Mexicanos abandonam novelas e emissoras enfrentam drama na bolsa
Redução dos preços de banda larga faz telespectadores abandonarem hábitos
Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2017 às 10h35.
Última atualização em 22 de maio de 2017 às 14h52.
Os mexicanos estão desligando a TV a um ritmo sem precedentes, afetando as ações do Grupo Televisa e da TV Azteca, porque mais espectadores estão optando pelo entretenimento digital após medidas do governo para baratear o acesso à internet.
Neste ano, o índice de audiência da Televisa caiu 24 por cento e o da Azteca, 8 por cento, segundo o analista Gregorio Tomassi, do Itaú BBA, citando dados da HR Ratings Media. Os resultados surgem após declínios de 16 por cento e 14 por cento das duas emissoras no ano passado. As quedas mais agudas foram registradas pelas novelas -- que dão fama às duas emissoras -- e pelos telejornais noturnos.
Ambas as empresas estão produzindo programas novos e mais arrojados que, segundo sua previsão, trarão os telespectadores de volta, mas o advento da Netflix e de serviços de streaming on-line como HBO estão mostrando ser concorrência séria.
O novo programa da TV Azteca, “La Fiscal de Hierro” (“A Promotora de Ferro”), estreou em janeiro no lugar do bem-sucedido drama criminal “Rosario Tijeras”. Aclamada pela crítica e baseada em uma história real, a nova série conta a história de uma promotora em busca de justiça após o assassinato de seu pai -- temática distante das novelas clássicas. Mas o seriado entrou na lista da HR Ratings Media com os cinco principais programas de horário nobre por apenas uma semana.
A lei mexicana de reforma das telecomunicações de 2013 pode ser parte do problema das emissoras, disse Geetha Ranganathan, analista da Bloomberg Intelligence. A reformulação regulatória forçou a gigante da telefonia América Móvil a abrir sua rede a uma concorrência maior, ajudando a reduzir os preços dos dados de banda larga e do acesso à internet móvel.
As linhas de dados de telefonia celular mais que duplicaram desde o fim de 2013, para quase 75 milhões, dando a muitos mexicanos mais acesso regular ao Snapchat, ao Facebook e a outras alternativas à TV.
“A reforma está forçando as emissoras a ficarem alertas”, disse Ranganathan.
Apesar de o índice acionário de referência do México, o IPC, ter atingido um recorde no início do ano, a Televisa não chegou nem perto do pico de 2015, e os tempos de glória da Azteca foram em 2011 e 2012.
As ações da Televisa acumulam alta de 4,5 por cento neste ano, contra um ganho de 7 por cento do IPC, enquanto a Azteca registra queda de 9,2 por cento.
A Televisa e a TV Azteca preferiram não comentar.
Os índices de audiência podem ser difíceis de calcular no México porque não há muita informação pública disponível, e o número de telespectadores pode variar de um ano para o outro porque a maioria das novelas é transmitida por uma única temporada, e não por vários anos, como os programas dos EUA.
A queda da audiência tem dificultado o retorno da Televisa da tentativa desastrosa, dois anos atrás, de mudar suas políticas de preço de publicidade. A maior emissora em língua espanhola do mundo registrou queda nas receitas no primeiro trimestre e não consegue impulso desde o fim do ano passado, o que frustra as esperanças de uma recuperação sustentada.