OGX tem uma dívida muito maior do que divulga, diz analista
Consultoria independente revela que as obrigações da petroleira de Eike Batista são 1,8 bilhão de reais maiores que o divulgado
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2013 às 17h57.
São Paulo – A OGX ( OGXP3 ), petroleira do empresário Eike Batista, possui dívidas muito maiores do que consta em seu balanço. Essa é a conclusão de um relatório feito pela consultoria independente americana Covenant Review, enviada no final de abril a clientes e obtida por EXAME.com.
O valor da dívida da OGX, divulgado ao mercado, é de 4,58 bilhões de dólares ao final de 2012. Mas, segundo a Covenant Review – especializada em analisar as garantias em contratos de títulos de dívida - ela poderia ser 39% maior e chegar a 6,38 bilhões de dólares quando passam a ser consideradas as garantias às "empresas-irmãs".
Essa diferença de 1,8 bilhão de dólares, que segundo a consultoria não aparece claramente no balanço, viria de obrigações assumidas por subsidiárias da OGX relacionadas à construção de plataformas flutuantes de produção que são adaptações de navios para a exploração de petróleo (FPSO – Floating production, storage and offloading units, na sigla em inglês).
O analista Adam Cohen, autor do relatório, destaca um caso em específico. A OSX-3, que é uma subsidiária holandesa da OSX ( OSXB3 ), que também pertence ao grupo EBX, emitiu em março de 2012 títulos de dívida no mercado internacional no valor de 500 milhões de dólares para financiar a construção da FPSO OSX-3. Essa plataforma, quando pronta, será arrendada à OGX por 20 anos. A entrega está estimada para o terceiro trimestre de 2013.
Estrutura
De acordo com a maneira que essa emissão foi estruturada, em um caso de insolvência da OGX, os detentores dos títulos podem encerrar o contrato com a empresa, que então precisaria devolver a plataforma e se tornar a responsável pelo valor residual da dívida emitida pela OSX-3, explica a Covenant Review.
“Isso quer dizer que o montante de exigências contra a OGX em uma falência podem ser maiores do que o mercado entende”, argumenta o analista. Essa informação, segundo Cohen, tem uma enorme importância para a avaliação de risco dos títulos de dívida da OGX. Para ele, um investidor que busca entender o quanto a empresa tem de obrigações com base nos relatórios financeiros pode ter muita dificuldade.
“Em outras palavras, a visão do mercado sobre o risco financeiro da OGX e a quantidade de dívidas pode estar incorreta”, indica o analista. Segundo a Bloomberg, os títulos da OGX com vencimentos em 2018 e 2022 têm o pior desempenho entre as emissões de empresas situadas em mercados emergentes neste ano com valor de no mínimo 500 milhões de dólares.
Em nota, a OGX afirmou que todas as dívidas são reportadas no balanço da companhia, divulgado regularmente, e auditado pela Ernst & Young. "O contrato entre a OGX e OSX prevê o fretamento de unidades de produção. Os ativos e passivos relativos às plataformas pertencem à OSX”, informa a empresa.
OGX apresenta os resultados do primeiro trimestre na quinta-feira, após o fechamento dos mercados. A teleconferência será realizada na sexta-feira, às 13h.
Venda
A OGX anunciou na noite de terça-feira a venda de uma participação de 40% no Campo de Tubarão Martelo na Bacia de Campos para a malaia Petronas por 850 milhões de dólares. O acordo também prevê opção de a Petronas adquirir 5% do capital total da companhia, até abril de 2015, a um preço de 6,30 reais por ação de Eike Batista.
Segundo analistas, o valor deve ajudar na situação financeira da companhia. Para a equipe da Planner, o negócio é “muito positivo”. A corretora ressalta a "melhoria da credibilidade do 'projeto', que foi bastante abalada pela perda das metas de produção e a entrada de recursos fundamentais para a continuação da campanha exploratória e o desenvolvimento da produção".
Parte dos analistas, contudo, avalia que o valor por barril de óleo recuperável na área ficou abaixo do esperado.
“Os valores indicados parecem abaixo de nosso valuation para as áreas envolvidas na transação. Acreditamos que a transação é positiva por reduzir o endividamento da OGX. Contudo, o valor baixo da transação e a baixa produção de petróleo sustentam nossa recomendação de venda”, indicam Pedro Medeiros e Fernando Valle, analistas da Citi Corretora.
Matéria atualizada às 17h55 com o posicionamento da empresa.