Mercados

Bolsas globais brigam por maior IPO do mundo — da Aramco

Em agosto, o diretor financeiro da empresa disse aos investidores que estava costurando a abertura de capital que deve arrecadar bilhões de dólares

Saudi Aramco: petrolífera saudita vendeu cerca de US$ 12 bilhões em títulos este ano

Saudi Aramco: petrolífera saudita vendeu cerca de US$ 12 bilhões em títulos este ano

DR

Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2019 às 12h29.

Última atualização em 18 de setembro de 2019 às 14h15.

Londres – Recentes mudanças no alto escalão da estatal petrolífera saudita Saudi Aramco representam mais um passo da retomada dos trabalhos de preparação para realizar a maior oferta inicial pública de ações do mundo.

O antigo diretor-presidente da Aramco, Khalid al-Falih, que também é o ministro da Energia do país, foi retirado de seu cargo na empresa pelo governo saudita.

A mudança elimina — ao menos superficialmente — o problema de ter a mesma pessoa no comando da maior petrolífera do mundo e do Ministério da Energia da Arábia Saudita. Alguns investidores se mostraram preocupados com isso quando a Aramco vendeu cerca de US$ 12 bilhões em títulos este ano, em sua primeira tentativa de participar dos mercados de capital aberto.

Além disso, o novo diretor-presidente da estatal, Yasir al-Rumayyan, também conta com uma vantagem essencial para ocupar qualquer posto de liderança na Arábia Saudita de hoje: ele é considerado uma figura próxima de Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e verdadeiro líder do país. Al-Rumayyan também está a cargo do fundo soberano da Arábia Saudita, avaliado em US$ 320 bilhões.

Al-Rumayyan foi banqueiro durante boa parte de sua carreira e, por isso, analistas acreditam que ele pode trazer uma abordagem mais orientada para finanças, se comparado a al-Falih, o ex-executivo-chefe da Aramco que tem formação em engenharia e atualmente representa a Arábia Saudita em reuniões na Opep.

Al-Rumayyan, de 49 anos, abordará a Aramco simplesmente “como um ativo que precisa ser administrado; Khalid, por outro lado, vê a empresa como parte fundamental da economia nacional”, afirmou Ayham Kamel, diretor de pesquisa do Oriente Médio e do Norte da África na empresa de análise de risco político Eurasia Group. Em outras palavras, al-Rumayyan terá menos dificuldades que al-Falih para fazer mudanças na empresa, que conseguiu preservar um alto nível de autonomia, apesar de ser estatal.

Ao abrir o capital da Aramco, o príncipe herdeiro arrecadará dinheiro o suficiente para realizar uma verdadeira transformação na economia do reino. A venda de até mesmo uma pequena parcela das ações da Aramco – o reino planeja vender cerca de cinco por cento da empresa – arrecadaria dezenas de bilhões de dólares.

Há cerca de um ano, a Aramco cancelou inesperadamente os planos de realizar a IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês), quando o preço do petróleo estava em baixa, optando, em vez disso, por adquirir uma parte da Sabic, uma gigantesca fabricante de produtos químicos controlada pelo Fundo de Investimento Público saudita.

Qualquer chance de realizar a IPO perdeu força após o assassinato e esquartejamento de Jamal Khashoggi, um dissidente saudita e colunista do “The Washington Post” que desapareceu depois de entrar em um consulado saudita em Istambul, em outubro do ano passado. O príncipe herdeiro Mohammed foi indicado como mandante do crime por agentes de inteligência dos EUA e por uma investigação das Nações Unidas.

Mas o plano ganhou vida nova e, em agosto deste ano, o diretor financeiro da empresa disse aos investidores que estava preparado para a oferta inicial pública. A companhia já tinha aumentado a transparência e a clareza financeira para agradar aos investidores internacionais e o comentário do diretor financeiro de que a empresa está pronta para vender ações foi feito durante sua primeira comunicação de ganhos.

O interesse renovado em uma oferta pública inicial sugere que o príncipe herdeiro acredita que a enorme controvérsia em torno do assassinato de Khashoggi está passando e que pode, portanto, dar continuidade a seus planos.

O Fundo de Investimento Público, que continuará sob o comando de al-Rumayyan, provavelmente receberá os valores oriundos da venda das ações da Aramco que pertencem ao governo saudita. O fundo está se transformando “em um tipo de banco de desenvolvimento nacional” para a realização dos projetos do príncipe herdeiro, afirmou Karen Young, do American Enterprise Institute, uma empresa de pesquisa de mercado com sede em Washington.

A Aramco ainda precisa escolher onde a empresa negociará suas ações, o que representaria um enorme triunfo para qualquer bolsa de valores. Para a Aramco e para os sauditas, essa escolha é, sob muitos aspectos, a parte mais importante do processo da oferta inicial pública, de acordo com alguns observadores.

“Não se trata apenas dos resultados financeiros”, afirmou David Buck, sócio do escritório de advocacia Sidley Austin, em Houston, especializado em empresas petrolíferas. Os termos da oferta de ações, incluindo a escolha da bolsa de valores, serão “um comentário da Aramco sobre a própria empresa e o país”.

A Aramco afirmou que gostaria de movimentar suas ações na Tadawul, a bolsa de valores da Arábia Saudita em Riad, e em algum mercado internacional. A bolsa de valores saudita tem reforçado seus recursos tecnológicos para lidar com o enorme volume de negócios que a abertura das ações da Aramco traria.

No momento, os olhos do mundo se voltam para onde a Aramco venderá suas ações fora do Oriente Médio. Mas a escolha também pode trazer algumas dificuldades para a empresa.

Entre as principais bolsas de valores que desejam negociar as ações da Aramco estão:

– A Bolsa de Valores de Nova York, que é a maior do mundo em capitalização de mercado e a preferida do príncipe Mohammed, devido ao seu prestígio. (O presidente Donald Trump incentivou publicamente a vinda da Aramco para Nova York em 2017.) Entretanto, profissionais especializados em IPOs afirmam que vender as ações da Aramco nos EUA pode deixar o governo saudita vulnerável a processos decorrentes dos ataques terroristas do 11 de setembro, entre outros.

– A Bolsa de Valores de Londres também tem muita liquidez e seus executivos conversaram recentemente com autoridades sauditas durante a visita oficial de uma delegação britânica a Jeddah. A bolsa londrina também tornou menos rígidas as regras para empresas estatais, o que representa, segundo críticos, uma jogada para atrair a Aramco. Porém as incertezas em torno da saída do Reino Unido da União Europeia podem diminuir as chances de Londres.

– A Bolsa de Valores de Hong Kong também mudou suas regras para beneficiar empresas como a Aramco. A instituição criou o que chama de linhas de “conexão primária” com a China, o que ajuda as grandes instituições financeiras chinesas a investir diretamente em ações negociadas em Hong Kong. Mas a turbulência dos protestos que tomaram conta da ilha nos últimos meses deve se prolongar, trazendo dúvidas sobre a escolha da bolsa.

– A Bolsa de Valores de Tóquio é a terceira maior do mundo em capitalização de mercado, depois da Nasdaq, e a Aramco tem uma série de laços com o Japão. Com sede em Tóquio, o gigante do setor de tecnologia SoftBank firmou parcerias com os sauditas em diversos projetos, incluindo o fundo de capital de risco Vision Fund, avaliado em cerca de US$ 100 bilhões. (Al-Rumayyan é membro do conselho diretivo do SoftBank.) A Aramco fornece cerca de um terço do petróleo cru consumido pelo Japão, de acordo com a empresa. Mas a Bolsa de V,alores de Tóquio não tem o mesmo prestígio que as de Nova York, Londres e Hong Kong.

Acompanhe tudo sobre:Exame HojeIPOsSaudi Aramco

Mais de Mercados

O plano da Reag para reerguer a GetNinjas (NINJ3)

Bolsas da Europa fecham em baixa, devolvendo parte dos ganhos em dia de CPI da zona do euro

Gavekal: inflação machuca, mas é a pobreza o maior problema dos EUA

Ibovespa fecha perto da estabilidade dividido entre Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4)

Mais na Exame