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Mercado está confiante demais – e não deveria, diz a analista mais pessimista

Lika Takahashi continua a desconfiar da recuperação recente no preço dos ativos em todo o mundo

Investidor (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2012 às 06h00.

São Paulo - Acompanhando o movimento geral dos mercados internacionais, o Ibovespa mostra um desempenho mais otimista. Neste ano, o índice já subiu mais de 13%. Após a tensão vinda com a crise na Europa, alguns poderiam interpretar que esse é um sinal de que não há mais riscos no horizonte. Não é o caso de Lika Takahashi, chefe de análise da Fator Corretora.

Segundo ela, esse efeito dos mercados veio com uma onde de injeção de capital, iniciada em dezembro pelo Banco Central Europeu. Em menor grau, a alta dos mercados também acontece com uma maior expectativa de recuperação global. Por si só, esses fatores positivos poderiam virar riscos em breve. “Mas, não é possível ter o melhor dos dois mundos: afrouxamento monetário e crescimento”, alerta Lika em um relatório.

Ela alerta que as bolsas do mundo já estão precificadas – inclusive no Brasil – e que, frente aos riscos que vêm por aí, é melhor optar por ações defensivas. “Mantenho minha projeção para o Ibovespa de 60 mil pontos para 2012”, afirma. Tal pontuação significa uma alta de 5,71% no ano e um número 6,66% mais baixo do que a pontuação atual.

A analista, que no início do ano já apontava uma série de riscos para o mercado, diz o que deve ficar no radar para os próximos meses.

Desaceleração na China

Lika destaca que a China se tornou bastante importante para os países exportadores, que têm muita dificuldade de registrar um desempenho descolado do país.

Ela lembra que o primeiro-ministro do país, Wen Jiabao, reduziu a expectativa de crescimento do PIB chinês em 2012, para 7,5%, o que sinaliza que as perspectivas para a China são incertas. “Os riscos se exacerbam com a falta de transparência de seus dados econômicos”, afirma.

Ela cita um artigo do especialista em economia chinesa Michael Pettis, publicado no Financial Times, no qual ele argumenta que a queda da inflação pode até ser uma notícia positiva, mas outros dados, como produção industrial e vendas no varejo da China, saíram pior do que o esperado, e prestar atenção nesses números é importante, já que o país precisa reequilibrar sua economia para que seja mais voltada ao consumo.

Tanto economias mais desenvolvidas, que exportam manufaturados, quanto nações emergentes, que vendem recursos naturais, têm dificuldade de se descolar do desempenho chinês. “As expectativas generalizadas de pouso suave da China podem estar mal precificadas”, alerta Lika.

Europa ainda é um risco

Embora o mercado esteja menos temoroso com as notícias sobre a economia da zona do euro, a analista destaca que a crise na região ainda não passou, e que as nações mais vulneráveis ainda passam por muitas dificuldades.

As medidas de austeridade fiscal podem até ajudar, mas não resolvem a situação desses países. “A opinião dos analistas mais críticos é de que a política do BCE, embora compre tempo, posterga os processos políticos e os ajustes econômicos necessários para resolver a crise”, afirma.

Como exemplo, ela cita a situação da economia espanhola. “Até há pouco tempo, investidores estavam confiantes sobre o progresso da Espanha. Esse sentimento começa a evaporar a medida que analistas passam a questionar se a economia espanhola não está em situação pior que parece”, afirma.


Estados Unidos trazem dois riscos
Nos Estados Unidos, Lika aponta dois riscos distintos. O primeiro é em relação à recuperação da economia do país. Para a analista, os dados de emprego têm melhorado, mas não como deveriam para uma recuperação plena. A atividade industrial tem subido, mas com ajuda das exportações. Sobre o setor imobiliário, ainda não há pistas de quando os preços voltarão a subir. “Enquanto isso, a zona do euro pode estar tecnicamente em recessão e os países que compõe os BRICs em desaceleração sincronizada. Dificilmente os EUA continuarão a ser um oásis num mundo que está em recessão ou desaceleração”, alerta.

O outro é sobre as empresas. Para a analista, na temporada de divulgação dos resultados do primeiro trimestre, que começa na segunda semana de abril, existe a expectativa de que as empresas do S&P500 apresentem queda, o que pode trazer mais volatilidade ao mercado.

“O aumento dos preços das commodities, especialmente o petróleo, a desaceleração do crescimento nos mercados emergentes e o impacto do dólar forte devem ter exercido pressão sobre as margens”, afirma.

Brasil também tem seus próprios riscos

Lika destaca que o Brasil embarcou em nova ofensiva para deter a apreciação do real, mas que as medidas podem gerar resultados contrários aos que o país deseja.

Com as ações, o Brasil pode importar mais e exportar menos, pois os agentes criam expectativas de novas ações, e o capital externo pode ficar limitado, mesmo sendo tão necessário em função da falta de poupança interna.

“O problema para a indústria brasileira é que consumimos cada vez mais importações. Portanto, temos crescimento sem a dinâmica industrial”, afirma.

Segundo Lika, existem tendências estruturais de longo prazo que demandam que o Brasil faça mais do que somente manipular o câmbio para garantir a sobrevivência da indústria. “O desafio de melhor a competitividade passa por abandonar indústrias não competitivas e treinar trabalhadores para o setor de serviços, que exige mão de obra mais qualificada”, diz.

Para o Brasil, essa pode ser uma questão delicada, já que estimular a qualidade da mão de obra depende, justamente, de uma indústria competitiva.

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São Paulo - Acompanhando o movimento geral dos mercados internacionais, o Ibovespa mostra um desempenho mais otimista. Neste ano, o índice já subiu mais de 13%. Após a tensão vinda com a crise na Europa, alguns poderiam interpretar que esse é um sinal de que não há mais riscos no horizonte. Não é o caso de Lika Takahashi, chefe de análise da Fator Corretora.

Segundo ela, esse efeito dos mercados veio com uma onde de injeção de capital, iniciada em dezembro pelo Banco Central Europeu. Em menor grau, a alta dos mercados também acontece com uma maior expectativa de recuperação global. Por si só, esses fatores positivos poderiam virar riscos em breve. “Mas, não é possível ter o melhor dos dois mundos: afrouxamento monetário e crescimento”, alerta Lika em um relatório.

Ela alerta que as bolsas do mundo já estão precificadas – inclusive no Brasil – e que, frente aos riscos que vêm por aí, é melhor optar por ações defensivas. “Mantenho minha projeção para o Ibovespa de 60 mil pontos para 2012”, afirma. Tal pontuação significa uma alta de 5,71% no ano e um número 6,66% mais baixo do que a pontuação atual.

A analista, que no início do ano já apontava uma série de riscos para o mercado, diz o que deve ficar no radar para os próximos meses.

Desaceleração na China

Lika destaca que a China se tornou bastante importante para os países exportadores, que têm muita dificuldade de registrar um desempenho descolado do país.

Ela lembra que o primeiro-ministro do país, Wen Jiabao, reduziu a expectativa de crescimento do PIB chinês em 2012, para 7,5%, o que sinaliza que as perspectivas para a China são incertas. “Os riscos se exacerbam com a falta de transparência de seus dados econômicos”, afirma.

Ela cita um artigo do especialista em economia chinesa Michael Pettis, publicado no Financial Times, no qual ele argumenta que a queda da inflação pode até ser uma notícia positiva, mas outros dados, como produção industrial e vendas no varejo da China, saíram pior do que o esperado, e prestar atenção nesses números é importante, já que o país precisa reequilibrar sua economia para que seja mais voltada ao consumo.

Tanto economias mais desenvolvidas, que exportam manufaturados, quanto nações emergentes, que vendem recursos naturais, têm dificuldade de se descolar do desempenho chinês. “As expectativas generalizadas de pouso suave da China podem estar mal precificadas”, alerta Lika.

Europa ainda é um risco

Embora o mercado esteja menos temoroso com as notícias sobre a economia da zona do euro, a analista destaca que a crise na região ainda não passou, e que as nações mais vulneráveis ainda passam por muitas dificuldades.

As medidas de austeridade fiscal podem até ajudar, mas não resolvem a situação desses países. “A opinião dos analistas mais críticos é de que a política do BCE, embora compre tempo, posterga os processos políticos e os ajustes econômicos necessários para resolver a crise”, afirma.

Como exemplo, ela cita a situação da economia espanhola. “Até há pouco tempo, investidores estavam confiantes sobre o progresso da Espanha. Esse sentimento começa a evaporar a medida que analistas passam a questionar se a economia espanhola não está em situação pior que parece”, afirma.


Estados Unidos trazem dois riscos
Nos Estados Unidos, Lika aponta dois riscos distintos. O primeiro é em relação à recuperação da economia do país. Para a analista, os dados de emprego têm melhorado, mas não como deveriam para uma recuperação plena. A atividade industrial tem subido, mas com ajuda das exportações. Sobre o setor imobiliário, ainda não há pistas de quando os preços voltarão a subir. “Enquanto isso, a zona do euro pode estar tecnicamente em recessão e os países que compõe os BRICs em desaceleração sincronizada. Dificilmente os EUA continuarão a ser um oásis num mundo que está em recessão ou desaceleração”, alerta.

O outro é sobre as empresas. Para a analista, na temporada de divulgação dos resultados do primeiro trimestre, que começa na segunda semana de abril, existe a expectativa de que as empresas do S&P500 apresentem queda, o que pode trazer mais volatilidade ao mercado.

“O aumento dos preços das commodities, especialmente o petróleo, a desaceleração do crescimento nos mercados emergentes e o impacto do dólar forte devem ter exercido pressão sobre as margens”, afirma.

Brasil também tem seus próprios riscos

Lika destaca que o Brasil embarcou em nova ofensiva para deter a apreciação do real, mas que as medidas podem gerar resultados contrários aos que o país deseja.

Com as ações, o Brasil pode importar mais e exportar menos, pois os agentes criam expectativas de novas ações, e o capital externo pode ficar limitado, mesmo sendo tão necessário em função da falta de poupança interna.

“O problema para a indústria brasileira é que consumimos cada vez mais importações. Portanto, temos crescimento sem a dinâmica industrial”, afirma.

Segundo Lika, existem tendências estruturais de longo prazo que demandam que o Brasil faça mais do que somente manipular o câmbio para garantir a sobrevivência da indústria. “O desafio de melhor a competitividade passa por abandonar indústrias não competitivas e treinar trabalhadores para o setor de serviços, que exige mão de obra mais qualificada”, diz.

Para o Brasil, essa pode ser uma questão delicada, já que estimular a qualidade da mão de obra depende, justamente, de uma indústria competitiva.

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