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Sanções à Rússia ampliam perdas de fundos temáticos dos Brics

Categoria caiu mais de 90% em relação ao pico e queda é acentuada neste ano, com ações de empresas russas chegando a ter o valor contábil zerado em certos casos

Líderes dos Brics em encontro na esfera do G20 em setembro de 2019 (Mikhail Klimentyev\TASS/Getty Images)
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Bloomberg

Publicado em 28 de março de 2022 às 12h22.

Última atualização em 28 de março de 2022 às 12h22.

Por Nishant Kumar e Loukia Gyftopoulou

Na virada do século, quando criou a sigla Bric, o então economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neill, não tinha a intenção de dar uma ideia para turbinar a propaganda dos fundos de investimento.

Mas as gestoras de recursos se apressaram para montar fundos com essa temática. Gestoras como Schroders, Franklin Templeton e a própria Goldman Sachs Asset Management abocanharam bilhões de dólares de clientes que buscavam ganhos com a combinação de investimentos no Brasil, na Rússia, na Índia e na China. Mais tarde, a África do Sul aderiu ao grupo, que se tornou Brics. Essa jogada de marketing fracassou e agora enfrenta uma crise existencial.

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A invasão da Ucrânia impede investimentos na Rússia. A MSCI removeu o país de seus índices de referência, inclusive do BRIC Index. A China, responsável por boa parte do índice, enfrenta desaceleração econômica e repressão sem precedentes ao setor de tecnologia, resultando em enormes perdas nas bolsas.

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Os fundos Brics recuaram 14,6% neste ano e o total de ativos nesses fundos desabou mais de 90% em relação ao pico para apenas US$ 3 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O colapso foi uma lição implacável sobre os perigos de certos fundos temáticos. A junção de quatro países emergentes tão diferentes, complexos e arriscados foi um jogo de palavras sagaz, mas não um investimento inteligente.

As economias desses países cresceram rapidamente, como previsto por O’Neill, mas suas ações não tiveram necessariamente o mesmo destino. O MSCI BRIC tem desempenho inferior ao do S&P 500 desde o início do século e inferior ao retorno total dos índices individuais dos quatro países.

“Não confunda os conceitos dos Brics”, disse O’Neill em entrevista. “Meu propósito ao criar a sigla não teve nada a ver com investimento”, explicou.

A promessa do BRIC

O artigo de O’Neill intitulado “Building Better Global Economic BRICs” foi publicado em 30 de novembro de 2001 e argumentava que a economia mundial seria impulsionada pelo crescimento dos mercados emergentes nas décadas seguintes. No artigo, o economista defendeu que os fóruns de elaboração de políticas governamentais, como o Grupo dos Sete (G7), fossem reorganizados para incorporar representantes dos Brics.

As gestoras de recursos se agilizaram. Dois dos maiores fundos sobreviventes -- o Schroder International Selection Fund BRIC e o Templeton BRIC Fund -- foram iniciados em 2005. O Goldman Sachs lançou seu próprio fundo no ano seguinte. O fundo Schroder atraiu mais de US$ 4 bilhões, enquanto o fundo Templeton acumulou US$ 3,3 bilhões até 2010.

No entanto esses fundos derraparam na segunda década do século e agora se deparam com uma calamidade. O fundo Schroder, que administrava US$ 710 milhões no fim de fevereiro, recuou 16% neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg. O fundo de US$ 450 milhões da Templeton caiu mais de 14% após zerar o valor contábil dos papéis de empresas russas negociados no mercado americano, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto.

O fundo Brics do Goldman Sachs perdia dinheiro efoi fechado em 2015, mas incorporado a um fundo mais amplo voltado para mercados emergentes. Diversas gestoras tomaram decisões semelhantes. A Bloomberg hoje monitora apenas 74 fundos Brics sobreviventes.

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