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Como a Receita está de olho no seu patrimônio pelas redes sociais

Flávio Vilela, diretor de fiscalização da Receita Federal, detalha que tipos de informações o Fisco busca no Facebook, YouTube e Instagram

Redes sociais (./Getty Images)

Marília Almeida

Publicado em 12 de abril de 2017 às 05h00.

Última atualização em 12 de abril de 2017 às 13h56.

São Paulo - O contribuinte declara que é dono de uma empresa que fatura 100 milhões de reais, mas posta fotos no Facebook participando de churrascos em uma comunidade. Outro nega ser o dono de uma empresa, mas aparece dando palestra para os funcionários em um vídeo no YouTube. Já outro nega ter qualquer vínculo com um "laranja", mas a ligação aparece em redes sociais , seja por meio de uma amizade ou fotos.

São esses tipos de informações que a Receita Federal busca na internet para verificar se as informações contidas na declaração do Imposto de Renda dos contribuintes são verdadeiras. "Agregamos pesquisas feitas pela internet e nas redes sociais a todas as informações que os auditores já têm, como documentos registrados em cartórios e extratos bancários", explica Flávio Vilela, diretor de fiscalização da Receita.

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E cada vez mais essa coleta de dados é aprimorada. Por exemplo, esse será o primeiro ano que o Fisco irá utilizar inteligência artificial para checar dados informados pelos contribuintes na internet. O uso da ferramenta permitirá à Receita coletar uma quantidade maior de informações de forma automatizada, em complemento ao trabalho de auditores especializados nesse tipo de busca. "Vamos atingir pessoas que não conseguíamos atingir antes", conclui o diretor. A inteligência artificialjá era usada para evitar sonegação de impostos nas operações de importação e exportação.

Engana-se quem pensa que essas pesquisas na internet feitas pela área de fiscalização do Fisco se restringem a contribuintes com patrimônio de mais de 1 milhão de reais, que exigem uma investigação mais complexa. "Também utilizamos esses recursos para buscar a origem de pequenos valores", conta Vilela.

Por conta do aprimoramento contínuo da fiscalização, nos últimos três anos a Receita Federal estima ter recuperado mais de 1 bilhão de reais em impostos, sonegados por cerca de 2 mil contribuintes.

Como é feita a pesquisa

Com base em documentos e extratos, a busca feita pela Receita pesquisa menções, vínculos e até fotos postadas nas redes sociais. O sistema geralmente utiliza palavras chaves para investigar bens de maior valor, como iates e aviões.

Já fotos de viagens ao litoral podem ser um sinal de que o contribuinte tenha patrimônio declarado naquela cidade, como imóveis. Ao constatar isso, a Receita faz uma pesquisa de bens relacionados ao contribuinte nos cartórios locais.

Mais do que agregar informações, essa varredura pode servir como prova para a cobrança de impostos. Foi o caso do empresário que apareceu dando palestra para a equipe de sua empresa no Facebook como diretor, mas negava a função. "Anexamos o vídeo como prova no processo para pagamento do imposto", conta Vilela.

Foco são "laranjas"

O alvo mais comum de pesquisas do Fisco pela internet é o que Vilela chama de "esvaziamento patrimonial". "O dinheiro que não é declarado geralmente não está no nome do contribuinte. Ele pode colocá-lo no nome de uma empregada doméstica ou de parentes próximos. Desde que não seja uma doação aos filhos, devidamente informada à Receita, isso é sonegação".

O diretor conta que muitas vezes a Receita tem elementos para elaborar um auto de infração (procedimento administrativo que é aberto quando se constata infrações, como falta de pagamento de impostos), como um grande volume movimentações financeiras. No entanto, o contribuinte não tem patrimônio em seu nome para que a sonegação seja comprovada. "Nesse caso, vamos atrás de informações para saber quem é o verdadeiro dono".

São os vínculos nas redes sociais, cruzados com informações sobre movimentações financeiras, que podem mostrar se o dinheiro está sendo transferido, e para onde.

Ainda que o contribuinte que é alvo da operação se preocupe em proteger os dados, menções a ele feitas por amigos na rede podem deixar rastros das infrações, conta Vilela. "Já conseguimos provar que um contribuinte era dono de uma empresa porque o motorista postou no Facebook que ele era o seu patrão".

 

 

 

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