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Tombini ergue ‘bandeira branca’ e perde confiança do mercado

Expectativa dos investidores para o aumento da inflação nos próximos anos continua aumentando

Alexandre Tombini, presidente do BC: analistas não acreditam que Selic vá subir (Valter Campanato/ABr)

Alexandre Tombini, presidente do BC: analistas não acreditam que Selic vá subir (Valter Campanato/ABr)

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Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2011 às 08h57.

Brasília/Nova York - A confiança na capacidade do Banco Central para conter a inflação é a menor em um ano, mostram os juros futuros. Foi essa a reação do mercado à decisão do BC de abandonar a meta de inflação este ano.

A taxa dos contratos de Depósito Interfinanceiro com vencimento em 2017 subiu 19 pontos-base esta semana, enquanto a taxa de 2012 recuou 13 pontos. Com isso, a diferença entre as duas chegou a 71 pontos, a maior desde 22 de abril. Em 14 de março, o spread era de 9 pontos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A diferença revela apostas que a relutância do presidente do BC, Alexandre Tombini, em continuar aumentando a taxa Selic significa que a inflação vai continuar acima da meta de 4,5 por cento, o que vai levar o BC a elevar os juros mais tarde, disse Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do BC.

“A credibilidade está começando a se desgastar”, disse John Welch, estrategista-chefe para mercados emergentes na Macquarie Capital Inc. em Nova York, em entrevista por telefone. “Você quer chegar e acabar com a dor de uma vez para estabelecer credibilidade. Eu teria feito mais se fosse ele.”

Países em desenvolvimento como Índia e África do Sul estão enfrentando uma alta na inflação por causa do aumento do preço do petróleo e da expnsão do crédito. Enquanto o presidente do BC sul-africano, Gill Marcus, disse em 29 de março que não será “bonzinho” no combate à inflação e que perseguirá a meta do país, Tombini disse no dia seguinte que não vão atingir a meta para 2011 porque os custos seriam “demasiado elevados”.

A expectativa de investidores para o aumento anual dos preços ao consumidor nos próximos seis anos, implícita na diferença de rendimentos entre títulos atrelados à inflação e os prefixados, subiu 42 pontos, ou 0,42 ponto percentual, desde que Tombini assumiu o cargo em 1º de janeiro para 671, segundo dados da Bloomberg. O teto da meta de inflação de 6,5 por cento.


Inflação acelerada

O BC vai usar a política monetária para “garantir a convergência da inflação para a meta em 2012”, segundo o Relatório Trimestral de Inflação publicado 30 de março. A inflação anual medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo- 15 se acelerou para 6,13 por cento nos 12 meses até meados de março, o nível mais alto desde novembro de 2008.

Tombini ergueu uma “bandeira branca” no combate à inflação, disse Arturo Porzecanski, professor de Finanças da American University em Washington.

Ele vai “perder credibilidade por causa disso”, disse Porzecanski em entrevista por telefone. “As expectativas para 2012, que têm estado bem comportadas, vão começar a subir e isso vai ser um problema. De certa forma, ele só está jogando o problema para o futuro.”

Perspectiva para os juros

O Relatório Trimestral de Inflação levou UBS AG e BTG Pactual a cortar projeções para o quanto o BC vai aumentar a Selic em 2011. Tombini aumentou a taxa em 50 pontos-base duas vezes este ano, levando-a a 11,75 por cento. Segundo os contratos de DI, os operadores apostam que Tombini vai elevar a Selic para 12,75 por cento até o fim do ano, contra expectativas de um aumento para 13,25 por cento em 9 de março.

O BC informou num comunicado enviado por e-mail que não faz comentários sobre o mercado.

A combinação de juros maiores, limites ao crédito ao consumidor e cortes nos gastos do governo será suficiente para trazer a inflação de volta à meta em 2012, disse Carlos Hamilton, diretor de Política Econômica do BC, a repórteres em Brasília em 30 de março. A autoridade monetária elevou o depósito compulsório e os requerimentos de capital em dezembro, como parte das chamadas medidas macroprudenciais para conter a expansão do crédito e baixar a inflação.

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