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Operadores duvidam de promessa de Tombini para inflação em 2012

Para eles, o Banco Central não conseguirá levar a inflação para o centro da meta no próximo ano

Os títulos atrelados à inflação - as Notas do Tesouro Nacional da série B - oferecem ao investidor proteção contra aumentos nos preços (Germano Lüders/EXAME)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de julho de 2011 às 09h35.

Nova York e Brasília - Operadores do mercado de renda fixa estão apostando que o Banco Central não conseguirá cumprir a promessa de levar a inflação para o centro da meta em 2012. Seria o terceiro ano seguido de resultado acima do alvo central.

A taxa implícita de inflação para os próximos dois anos, refletida na diferença de taxas entre títulos públicos atrelados à inflação e os contratos de Depósito Interfinanceiro, subiu ontem para 5,69 pontos percentuais, o maior nível em dois meses de, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O presidente do BC, Alexandre Tombini, garantiu que o País vai ter inflação no centro da meta de 4,5 por cento em 2012, depois de admitir que essa meta não será alcançada este ano.

Diante dos aumentos salariais, investidores reforçam apostas de que o BC não será capaz de cumprir a promessa para 2012, após o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ter chegado ao maior patamar em seis anos de 6,71 por cento nos 12 meses até junho. Segundo todos os 44 economistas consultados pela Bloomberg, o Comitê de Política Monetária, liderado por Tombini, vai elevar o juro básico em 25 pontos-base, ou 0,25 ponto percentual, para 12,5 por cento amanhã.

“O mercado não acredita que o Banco Central vai atingir a meta”, disse Marcelo Schmitt, gestor de carteira de renda fixa em São Paulo da SulAmérica Investimentos, que administra R$ 20 bilhões, em entrevista por telefone. “Novamente as pessoas se sentem mais confortáveis com os títulos atrelados à inflação.”

Nos Estados Unidos, a taxa implícita de inflação em dois anos é de 1,65 por cento, enquanto uma medida similar no Chile é de 3,23 por cento, de acordo com dados da Bloomberg.

Perspectiva de inflação

Os títulos atrelados à inflação -- as Notas do Tesouro Nacional da série B -- oferecem ao investidor proteção contra aumentos nos preços. As NTN-B dispararam nos últimos 30 dias. O rendimento dos papéis com vencimento em maio de 2013 caiu 22 pontos-base, ou 0,22 ponto percentual, no período, para 6,63 por cento, no período, segundo dados da Bloomberg. A taxa do DI com vencimento em julho de 2013 subiu 20 pontos-base para 12,67 por cento, enquanto o rendimento dos títulos prefixados do governo com vencimento em janeiro de 2013 subiram 19 pontos base para 12,77 por cento.


O IPCA vai avançar 6,3 por cento este ano e 5,2 por cento em 2012, segundo pesquisa do BC com economistas publicada ontem. Em janeiro, o mercado projetava que a inflação se desaceleraria para 5,3 por cento este ano e 4,5 por cento em 2012. O IPCA subiu 5,9 por cento em 2010.

A meta do BC é de inflação de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. O Brasil é a única grande economia da América Latina onde a inflação está acima da meta do governo, segundo dados da Bloomberg.

‘Nenhum sinal’

O aumento dos salários e dos gastos dos consumidores embala a alta do custo de vida. O salário médio real subiu 4 por cento em maio, em relação a um ano antes, para R$ 1.567 ao mês. De acordo com uma fórmula do governo, o salário mínimo vai aumentar mais de 13 por cento no ano que vem, sendo que 66 por cento das aposentadorias e desembolsos de previdência são atrelados ao salário mínimo. As vendas no varejo cresceram 0,6 por cento em maio.

“O mercado de trabalho, até o momento, não mostra nenhum sinal de ajuste real”, disse Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do BC que hoje atua como sócio da Tandem Global Partners LLC, em entrevista por telefone. “É necessário que a demanda nominal entre mais rapidamente em convergência com a economia real, e para isso são necessários aumentos de juros.”

A taxa do DI com vencimento em outubro teve alta para 12,42 por cento, indicando que as expectativas dos investidores estão divididas em relação a um aumento da Selic na reunião do Copom em agosto, segundo dados compilados pela Bloomberg. O BC subiu a Selic em 150 pontos-base este ano.

A inflação pode se acelerar para 7 por cento este ano e encerrar 2012 em 5 por cento se o Copom não elevar o juro básico também em agosto depois de fazer uma alta amanhã, disse Vieira da Cunha.

Reversão das commodities

“Meu medo é que o Banco Central faça uma pausa após este encontro”, disse ele.

O BC se recusou a fazer comentários para esta reportagem, segundo comunicado enviado por e-mail.

A queda dos preços das commodities vai compensar a alta do núcleo da inflação, permitindo que o BC traga a inflação para mais perto da meta, segundo Neil Shearing, economista para mercados emergentes da Capital Economics Ltd. em Londres.

O Índice de Commodities Composto do BC, conhecido como IC- Br, recuou 7,5 por cento desde março, após salto de 41 por cento nos 12 meses anteriores.

“As pressões inflacionárias globais devem começar a retroceder no ano que vem”, disse Shearing em entrevista por telefone. “Vai haver uma enorme reversão do choque de preços de commodities, que foi o principal motor da inflação no Brasil.”

O Copom inicia hoje sua reunião de dois dias para decidir como ficam os juros. O anúncio da Selic sai amanhã, depois do fechamento do mercado.

O risco de não atingir a meta central de 4,5 por cento em mais um ano é que o BC perderá credibilidade, o que prejudicaria as expectativas de inflação, disse Alexandre Schwartsman, ex- diretor da instituição.

“Eles correm o risco de perder a batalha em mais um ano”, disse Schwarstman, que está montando sua consultoria própria, em entrevista por telefone de São Paulo. “A questão é quanto o BC quer levar a inflação para a meta. O movimento até agora foi pequeno e atrasado.”

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Nova York e Brasília - Operadores do mercado de renda fixa estão apostando que o Banco Central não conseguirá cumprir a promessa de levar a inflação para o centro da meta em 2012. Seria o terceiro ano seguido de resultado acima do alvo central.

A taxa implícita de inflação para os próximos dois anos, refletida na diferença de taxas entre títulos públicos atrelados à inflação e os contratos de Depósito Interfinanceiro, subiu ontem para 5,69 pontos percentuais, o maior nível em dois meses de, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O presidente do BC, Alexandre Tombini, garantiu que o País vai ter inflação no centro da meta de 4,5 por cento em 2012, depois de admitir que essa meta não será alcançada este ano.

Diante dos aumentos salariais, investidores reforçam apostas de que o BC não será capaz de cumprir a promessa para 2012, após o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ter chegado ao maior patamar em seis anos de 6,71 por cento nos 12 meses até junho. Segundo todos os 44 economistas consultados pela Bloomberg, o Comitê de Política Monetária, liderado por Tombini, vai elevar o juro básico em 25 pontos-base, ou 0,25 ponto percentual, para 12,5 por cento amanhã.

“O mercado não acredita que o Banco Central vai atingir a meta”, disse Marcelo Schmitt, gestor de carteira de renda fixa em São Paulo da SulAmérica Investimentos, que administra R$ 20 bilhões, em entrevista por telefone. “Novamente as pessoas se sentem mais confortáveis com os títulos atrelados à inflação.”

Nos Estados Unidos, a taxa implícita de inflação em dois anos é de 1,65 por cento, enquanto uma medida similar no Chile é de 3,23 por cento, de acordo com dados da Bloomberg.

Perspectiva de inflação

Os títulos atrelados à inflação -- as Notas do Tesouro Nacional da série B -- oferecem ao investidor proteção contra aumentos nos preços. As NTN-B dispararam nos últimos 30 dias. O rendimento dos papéis com vencimento em maio de 2013 caiu 22 pontos-base, ou 0,22 ponto percentual, no período, para 6,63 por cento, no período, segundo dados da Bloomberg. A taxa do DI com vencimento em julho de 2013 subiu 20 pontos-base para 12,67 por cento, enquanto o rendimento dos títulos prefixados do governo com vencimento em janeiro de 2013 subiram 19 pontos base para 12,77 por cento.


O IPCA vai avançar 6,3 por cento este ano e 5,2 por cento em 2012, segundo pesquisa do BC com economistas publicada ontem. Em janeiro, o mercado projetava que a inflação se desaceleraria para 5,3 por cento este ano e 4,5 por cento em 2012. O IPCA subiu 5,9 por cento em 2010.

A meta do BC é de inflação de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. O Brasil é a única grande economia da América Latina onde a inflação está acima da meta do governo, segundo dados da Bloomberg.

‘Nenhum sinal’

O aumento dos salários e dos gastos dos consumidores embala a alta do custo de vida. O salário médio real subiu 4 por cento em maio, em relação a um ano antes, para R$ 1.567 ao mês. De acordo com uma fórmula do governo, o salário mínimo vai aumentar mais de 13 por cento no ano que vem, sendo que 66 por cento das aposentadorias e desembolsos de previdência são atrelados ao salário mínimo. As vendas no varejo cresceram 0,6 por cento em maio.

“O mercado de trabalho, até o momento, não mostra nenhum sinal de ajuste real”, disse Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do BC que hoje atua como sócio da Tandem Global Partners LLC, em entrevista por telefone. “É necessário que a demanda nominal entre mais rapidamente em convergência com a economia real, e para isso são necessários aumentos de juros.”

A taxa do DI com vencimento em outubro teve alta para 12,42 por cento, indicando que as expectativas dos investidores estão divididas em relação a um aumento da Selic na reunião do Copom em agosto, segundo dados compilados pela Bloomberg. O BC subiu a Selic em 150 pontos-base este ano.

A inflação pode se acelerar para 7 por cento este ano e encerrar 2012 em 5 por cento se o Copom não elevar o juro básico também em agosto depois de fazer uma alta amanhã, disse Vieira da Cunha.

Reversão das commodities

“Meu medo é que o Banco Central faça uma pausa após este encontro”, disse ele.

O BC se recusou a fazer comentários para esta reportagem, segundo comunicado enviado por e-mail.

A queda dos preços das commodities vai compensar a alta do núcleo da inflação, permitindo que o BC traga a inflação para mais perto da meta, segundo Neil Shearing, economista para mercados emergentes da Capital Economics Ltd. em Londres.

O Índice de Commodities Composto do BC, conhecido como IC- Br, recuou 7,5 por cento desde março, após salto de 41 por cento nos 12 meses anteriores.

“As pressões inflacionárias globais devem começar a retroceder no ano que vem”, disse Shearing em entrevista por telefone. “Vai haver uma enorme reversão do choque de preços de commodities, que foi o principal motor da inflação no Brasil.”

O Copom inicia hoje sua reunião de dois dias para decidir como ficam os juros. O anúncio da Selic sai amanhã, depois do fechamento do mercado.

O risco de não atingir a meta central de 4,5 por cento em mais um ano é que o BC perderá credibilidade, o que prejudicaria as expectativas de inflação, disse Alexandre Schwartsman, ex- diretor da instituição.

“Eles correm o risco de perder a batalha em mais um ano”, disse Schwarstman, que está montando sua consultoria própria, em entrevista por telefone de São Paulo. “A questão é quanto o BC quer levar a inflação para a meta. O movimento até agora foi pequeno e atrasado.”

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