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O que a estreia da Hidrovias revela sobre a safra de IPOs

Nesta semana, outra empresa desistiu da operação por não considerar o momento propício

Bolsa: Hidrovias estreia com queda superior a 5% (Amanda Perobelli/Reuters)

Bolsa: Hidrovias estreia com queda superior a 5% (Amanda Perobelli/Reuters)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 25 de setembro de 2020 às 16h16.

Última atualização em 25 de setembro de 2020 às 16h49.

A empresa de logística portuária Hidrovias estreou na B3 nesta sexta-feira, 25, após ter feito a maior oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do ano, levantando 3,44 bilhões de reais. Mas, o primeiro dia de negociação não foi como o sonhado e as ações chegaram a despencar mais de 5%, mesmo após a precificação ter ficado no piso da faixa, o que indicava baixa demanda pelo ativo.

Este foi mais um dos sinais de que a onda de IPOs projetada ainda no início do ano e retomada com a melhora dos mercados após os primeiros meses de pandemia pode não ser o tsunami que se esperava. Ainda nesta semana, o banco BR Partners desistiu de abrir o capital, alegando que a situação do mercado não estava propícia.

“A seletividade para entrar em IPOs acompanha a volatilidade de mercado e nas últimas semanas o mercado deu uma patinada”, comenta Daniel Utsch, gestor da Fator Administradora de Recursos.

O Ibovespa, principal índice de ações da B3, não consegue superar as máximas pós pandemia desde julho e vem apresentando consecutivas quedas semanais, acompanhando o cenário externo de maior aversão ao risco, com a aproximação das eleições americanas, queda das ações de tecnologia nos Estados Unidos e ressurgimento dos picos de infectados por coronavírus na Europa.

“Se a história é mais ou menos, mas o cenário é de alta e tem poucas alternativas, a empresa até consegue emplacar o IPO com algum desconto. Mas se a história é mais ou menos, o cenário está mais ou menos e tem um monte de alternativa, então o mercado manda a empresa para casa”, comenta Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o próprio excesso de ofertas pode estar minando o sucesso dos IPOs. No ano, foram realizadas quase duas dezenas, sendo que ainda existem 42 ofertas sob análise da CVM — quantidade que representa cerca de 10% de todas as empresas listadas na bolsa.

“Elas estão disputando as atenções. O mercado financeiro evoluiu nos últimos anos, o que permitiu que empresas de menor porte entrassem na bolsa. Por outro lado, muitas delas chegam despreparadas. Com a corrente favorável, achavam que os investidores iriam entrar na oferta, mas os institucionais, principalmente, são mais exigentes, criteriosos e querem justificativas melhores” afirma Cruz.

Em meio a tanta oferta, as gestoras sequer conseguem tempo para avaliar todas empresas que pretendem entrar na bolsa. “A cada 30 IPOs, a gente acaba analisando oito ou dez. O restante a gente olha para entender o negócio, mas sem viés de compra. Não dá para olhar tudo”, comenta Renato Ometto, gestor de ações da Mauá Capital.

Sem conseguir emplacar maiores preços, quatro dos 11 IPOs que ocorreram neste semestre ficaram no piso da faixa indicativa, enquanto outros três ficaram abaixo da faixa, sendo que das últimas sete ofertas somente a da Petz não ficou nem no piso nem abaixo da faixa.

“O caso da Petz foi um sucesso porque era uma empresa de um setor novo na bolsa. O fato de ter pouca empresa ou nenhuma comparável já listada ajuda. A bolsa brasileira tem necessidade de histórias diferentes. Mas tem muita empresa chegando com história parecida. A própria Hidrovias já tem a Log, de logística”, afirma Lima.

Jerson Zanlorenzi, chefe da mesa de operações de ações e derivativos do BTG Pactual Digital, explica que se uma empresa nova chega com o mesmo nível de preço de outra do mesmo setor, mas listada há mais tempo no mercado, a busca pela companhia com mais tempo de bolsa tende a ser maior. “A vantagem é que ela é acompanhada há mais tempo, o mercado sabe como como é o desempenho das ações dela, acompanha os resultados há mais tempo. Enfim, tem muito mais informação do que uma empresa que está chegando agora”, conta.

Mas ainda que os IPOs recentes tenham revelado baixa demanda por parte dos investidores, Cruz ainda vê a espaço para que companhias abram o capital na bolsa, mas o momento precisa ser assertivo. “Muita empresa buscou IPO por ser a alternativa mais barata de se capitalizar, mesmo com o patamar de juros baixos. Mas se a empresa é boa, ela não precisa ter pressa. Talvez faça sentido esperar alguns meses.”

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