Vale desaba 3% e Ibovespa fecha no pior nível do ano com risco Evergrande
Bolsa brasileira acompanha cenário externo negativo e chega ao quinto pregão consecutivo de queda
Beatriz Quesada
Publicado em 20 de setembro de 2021 às 17h22.
Última atualização em 20 de setembro de 2021 às 20h02.
Com temores sobre o superendividamento da incorporadora chinesa Evergrande se espalhando para todo o mercado internacional, o Ibovespa fechou em queda de 2,33%, nesta segunda-feira, 20, em 108.843 pontos. É o menor patamar desde novembro do ano passado. O pregão foi o quinto consecutivo de perdas do principal índice da B3.
Nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu 1,66% -- a maior queda desde maio. Com o predomínio da aversão ao risco, investidores buscaram proteção em dólar, fazendo a moeda americana subir no mundo todo. Aqui, o dólar avançou 1,32% e encerrou cotado a 5,352 reais.
Em Hong Kong, onde as ações da Evergrande são listadas, o índiceHang Seng caiu 3,3%, enquanto os papéis da companhia, mais de 10%. A forte desvalorização ocorreuapós a Bloomberg noticiar que a empresa, com um passivo de 300 bilhões de dólares -- o maior do mundo --, corre o risco de não pagar os juros de empréstimos bancários que vencem nesta quinta-feira, dia 23. De acordo com a agência, as autoridades locais estão trabalhando na reestruturação da dívida.
As incertezas provocaram uma grande onda vendedora de ações do setor imobiliário, que é um dos mais importantes para o crescimento da China. Em meio à desaceleração econômica e a maiores restrições na indústria do aço, o minério de ferro voltou a cair e, nesta madrugada, recuou 12% em Singapura, perdendo a faixa dos 100 dólares por tonelada.
“Toda vez que a China soluça e dá sinais de perda de apetite de fôlego no crescimento, o mundo inteiro sente. É um começo de semana bem difícil, que derruba novamente o minério de ferro e piora o cenário para o Brasil, afetando Vale e o setor de siderurgia”, explicou Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital, no programa Abertura de Mercado desta segunda-feira.
A desvalorização do minério de ferro teve duras consequências para as ações da Vale, que fecharam em queda de 3,30%, sendo uma das principais responsáveis pela queda do Ibovespa.
Com a segunda maior participação do índice, somente atrás da Vale, as ações da Petrobras (PETR3/PETR4) fecharam em queda de 1%, em linha com a desvalorização do petróleo brent no mercado internacional. Já a PetroRio (PRIO3), historicamente mais volátil, caiu 5,68%.Isso porque a piora na economia global também afeta o petróleo, que cai em torno de 1,7% de olho em uma possível redução da demanda. Já a petroquímica Braskem (BRKM5) desabou 11,41% e liderou as perdas do Ibovespa.
Por aqui, ainda segue no radar a reunião do Comitê de Política Monetária ( Copom ), que terá início nesta terça-feira, 21, com decisão de juros prevista para quarta, 22, junto com a decisão do Federal Reserve ( Fed, banco central americano).
As expectativas para quarta é de que o Copom eleve a taxa de juros em 1 ponto percentual para 6,25% ao ano. Até a última semana, o mercado vinha apostando em uma alta de juros mais forte, mas o Banco Central sinalizou que irá manter o “plano de voo”, indicando uma nova alta de 1 ponto percentual.
Nos Estados Unidos, a expectativa é que as taxas de juros continuem próximas de zero. A grande mudança pode vir do volume da recompra de títulos, que pode começar a ser reduzido gradativamente em um processo conhecido como tapering.
A redução de estímulos afeta principalmente as ações de tecnologia, mas dependentes de empréstimos para financiar seu crescimento acelerado. Como consequência, o índice de tecnologia Nasdaq é o que mais sofreu, recuando 2,3%.