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Por que a 2ª onda de coronavírus é o maior temor do mercado financeiro?

Aumento do número de casos na Ásia e nos Estados Unidos, após afrouxamento de isolamento social, causa preocupação entre investidores

Pequim: novos casos de covid-19 reaparecem, após afrouxamento do isolamento social (Kyodo News/Getty Images)
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Guilherme Guilherme

Publicado em 18 de junho de 2020 às 08h00.

Última atualização em 18 de junho de 2020 às 14h33.

Os processos de reabertura das economias provocaram euforia entre os investidores entre abril e maio, fazendo com que as bolsas de valores disparassem no mundo inteiro. No entanto, o surgimento de novos casos de coronavírus em locais que haviam obtido um maior controle sobre a doença aumenta o temor dos investidores sobre uma segunda onda de contaminação.

Na China , primeiro epicentro da doença, focos de covid-19 voltaram a aparecer. Em Pequim, escolas tiveram que ser novamente fechadas e, nesta quarta-feira, 17, mais de mil voos foram cancelados, após serem registrados 137 novos casos em seis dias.

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Nos Estados Unidos , que têm mais de 2 milhões de infectados e quase 120 mil mortos pela doença, seis estados, incluindo Texas e Flórida, tiveram recorde de novos casos na terça-feira, 16, após afrouxarem as quarentenas. Para especialistas, como Mike Ryan, chefe do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde, uma segunda onda pode ser “preocupante”. Este também tem sido a maior temor do mercado financeiro.

“Parte do movimento de alta ocorreu porque se estava imaginando uma recuperação econômica em ‘V’. Uma segunda onda pode retardar esse movimento. Se o crescimento do número de casos exigir a volta de um isolamento social mais rigoroso, pode haver um movimento de realização mais forte na bolsa e trazer bastante volatilidade”, disse Marcos Lorio, economista-chefe da Integral Investimentos.

De acordo com Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE ), uma segunda onda de contaminação faria com que o PIB mundial encolhesse 7,6% e limitaria a recuperação econômica de 2021 a 2,8%. Sem ela, a expectativa é de contração de 6% neste ano e crescimento de 5,2% no ano que vem. Para a OCDE, os estragos de uma segunda onda no Brasil pode ser ainda maior que no resto do mundo, resultando em retração de 9% do PIB.

Mas embora a preocupação sobre a segunda onda seja unânime no mercado, seus impactos nas ações são quase tão incertos quanto a dinâmica do vírus. Para parcela do mercado, os estímulos de governos e bancos centrais e devem ser suficientes para limitar as perdas. Outra parte vê a possibilidade de as bolsas caírem a ponto de retornarem para os menores patamares do ano.

Pelas projeções da gestora Trafalgar Investimentos, uma segunda onda de contaminação pode levar o Ibovespa até os 55 mil pontos, devido à deterioração econômica – cenário a que atribuem probabilidade de 40%. “[Nesse caso,] a dívida pública brasileira, que já não é saudável, pode ultrapassar 100%, aumentando a crise fiscal no país”, disse Guilherme Loureiro, economista-chefe da Trafalgar.

Loureiro, porém, considera como mais provável o cenário de uma recuperação em V, com forte retomada econômica já no segundo semestre. "É pouco provável que volte aos patamares pré-crise, mas alguns dados econômicos caíram muito e também estão voltando agora."

Arthur Mota, economista da Exame Research, vê a segunda onda de coronavírus como a principal ameaça às bolsas, mas acredita que a chance de ela ocorrer com a mesma intensidade da primeira seja baixa. “Não acho que vai explodir o número de casos. Na China, já fizeram essa contenção de forma rápida e as máscaras têm um efeito importante na contenção da contaminação”, disse.

Para Mota, contudo, a economia também não deve se recuperar de forma acerada, o que poderia frustar as expectativas de investidores mais otimistas. “Principalmente o setor de serviços não deve voltar para o nível pré-covid tão rápido. Quando o Federal Reserve anuncia que pretende manter o juros próximo de zero até 2022, ele está sinalizando que a taxa de crescimento vai ser bastante fraca a ponto de não gerar inflação”

Já Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, vê a possibilidade de uma nova onda de contaminação ser ainda maior do que o mercado espera. “As pessoas vão relaxando com a abertura, passa a não usar tanta máscara, álcool em gel. Dependendo do tamanho da onda, fecharia tudo de uma forma meio complicada e as empresas entrariam em um aperto muito maior. Aí o mercado poderia reagir muito pior do que no primeiro movimento”, afirmou.

A visão contrasta com a de Lorio, da Integral, que acredita que, mesmo com novo lockdown nas principais economias do mundo, o Ibovespa operaria em bandas mais largas, mas não abaixo de 80 mil pontos.

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