Correção das techs e fator Lula: as visões de Stuhlberger e Xavier
Luis Stuhlberger (Verde) e Rogério Xavier (SPX), dois dos mais bem-sucedidos gestores do Brasil, dizem que o mercado não precificou corretamente a iminente alta de juros nos EUA
Beatriz Quesada
Publicado em 1 de fevereiro de 2022 às 21h11.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2022 às 00h59.
O ano de 2022 começou com um movimento de rotação setorial nos mercados acionários. Investidores estrangeiros tiraram recursos das bolsas americanas – em especial das ações de crescimento, do setor de tecnologia – e foram à caça de papéis de valor descontados nos mercados emergentes. O resultado foi uma forte queda nos principais índices dos Estados Unidos em janeiro, entre 5% e 10% para o S&P 500 e a Nasdaq, enquanto o Ibovespa disparou 7%.
É possível, no entanto, que as correções sejam ainda mais fortes nos próximos meses. É o que acreditam dois dos gestores mais bem-sucedidos do país: Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset, e Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital. Ambos participaram nesta terça-feira, 1º de fevereiro, do evento Latin America Investment Conference, promovido pelo Credit Suisse, no qual compartilharam suas projeções para os mercados globais.
Tanto Xavier quanto Stuhlberger afirmaram que o mercado não está precificando corretamente o movimento de iminente alta na taxa de juros nos Estados Unidos e nos demais países desenvolvidos – o que é justamente a principal causa da rotação setorial observada nas últimas semanas. O consenso atual em Wall Street aponta uma sequência de cinco a seis elevações em 2022, com o juro ao fim do ciclo de aperto monetário por volta de 1,80% em 2024.
Os gestores, no entanto, acreditam que a taxa deve subir mais do que o esperado para conter a inflação. “Os próximos dois anos vão ser diferentes de tudo o que vimos na última década e deveríamos estar com a guarda alta”, alertou Xavier.
Para o sócio-fundador da SPX, o longo período de juros próximos a zero criou distorções no mercado, inflando preços de ativos que prometem alto crescimento mas ainda não entregam retorno.
“Não chega a ser uma bolha, mas eu não consigo, por exemplo, entender o valor da Tesla por mais que eu admire o negócio. Ocorre o mesmo com criptoativos e outras várias fintechs que registraram preços explosivos. Os ganhos ocorreram mais por uma política monetária desajustada do que pelo valor das companhias”, afirmou.
Stuhlberger disse que oS&P 500, principal índice de ações dos EUA, ainda teria que cair em torno de 10% para que fosse interessante aumentar a posição do Fundo Verde em ações americanas.
“Empresas que não têm nenhum fluxo de caixa e negociavam a múltiplos absurdos passaram por correção, mas o mercado ainda está subestimando certas pressões de custos nas margens das empresas”, disse o CIO.
Fluxo para o Brasil
A queda das ações de crescimento nos Estados Unidos trouxe um forte fluxo de recursos para a bolsa brasileira. O investidor estrangeiro ingressou com 30,61 bilhões de reais na B3 neste ano até o dia 28 de janeiro, data da última divulgação. O valor foi classificado como "surpreendente" na avaliação de Stuhlberger.
“Isso mostra que, quando valuation está muito barato, o gringo entra. Causou também uma valorização inesperada do real frente ao dólar, uma grande surpresa”, disse o gestor. O dólar comercial encerrou a terça-feira, dia 1º, negociado a 5,27 reais, em seu menor valor em quatro meses e meio. No fim de 2021, estava em 5,57 reais.
Fator Lula
Para Rogério Xavier, o fluxo de entrada do estrangeiro na bolsa pode estar associado também às sinalizações do ex-presidenteLuiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas, na direção ao centro e a políticas moderadas.
“O estrangeiro tem uma perspectiva de melhora para o Brasil com o Lula assumindo o poder. Não acredito que isso vá acontecer porque o orçamento é muito apertado e, para implementar a agenda petista, seria necessário aumentar impostos”, afirmou o sócio da SPX.
A visão é compartilhada por Stuhlberger, que enxerga riscos no que chamou de “agenda assistencialista” de Lula: possíveis gastos adicionais com aumentos de salários não seriam equilibrados com investimentos que impulsionassem o PIB potencial do Brasil. “Em seu primeiro governo, Lula teve sorte porque a bomba desse modelo estourou no colo da ex-presidente Dilma, sua sucessora”, afirmou.