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Wall Street briga para ter ações brasileiras

Novo ambiente de negócios "imita" bolsa e já conta com 5 empresas; número pode chegar a 25 até o final do ano

Mercado da OTCQX atrai empresas que buscam investidor estrangeiro sem assumir os altos custos da legislação americana (.)

Mercado da OTCQX atrai empresas que buscam investidor estrangeiro sem assumir os altos custos da legislação americana (.)

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Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2010 às 20h00.

São Paulo - Os investidores americanos querem mais acesso às empresas brasileiras. E o interesse é maior do que as 28 que já estão listadas na bolsa de Nova York, a NYSE. Para isso, restam duas alternativas. A primeira é o estrangeiro abrir uma conta em uma corretora brasileira e transferir recursos para cá e operar na BM&FBovespa. A segunda é comprar as ações em uma espécie de "mercado alternativo", conhecido como balcão.

O OTC, sigla para Over-the-Counter, é um ambiente que concentra os negócios de papéis de empresas que não estão na bolsa. Essas empresas não precisam, por exemplo, obedecer às rígidas regras de controle da SEC (Securities and Exchange Commission) e da lei Sarbane-Oxley, o que gera custos. Assim, elas lançam os programas de ADR nível 1 e ficam disponíveis aos investidores no mercado de balcão americano. Os American Depositary Receipts são papéis que representam as ações negociadas no Brasil.

De olho neste mercado, a empresa de Nova York PinkOTC lançou uma plataforma chamada OTCQX, que tenta transformar o balcão em um ambiente mais parecido com o de uma bolsa de valores. "Para o investidor, ela oferece mais transparência na disponibilidade de informações da empresa e da negociação do próprio papel. Os negócios são acompanhados em tempo real e os envolvidos na transação, o que não existe no balcão tradicional", explica Curtis Smith, responsável pelo setor de ADRs no Brasil do Bank of New York Mellon.

Visibilidade

Desde que foi lançada, em 2007, a plataforma já atraiu 5 companhias brasileiras. "É um caminho para os americanos e estrangeiros em geral que não conseguem entrar diretamente no mercado brasileiro. É também um ambiente com liquidez e regras atraentes", diz Gustavo Reichmann, gerente de relações com os investidores da ALL, que aderiu ao balcão QX na última segunda-feira (12). A empresa é a mais recente de uma lista que já conta com JBS, Klabin, Lupatech e MRV Engenharia e Participações.


"Com o sucesso de companhias como a JBS (primeira a entrar em maio de 2009), que viu um aumento da liquidez dos papéis desde a listagem sem grandes custos ou esforços, temos visto muito interesse de outras brasileiras que buscam alavancar as negociações dos papéis no mercado local", afirma o diretor geral da Pink OTC, Tim Ryan. O executivo espera ter 25 brasileiras listadas até o final do ano. "O nosso foco, entretanto, é mais em qualidade do que quantidade. O investidor americano quer empresas líderes setoriais no OTCQX", diz.

"O OTCQX expõe mais a companhia aos investidores americanos. Já no mês de março tivemos um aumento das negociações de ADRs da Klabin. Fica mais fácil encontrar os papéis da empresa", aponta Antônio Sérgio Alfano, diretor Financeiro, Planejamento e de Relações com Investidores da empresa. A Klabin, que negocia no mercado de balcão tradicional desde 1983, aderiu ao QX no mês passado. "O mercado de ADR nível 1 fica longe do nível dois ou três em liquidez, mas tem nos deixado muito satisfeitos", destaca Thiago Alonso de Oliveira, diretor de relações com investidor da Lupatech.

Competição

O crescimento desse novo mercado de balcão pode até incomodar a consolidada bolsa de Nova York. Além das empresas brasileiras e de outros países, também as americanas e canadenses estão buscando listar papéis ali.Tradicionalmente o ADR nível 1 é visto como um passo intermediário para a bolsa, mas isso começou a mudar. "O OTCQX surgiu para responder a uma demanda de empresas europeias indo na direção contrária. Elas viam o registro na SEC como custosa. Assim, algumas retiraram o registro, mas se mantiveram nos EUA por meio do balcão", explica Smith, do BNY Mellon.

Essa foi a decisão de empresas como Adidas, Roche, Alliance e BASF, entre outras. A NYSE foi procurada para comentar sobre a entrada de empresas no mercado de balcão, mas preferiu não comentar sobre o assunto.


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