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Ação da Drogasil dá o maior ganho ao investidor nos últimos 5 anos

Fora do radar de analistas e investidores, papel rendeu quase 1.250% no período

Drogasil: a mais rentável entre as cem ações mais negociadas na Bovespa
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A Drogasil, quarta maior rede farmacêutica do país, foi a companhia que mais gerou valor aos acionistas nos últimos cinco anos, segundo pesquisa da corretora Elite com os 100 papéis mais negociados na Bovespa. Listada no Novo Mercado, as ações ordinárias da empresa ( DRGO3 , com direito a voto) acumularam uma alta de 1.150% entre 2003 e 2008. No mesmo período, o Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, subiu 69%. A TAM, maior companhia aérea do país, ficou em segundo lugar, com alta de 931,89% para as ações preferenciais ( TAMM4 , sem direito a voto).

A empresa também é considerada uma boa distribuidora de lucros. No período analisado, ela distribuiu o equivalente a 94,69% do valor dos papéis em dezembro de 2003. Na prática, alguém que tenha comprado ações da Drogasil há cinco anos praticamente recuperou o valor nominal do investimento apenas com os dividendos. O desempenho a colocou como a oitava empresa que mais distribuiu lucros no período. Ao somar a valorização dos papéis com os dividendos, a Drogasil apresentou um retorno total aos acionistas de 1.244,69% - também o maior entre as ações analisadas pela Elite. "A Drogasil mostra que, apesar de a valorização dos papéis ser o mais visado pelos investidores, também é importante olhar para os dividendos", afirma o analista Alexandre de Macedo Marques Filho, responsável pela pesquisa.

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Quem mais deu retorno aos acionistas*
Empresa Ação Valorização (%)**
DrogasilDROG31.244,69
TAMTAMM41.018,11
Doc. ImbitubaIMBI4900
TelebrásTELB3900
TelebrásTELB4875
AES TietêGETI4583,44
Aços VillaresAVIL3489,93
João FortesJFEN3397,64
MetisaMTSA4367,64
PerdigãoPRGA3362,32
*Entre 31/12/2003 e 31/12/2008
**Valorização das ações mais dividendos
Fonte: Elite CCVM

A Drogasil ficou acima do desempenho do Ibovespa em quatro dos cinco anos analisados. O único em que seu resultado ficou aquém foi 2005, quando as ações caíram 15% e o Ibovespa subiu 30,07%. Em 2008, quando a crise das hipotecas americanas transformou-se em um turbilhão financeiro mundial que varreu os rendimentos de investidores, a Drogasil perdeu 30% do valor em bolsa - muito, mas abaixo do tombo de 41,20% do Ibovespa.

Ajuda da liquidez

Os destaques foram os anos de 2006 e 2007, quando as ações subiram 488,24% e 187%, respectivamente. Para se ter uma idéia, o Ibovespa apresentou uma alta acumulada de 87% no mesmo intervalo. Apesar de impressionante, o desempenho merece pelo menos uma ressalva. Até a oferta de ações realizada em julho de 2007, a liquidez da Drogasil na Bovespa era bastante baixa. Com isso, qualquer movimento mais forte de um investidor poderia influenciar pesadamente a cotação. A avaliação é do próprio presidente da companhia e diretor de Relações com Investidores, Cláudio Roberto Ely.

Por isso, para Ely, a companhia começou a ser melhor precificada pelo mercado após a oferta pública de ações promovida em julho de 2007. A preparação da oferta envolveu a conversão das ações preferenciais (sem direito a voto) em ordinárias. A medida foi necessária para que a companhia aderisse ao Novo Mercado, segmento da Bovespa com os critérios mais rígidos de governança corporativa. O passo seguinte foi o desdobramento dos papéis, na proporção de uma ação para 20 novas.

Na oferta, a Drogasil captou 392,690 milhões de reais, entre a emissão primária e secundária de papéis. A oferta atraiu mais de 7.000 investidores, sendo que os estrangeiros responderam por 67% do valor alcançado. O preço de distribuição foi de 15 reais por papel.

Atualmente, 48% das ações pertencem a investidores fora do bloco de controle da Drogasil. "Em 2006, a fatia de ações fora do grupo de controle era pequena, cerca de 9%", afirma Ely. Tudo isso melhorou a liquidez dos papéis, ou seja, a facilidade de comprá-los e vendê-los, o que aumenta o interesse dos investidores pela empresa. É verdade que, como toda small cap - grupo de ações de segunda linha do Ibovespa -, ainda há o risco de o investidor ter dificuldade para transacionar os papéis. O índice de liquidez da Drogasil, segundo a corretora Elite, é de 0,018 entre as 100 mais negociadas da bolsa. Para se ter uma idéia, o da Petrobras é 13,86 - 770 vezes maior.

Bons fundamentos

Mas não são apenas os fatores ligados ao mercado de capitais que influenciaram o comportamento dos papéis nos últimos anos. O modelo de gestão da empresa é considerado um exemplo. "A Drogasil é a melhor operação do ramo farmacêutico no Brasil", afirma um especialista no setor que pediu para não ser identificado. As grandes redes de farmácia ainda são marcadas pela gestão familiar. Mesmo naquelas que iniciaram a profissionalização, os fundadores ainda estão muito próximos do dia-a-dia.

Com 73 anos de existência, a Drogasil tornou-se uma sociedade anônima em 1972. Cinco anos depois, a empresa obteve o registro de companhia aberta da Comissão de Valores Mobiliários. A empresa iniciou a profissionalização de seu corpo diretor em meados dos anos 90. Engenheiro civil de formação, Ely foi nomeado presidente da rede em 1998, após passagens pelo setor financeiro - de onde trouxe alguns colaboradores - e de construção civil.

A direção adotou então algumas premissas para administrar o negócio. Até os anos 90, os interesses da empresa estendiam-se até mesmo à fabricação de alguns medicamentos. A primeira decisão foi focar a Drogasil no varejo de remédios. Como o setor de varejo tradicionalmente opera com margens reduzidas, a companhia também procurou trabalhar com o menor nível de endividamento possível. "Já vi empresas lucrativas quebrarem, mas nunca conheci uma empresa com fluxo de caixa positivo falida", afirma Ely.

Os resultados da empresa são bem recebidos pelo mercado. No terceiro trimestre, a Drogasil apresentou um lucro líquido de 14,1 milhões de reais, 34,3% maior que o do mesmo período de 2007. O ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) subiu 50,6%, para 19,3 milhões. E a margem de ebitda avançou meio ponto percentual, para 5,5%. Algo que chamou a atenção dos analistas foi a expansão de 21,1% das vendas, no critério "mesmas lojas" - aquelas com mais de um ano de atividade.

Expansão

De acordo com a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), há cerca de 55.000 farmácias no país. Apesar do ambiente extremamente pulverizado, que daria margem para consolidação, a Drogasil cresceu sobretudo com base na expansão orgânica, melhorando o desempenho de seus pontos-de-venda e abrindo outros. Quando Ely assumiu, em 1998, a rede contava com 116 unidades. Hoje, são 257, espalhadas por São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.

A entrada em Brasília foi a única que ocorreu por meio de aquisição. Capitalizada pela oferta de ações, em fevereiro do ano passado, a empresa comprou a rede Vison, que possuía 24 lojas, por um valor não informado. Segundo Ely, apesar do cenário pessimista de 2009, os planos de crescimento foram mantidos. "Nosso orçamento foi elaborado normalmente; ninguém vai deixar de realizar seu tratamento e comprar remédios por causa da crise", diz. O executivo dá a resposta-padrão de todo representante de companhia aberta, quando perguntado sobre possíveis aquisições: "sempre avaliamos todas as possibilidades de negócio".

Para o presidente da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, o perfil das redes brasileiras não favorece uma expansão via aquisições. Segundo Barreto, o interessante para as grandes redes é buscar concorrentes de médio porte, com 40 a 50 lojas. E, justamente nesse segmento, a oferta de boas opções de negócios é escassa. "Ou as redes são muito grandes, ou muito pequenas, com menos de dez lojas", afirma. Por isso, ele também aposta que as líderes do mercado seguirão uma estratégia de expansão orgânica.

O setor farmacêutico experimentou alguma movimentação no ano passado. Em maio, o grupo mexicano Casa Saba adquiriu a Drogasmil, décima maior rede brasileira, por cerca de 185 milhões de reais. Em outubro, a Droga Raia, quinta maior do setor, vendeu 30% do capital para os fundos de investimento Pragma e Gávea. No mesmo mês, o Pague Menos, maior rede farmacêutica brasileira, com 290 lojas, informou que vai investir na expansão no sudeste do país, justamente onde se concentra a atuação da Drogasil. Cearense, o Pague Menos é mais forte no nordeste.

Apesar do provável aumento da concorrência, especialistas acreditam que a Drogasil tem condições de dar um novo salto nos próximos anos. "Em 2009 ou 2010, devemos ver a Drogasil disputando o segundo lugar do ranking" com a Drogaria São Paulo e a Pacheco, afirma uma fonte que pediu anonimato. Se as expectativas se confirmarem, seria mais uma prova de que, em tempos de crise, ter uma gestão profissional e bastante dinheiro em caixa é o melhor remédio.

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