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O que esperar da ação do Nubank após forte alta na estreia?

Investidores estrangeiros apostam no potencial de crescimento da empresa, que tem planos de se tornar a maior fintech do mundo

Bandeira com o logo do Nubank na frente do prédio da Bolsa de Nova York, no dia de estreia das ações da companhia | Foto: Divulgação (Nubank/Divulgação)
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Beatriz Quesada

Publicado em 10 de dezembro de 2021 às 06h05.

Última atualização em 10 de dezembro de 2021 às 15h16.

As ações do Nubank (NU) avançam cerca de 7% nesta sexta-feira, 10, após dispararam ontem quase 15% em seu primeiro pregão de negociação na Bolsa de Nova York (NYSE). O valor de mercado da fintech saltou de 41,5 bilhões de dólares para quase 52 bilhões de dólares, o equivalente a cerca de 290 bilhões de reais.

Na B3, os BDRs (recibos das ações listadas em Nova York) do Nubank (NUBR33) fecharam em alta de 20,10%, negociados a 10,04 reais, e hoje avançam quase 8%.

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Com a oferta na rua e os ganhos do primeiro dia de negociação, a fintech ampliou a sua distância em valor de mercado para o Itaú Unibanco (ITUB4), até então a maior instituição financeira do Brasil. As suas ações recuaram 2,68% ontem na B3, levando o seu valor para 37,1 bilhões de dólares (ou 206,6 bilhões de reais pelo mesmo câmbio).

Mas será que essa avaliação feita pelo mercado e investidores está adequada? Essa é uma questão que já estava presente quando o banco digital tinha capital fechado e que ganhou corpo com o IPO e a consequente estreia na bolsa.

Paraanalistas de algumas casas de análise, as ações já estavam caras antes mesmo da precificação, a tal ponto que recomendaram ao investidor de varejo que ficasse de fora do IPO. Mas está longe de ser uma visão predominante ou sequer consensual.

“O investidor estrangeiro não está preocupado com Itaú. Ele está olhando para quanto o Nubank é referência em tração e engajamento de usuários e está se posicionando como um negócio global”, afirma Thiago Almeida, fundador e CEO da Catarina Capital, gestora 100% focada em tecnologia que apostou no IPO do Nubank.

No caminho para replicar e escalar o seu modelo de forma global, o Nubank pretende não só crescer a base que estava em 48,1 milhões de clientes em setembro e a concessão de crédito — um dos principais caminhos para se tornar mais rentável — mas também tirar proveito do que entende ser uma de suas principais vantagens competitivas em relação aos bancos incumbentes: custos de aquisição de clientes (CAC) e custos em geral estruturalmente mais baixos.

As informações e a análise acima constam de relatório do BTG Pactual ( BPAC11 ), assinado pelos analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura e distribuído a clientes no começo do mês.

"A história é claramente muito boa. E nós não temos muita dúvida de que o Nubank pode ser muito lucrativo [ provavelmente já atingiu o break even no Brasil ]", escreveram os analistas.

"Com custos tão baixos, o Nubank parece acreditar que pode ser rentável mesmo levando em conta tíquetes muito baixos [ por exemplo, crédito para pessoas de baixa renda ]", apontaram os analistas do BTG.

Há muito investidor que é "gente grande" que pensa assim. Segundo notícias nos Estados Unidos, o megainvestidor Warren Buffett, que já havia aportado 500 milhões de dólares na extensão de rodada Series G em junho deste ano por meio de sua holding Berkshire Hathaway, teria ficado com cerca de 10% das ações colocadas à venda no IPO.

Algumas da principais empresas de venture capital do mundo, como Sequoia Capital, Tiger Global e SoftBank, além de fundos geridos por grandes bancos como JPMorgan, decidiram ancorar a oferta e garantiram 1,3 bilhão de dólares em compra de ações, o equivalente a quase metade do volume que foi colocado à venda.

Uma das provas da força do Nubank em engajamento foi o recorde na atração de pessoas físicas para a oferta inicial de ações: 815 mil investidores. De um teto de 22,9 milhões de clientes que poderiam se tornar sócios de forma gratuita, 7,5 milhões aceitaram receber um BDR do banco por meio do programa NuSócios.

E, para além do mercado brasileiro, a fintech tem manifestado a ambição de se tornar a maior de seu segmento no mundo, expandindo as operações para além da América Latina, onde já atua no Brasil, no México e na Colômbia. “É um papel para manter na carteira, a primeira tech brasileira que pode destravar valor de forma global”, diz Almeida, da Catarina Capital.

A gestora comprou os papéis do Nubank no IPO e adquiriu mais ações ao longo do primeiro dia de negociação, defendendo a tese de que as ações são um bom investimento a longo prazo.

“Estamos falando de um ‘neobank’, um papel nativo digital, de tecnologia, que tem um racional de valuation muito diferente do que uma companhia tradicional. O preço é justo porque não é só o fluxo de caixa descontado que avalia o preço de uma ação de alto potencial de crescimento”, afirma o CEO.

Porém, como muitas novatas na bolsa, o Nubank pode enfrentar certa volatilidade em seus primeiros pregões de negociação. Vale lembrar que a fintech também estreia em um momento difícil para as ações tech no exterior, porque o apetite para as ações de alto crescimento diminuiu com a expectativa de elevação nas taxas de juros em 2022.

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), anunciou que deve acelerar o processo de retirada de estímulos monetários, abrindo espaço para uma elevação na taxa de juros antes do esperado.

O banco digital teve que aceitar reduzir em 20% a faixa indicativa de preço a uma semana do IPO, em meio ao ambiente adverso nos mercados globais, ainda que a oferta tenha no fim saído no topo do novo intervalo, a 9 dólares o papel.

De todo modo, trata-se de um cenário que aumenta o desafio do Nubank em entregar a rentabilidade que promete no futuro. “As escolhas por empresas de tecnologia serão cada vez mais criteriosas e as vencedoras precisam entregar o crescimento que estão propondo. Do contrário, a ação despenca”, diz Carlos Macedo, analista da Ohmresearch especializado no setor financeiro da América Latina.

A empresa de pagamentos Stone, por exemplo, listada na Nasdaq, é um caso destacado por Macedo como exemplo de companhia tech que está sofrendo um reajuste, ainda que o seu modelo de negócios seja diferente e mais restrito do que o do Nubank -- a companhia tem pequenas e médias empresas como público-alvo.

“A empresa prometeu entrar na área de crédito e não cumpriu [o resultado esperado], o que fez o preço das ações desabar”, diz Macedo. Em 2021, a ação da Stone acumula queda de quase 80% e chegou a cair 32% em um só dia após a divulgação de seu balanço do terceiro trimestre deste ano, em razão da decepção com os resultados.

“Acho improvável que isso aconteça com o Nubank, ao menos por agora. Se os balanços decepcionarem, a ação pode cair, mas esse é o desafio de toda a empresa aberta. A diferença é que o Nubank tem um valuation maior e, se cair, cai de mais alto”, completa Macedo.

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