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O Buffett chinês chega ao Brasil

Giuliana Napolitano e Thiago Lavado Parece o típico caso de empreendedor americano bem sucedido, mas a história de Guo Guangchang se passa numa realidade cultural, política, social e econômica bastante diferente. Há quase 25 anos, ele e outros dois estudantes da Universidade Fudan, umas das mais tradicionais da China, em Xangai, abriram uma pequena empresa […]

GUO GUANGCHANG: com fortuna de 7,3 bilhões de dólares e negócios como o Cirque du Soleil, ele agora mira o Brasil / Divulgação
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Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2016 às 13h23.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h30.

Giuliana Napolitano e Thiago Lavado

Parece o típico caso de empreendedor americano bem sucedido, mas a história de Guo Guangchang se passa numa realidade cultural, política, social e econômica bastante diferente. Há quase 25 anos, ele e outros dois estudantes da Universidade Fudan, umas das mais tradicionais da China, em Xangai, abriram uma pequena empresa de investimentos.

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Duas décadas depois (e com um punhado de ótimos contatos com o governo no caminho), sua empresa, a Fosun Investimentos, vale 11,2 bilhões de dólares na bolsa, e é a maior e mais voraz empresa de investimentos do país. Aos 49 anos, Guangchang é dono de uma fortuna avaliada em 7,3 bilhões de dólares, a 19a maior da China. Seu império empresarial tem negócios tão diversos quanto a rede de resorts Club Med, o Cirque du Soleil, o time de futebol da segunda divisão do campeonato inglês Wolverhampton Wanderers.

“Quando penso em investir em alguma companhia, eu não olho para a variação das ações no curto prazo. Eu sinto que o desempenho de longo prazo é um fator mais importante”, disse Guanchang ao Financial Times.

No último sábado 30, as pretensões de Guangchang e seu grupo atravessaram o mundo e desembarcaram por aqui, onde a Fosun adquiriu 50,1% dos ativos da Rio Bravo investimentos. É a primeira vez que a Fosun compra um grupo de investimentos na América Latina e mais um passo de sua expansão internacional — em 2014 eles compraram a Idera Capitais, no Japão; em 2015, compraram a Resolution no Reino Unido e abriram um escritório na Rússia.

Segundo Mario Fleck, presidente da Rio Bravo, o objetivo é que a empresa seja um braço de investimentos da Fosun na América Latina, usando a experiência local e a capilaridade do grupo para avaliar o melhor momento de investir e fazer uma ponte com o mercado chinês. “No passado, houve uma onda de investimentos estrangeiros que não deu certo por má avaliação do momento e das oportunidades”, diz Fleck. A Rio Bravo vai ser importante para que a Fosun escolha os melhores alvos”.

Em uma entrevista conduzida quase que totalmente em chinês, na manhã desta terça-feira na sede da Rio Bravo, em São Paulo, Guo Guangchang falou de suas pretensões e também de seu modelo de investimentos. Comparado por diversas vezes ao magnata americano Warren Buffett, dono da companhia de investimentos Berkshire Hathaway e de uma fortuna avaliada em mais de 63 bilhões de dólares, Guo fez ressalvas quanto ao modelo de atuação dos dois. “A diferença é que a Fuson investe no mundo inteiro, aproveitando o bom momento econômico da China, incentivando setores que promovem o progresso, como turismo, saúde, educação”, afirma.

Guo utilizou a famosa frase de Buffett — “seja temeroso quando os outros são gananciosos e ganancioso quando os outros são temerosos” — para explicar o porquê de investir no Brasil em um momento tão complicado política e economicamente. “É hora de deixar o medo de lado e investir no Brasil. Antes de eu vir pra cá, eu ouvia coisas horríveis sobre o Brasil. Mas quando vim, achei ótimo. Não se pode tomar decisões só lendo os relatórios, é preciso estar presente para avaliar o risco real e o risco percebido. Estamos há anos analisando o país e acreditamos que este é o melhor momento”, disse Guo, que acredita que a economia começa a dar sinais de vida e que há boas oportunidades a se prospectar por aqui.

O empresário que sumiu

A história da Fosun começou em 1992, quando o capitalismo dava os primeiros passos na China comunista e muitos estudantes preferiam ir para outros países trabalhar com capital privado. Guo Guangchang, à época recém graduado em filosofia, decidiu ficar em casa.

Com 100.000 yuans (que, na época, valiam cerca de 18.000 dólares), alguns investimentos próprios e uma ajuda da Universidade Fudan, ele abriu junto com dois amigos – o estudante de genética, Liang Xinjun, e a estudante de ciência da computação, Tan Jian – uma consultoria em tecnologia, chamada Guangxin, para dar auxílio a companhias estrangeiras que quisessem entrar no mercado chinês.

Os negócios evoluíram rápido, bem como o relacionamento entre Guangchang e Tan, que acabaram se casando. A participação de Tan foi importante para a transição entre a Guangxin e a Fosun, principalmente na relação com oficiais do governo chinês — seu pai é um acadêmico respeitado na China, o que lhes rendeu contatos no governo e na indústria farmacêutica, até hoje um dos principais braços de investimento do grupo. O grupo Fosun se tornou uma das maiores companhias da China, operando negócios que vão desde a fabricação de medicamentos e construção de propriedades até o varejo e mineração.

Filho de uma família de fazendeiros pobres da província de Chekiang, perto de Xangai, Guangchang sempre foi bastante reservado, tanto na vida particular quanto empresarial. Mas começou a aparecer com frequência nas colunas sociais chinesas quando se separou de Tan e casou com uma conhecida apresentadora de TV de Xangai, Wang Jin Yuan.

Guangchang afirma que seu objetivo é construir uma versão chinesa do conglomerado americano General Electric. Quem trabalha perto do empresário afirma que ele tem uma postura franca em suas opiniões e vontades fortes. Ele também valoriza a Universidade Fudan e o suporte que foi dado para o início de seu empreendimento, fato que se reflete na presença massiva de graduados da instituição na Fosun.

No ano passado, o empresário ganhou as manchetes em sites de notícias mundo afora por um motivo inusitado: ele desapareceu por quatro dias em dezembro. Nesse período, as ações da Fosun e de algumas subsidiárias, como a Fosun Farmacêutica e a Nanjiang Ferro e Metal, foram suspensas na bolsa de Xangai. A companhia divulgou um comunicado afirmando que Guangchang havia sido chamado pela polícia chinesa para cooperar em uma investigação sobre corrupção, que na China é um crime punível com a morte, mas que o empresário não era suspeito. Vai saber. É só mais um mistério do Buffett chinês, que deve começar a estampar manchetes com frequência no Brasil. Mas nas páginas de negócios, e não no caderno policial.

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