valor dos últimos 12 meses.

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É verdade que o início do ciclo de aumento da taxa básica de juros da economia brasileira em abril e a turbulência nos mercados globais nas últimas semanas tiveram impacto nas cotações da empresa. Já a elevação do preço das matérias-primas elevou suas despesas. Além disso, os resultados do primeiro trimestre vieram abaixo das expectativas dos analistas. Para Renato Prado, analista da Fator Corretora, no entanto, cerca de 80% da queda das ações pode ser atribuída à oferta apresentada pela InBev à Anheuser-Busch.

Ele explica que os papéis da AmBev sofrem porque o mercado acredita que a empresa poderá, no médio ou longo prazo, fazer uma emissão de ações para ajudar a amortizar o empréstimo que será levantado pela InBev para o pagamento da aquisição. A empresa belga planeja tomar 40 bilhões de reais de um conjunto de bancos. Parte do mercado acredita que esse valor elevado pode levar a InBev a perder seu grau de investimento. Uma forma de reduzir o passivo ou melhorar o perfil da dívida seria a emissão futura de ações.

Em teleconferência, a InBev descartou que a AmBev faça parte da operação como compradora - hipótese originalmente cogitada por analistas porque só a empresa brasileira poderia amortizar parte do ágio embutido na aquisição. A AmBev também não ficaria com parte da empresa comprada. O temor de uma oferta de ações, entretanto, persiste. "Mas não dá para descartar que a empresa faça uma emissão daqui a um ano, por exemplo", afirmou Renato Prado.

Além disso, cresceu nesta semana a expectativa do mercado de que a InBev tenha que elevar a oferta de compra apresentada, de 65 dólares por ação da Anheuser-Busch. Após o conselho da empresa americana ter rejeitado oficialmente a primeira proposta, restaram à InBev dois caminhos: partir para uma oferta hostil (já que o controle da empresa é pulverizado) ou elevar o valor da aquisição. O banco Lehman Brothers acredita uma oferta hostil seria a última opção para a InBev e aposta em uma pequena elevação do valor da proposta, para algo entre 67 dólares e 72 dólares. O valor foi obtido considerando os múltiplos da última grande aquisição mundial no setor de cerveja: a compra da britânica Scottish and Newcastle pela holandesa Heineken.

Apesar de já estar sendo precificado pelo mercado, o possível aumento da proposta poderia penalizar ainda mais os papéis da InBev e da AmBev. Para o banco de holandês Theodor Gilissen, mesmo com o preço atual, a aquisição da Anheuser-Busch só seria vantajosa caso a união das duas empresa gerasse sinergias de 1,2 bilhão de dólares. No entanto, o banco lembra que as operações das duas empresas estão concentradas em países diferentes. Por isso, o corte de custos e o ganho com novas receitas poderia chegar a 944 milhões de dólares - já considerando o bom histórico de controle de despesas da empresa belgo-brasileira. "A InBev criaria muito mais valor não fazendo essa aquisição", diz o banco, que tem recomendação de venda para as ações.

Para a AmBev, ainda haveria um risco adicional. Alguns dos melhores executivos da empresa brasileira deverão ser alçados para postos-chave da Anheuser-Busch caso a aquisição seja bem-sucedida. O mesmo aconteceu quando a Interbrew comprou a AmBev, operação que levou à criação da InBev.

Longo prazo

Caso o investidor esteja disposto a fazer um investimento de longo prazo, no entanto, comprar ações da AmBev após os termos finais do negócio serem definidos pode ser um bom negócio. As cotações estão em um patamar historicamente baixo. A Fator Corretora, por exemplo, projeta um preço-alvo de 192,91 reais para os papéis - ou seja, há um potencial de valorização de mais de 100%.

A aquisição da Anheuser-Busch deve gerar algumas vantagens competitivas para a empresa, já que o segundo colocado no mercado de cerveja, a SABMiller, teria pouco mais da metade do tamanho da empresa originada pela fusão. O novo gigante alcançaria um poder de barganha inédito com fornecedores. Despesas poderiam ser eliminadas, principalmente nos Estados Unidos. Além disso, marcas como Budweiser, Bud Light, Corona, Stella Artois e Becks passariam a ter um alcance praticamente global. Para que todas essas vantagens possam virar realidade, entretanto, analistas estimam que possam ser necessários até três anos, um prazo considerado bastante longo por boa parte dos investidores que aplicam em renda variável.

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