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Os efeitos de um BC falador no mercado

A sinalização de uma Selic mais baixa animou os mercados há uma semana e agora o sinal contrário traz queda ao Ibovespa

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central: mercado opera com sinalizações sobre juros (Álvaro Motta/EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de março de 2012 às 06h00.

São Paulo – A última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) surpreendeu o mercado e trouxe um corte de facão na Selic , que perdeu 0,75 ponto percentual quando poucos economistas acreditam que algo acima de 0,50 ponto percentual fosse possível.

O efeito no mercado veio rapidamente e papéis como os de construtoras e de setores ligados ao consumo, com destaque para as ações do Pão de Açúcar, subiram na expectativa de mais cortes fortes ao longo do ano.

Na quinta-feira, tudo mudou. A divulgação da ata da última reunião da instituição mostra que, ao contrário do que pensava o mercado, a taxa básica de juros não deve ficar menor que 9% até o final deste ano.

Com a divulgação da ata, o mercado ajusta suas posições. Os juros futuros dispararam, marcando as maiores altas desde 2009 durante o pregão. A bolsa também sofreu o efeito dos ajustes e o Ibovespa registrou queda.

Deixar o mercado informado sobre o que acontece, claro, é positivo. “Quanto mais sinalização o BC dá, mais clareza ele tenta transmitir justamente para tentar tirar a volatilidade do mercado”, afirma Felipe Miranda, analista da Gradius Gestão.


A atitude do Banco Central no Brasil, contudo, não é uma invenção do presidente Alexandre Tombini, mas uma tendência. “Isso é algo que o Federal Reserve está fazendo nos Estados Unidos, ao informar o que pretende fazer com os juros no futuro”, diz Tony Volpon, chefe de pesquisas para a América Latina do banco Nomura.

No caso do Fed, que já colocou os juros na faixa dos zero por cento, esse é até mais um instrumento para dar fôlego para a economia, já que o espaço para baixar juros praticamente acabou. No Brasil, porém, ainda tem muitos fundamentos que influenciam na taxa e acabam tornando essa comunicação, inicialmente bem intencionada, em confusa. “A comunicação do BC tem sido um tanto volátil, mas isso pode ser fruto de uma volatilidade dos fundamentos em si”, avalia Volpon.

Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citi Brasil, concorda que a volatilidade está mesmo nos fundamentos e não na comunicação do BC com o mercado. “Além dos juros, o Brasil está usando mais ferramentas, como medidas para controlar o câmbio. Por isso, hoje está muito mais difícil prever o caminho dos juros”, diz.

Como o mercado financeiro opera com expectativas, toda sinalização reflete nos investimentos. “Os sinais alteram radicalmente a maneira de operar”, resume Miranda, da Gradius. Ele exemplifica que uma sinalização de juros mais baixos abre espaço para aplicações em títulos como NTN-B ou em ativos de renda variável ligados ao setor imobiliário, por exemplo.

Mas conforme os fundamentos ficarem mais sólidos e as sinalizações se confirmaram, essa volatilidade tende a diminuir. “Embora crie uma volatilidade temporária nos ajustes de mercado, no longo prazo tem o benefício de reduzir as incertezas sobre a inflação”, diz Sebastien Galy, estrategista sênior de câmbio do Société Générale.
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São Paulo – A última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) surpreendeu o mercado e trouxe um corte de facão na Selic , que perdeu 0,75 ponto percentual quando poucos economistas acreditam que algo acima de 0,50 ponto percentual fosse possível.

O efeito no mercado veio rapidamente e papéis como os de construtoras e de setores ligados ao consumo, com destaque para as ações do Pão de Açúcar, subiram na expectativa de mais cortes fortes ao longo do ano.

Na quinta-feira, tudo mudou. A divulgação da ata da última reunião da instituição mostra que, ao contrário do que pensava o mercado, a taxa básica de juros não deve ficar menor que 9% até o final deste ano.

Com a divulgação da ata, o mercado ajusta suas posições. Os juros futuros dispararam, marcando as maiores altas desde 2009 durante o pregão. A bolsa também sofreu o efeito dos ajustes e o Ibovespa registrou queda.

Deixar o mercado informado sobre o que acontece, claro, é positivo. “Quanto mais sinalização o BC dá, mais clareza ele tenta transmitir justamente para tentar tirar a volatilidade do mercado”, afirma Felipe Miranda, analista da Gradius Gestão.


A atitude do Banco Central no Brasil, contudo, não é uma invenção do presidente Alexandre Tombini, mas uma tendência. “Isso é algo que o Federal Reserve está fazendo nos Estados Unidos, ao informar o que pretende fazer com os juros no futuro”, diz Tony Volpon, chefe de pesquisas para a América Latina do banco Nomura.

No caso do Fed, que já colocou os juros na faixa dos zero por cento, esse é até mais um instrumento para dar fôlego para a economia, já que o espaço para baixar juros praticamente acabou. No Brasil, porém, ainda tem muitos fundamentos que influenciam na taxa e acabam tornando essa comunicação, inicialmente bem intencionada, em confusa. “A comunicação do BC tem sido um tanto volátil, mas isso pode ser fruto de uma volatilidade dos fundamentos em si”, avalia Volpon.

Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citi Brasil, concorda que a volatilidade está mesmo nos fundamentos e não na comunicação do BC com o mercado. “Além dos juros, o Brasil está usando mais ferramentas, como medidas para controlar o câmbio. Por isso, hoje está muito mais difícil prever o caminho dos juros”, diz.

Como o mercado financeiro opera com expectativas, toda sinalização reflete nos investimentos. “Os sinais alteram radicalmente a maneira de operar”, resume Miranda, da Gradius. Ele exemplifica que uma sinalização de juros mais baixos abre espaço para aplicações em títulos como NTN-B ou em ativos de renda variável ligados ao setor imobiliário, por exemplo.

Mas conforme os fundamentos ficarem mais sólidos e as sinalizações se confirmaram, essa volatilidade tende a diminuir. “Embora crie uma volatilidade temporária nos ajustes de mercado, no longo prazo tem o benefício de reduzir as incertezas sobre a inflação”, diz Sebastien Galy, estrategista sênior de câmbio do Société Générale.
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