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Taxas em leilões do Tesouro indicam nervosismo de investidores

Custo de captação para governos de países emergentes está subindo devido à alta dos preços ao consumidor

A presidente Dilma Rousseff: governo limita quantidade de títulos vendidos (Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL)
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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2011 às 06h59.

Nova York e Brasília - O governo brasileiro rolou este mês o menor valor da dívida pública doméstica em dois anos e meio. A inflação elevou as taxas, o que obrigou o Tesouro Nacional a usar cerca de R$ 77 bilhões de suas reservas para pagar os compromissos com detentores de títulos públicos.

O Tesouro vendeu R$ 33,6 bilhões em títulos em janeiro, enquanto os vencimentos somaram de R$ 111 bilhões. É a maior quantia vencendo desde pelo menos 2005, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A taxa das Notas do Tesouro Nacional série F com prazo de 10 anos subiu 59 pontos-base, ou 0,59 ponto percentual nos últimos três meses para 12,81 por cento, o maior nível desde maio. Na Colômbia, a taxa de títulos do governo com vencimento em 2020 subiu 87 pontos-base no mesmo período, enquanto no México, a alta de títulos públicos com prazo similar aumentou 111 pontos.

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O custo de captação para governos de países emergentes está subindo devido à alta dos preços ao consumidor. O governo da presidente Dilma Rousseff está limitando a quantidade de títulos vendidos para evitar que o excesso de oferta eleve ainda mais as taxas, de acordo com Roberto Simões, chefe de tesouraria do BES Investimento do Brasil.

“O Tesouro não quer pressionar o mercado”, disse Simões em entrevista por telefone de São Paulo. “O mercado piorou muito por causa do medo da inflação.”

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 apontou uma inflação de 6 por cento nos 12 meses até meados de janeiro, o ritmo mais acelerado dede dezembro de 2008.

‘Parar de comprar’

As taxas dos títulos públicos também subiram depois que o governo triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras para aplicações de estrangeiros em renda fixa de 2 por cento para 6 por cento, como parte dos esforços para limitar a valorização do real. Os investidores estrangeiros tiraram um valor líquido de US$ 615 milhões do mercado brasileiro de renda fixa nos primeiros 25 dias de janeiro, depois de sacarem US$ 206 milhões em dezembro e US$ 8 milhões em novembro, segundo dados do Banco Central.


O IOF levou os estrangeiros a “parar de comprar”, disse Simões, do BES, uma unidade do Banco Espírito Santo SA, maior banco de Portugal por valor de mercado. “A demanda por títulos de longo prazo diminuiu. Eles eram os maiores compradores dos títulos.”

A última vez que o Tesouro rolou menos dívida do que o valor dos vencimento foi em julho. A rolagem de 30 por cento da dívida é a menor desde julho de 2008. A venda em janeiro também ficou 33 por cento abaixo da meta máxima de emissão do Tesouro, de R$ 50 bilhões, comparado a uma diferença de 11 por cento um ano antes.

As NTN-F com vencimento em 2021 saíram ontem com taxa média de 12,78 por cento. As NTN-F com prazo de 2017 também foram vendidas com taxa média de 12,78 por cento, a maior em um ano.

‘Aumentando consistentemente’

“A taxa vem aumentando consistentemente”, disse Pedro Tuesta, ex-diretor do banco central do Peru e hoje economista sênior da 4cast Inc. em Washington. “Se eles acham que está muito caro, eles reduzem a quantidade.”

Os leilões deste mês “estão completamente em linha com o nosso planejamento”, disse Paulo Valle, secretário-adjunto do Tesouro, ontem numa entrevista por telefone de Brasília. “Quando fazemos a nossa estratégia, pensamos no ano inteiro. Nós cumprimos a nossa meta. No leilão de hoje (ontem), reduzimos o lote porque o mercado está um pouco mais volátil.”

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