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Leme, do Goldman: o governo precisa ser claro

Poucas pessoas são tão gabaritadas para falar sobre a imagem do Brasil com investidores estrangeiros quando o economista Paulo Leme, presidente do banco americano Goldman Sachs no país. Leme está no banco desde 1993 e foi responsável pela equipe de pesquisas da instituição na América Latinha, com foco no Brasil e no México. Antes disso, […]

Paulo Leme (Ag. Focofino/Reprodução)

Paulo Leme (Ag. Focofino/Reprodução)

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Letícia Toledo

Publicado em 25 de maio de 2016 às 18h22.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h49.

Poucas pessoas são tão gabaritadas para falar sobre a imagem do Brasil com investidores estrangeiros quando o economista Paulo Leme, presidente do banco americano Goldman Sachs no país. Leme está no banco desde 1993 e foi responsável pela equipe de pesquisas da instituição na América Latinha, com foco no Brasil e no México. Antes disso, foi economista sênior do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atuou na reestruturação da dívida externa de países como Jordânia, Equador e Venezuela. Ele falou a EXAME Hoje, após sua participação no Fórum Veja, sobre como os investidores estrangeiros estão enxergando o país neste momento.

Como os investidores estrangeiros estão vendo o Brasil neste momento? Há interesse pelo país?
Os investidores estrangeiros veem o Brasil com bons olhos. O que precisa ser feito é a enunciação clara de qual vai ser o seguimento econômico, quais serão as medidas, qual o sequenciamento do que está sendo anunciado. É hora de testar a habilidade política do novo governo, para ver se as medidas passam ou não passam no congresso. Além disso, os investidores querem entender que medidas o novo governo vai adotar além da parte fiscal, o que o governo vai fazer para aumentar a produtividade e crescimento das empresas.

O principal interesse é pelas concessões? 
O interesse é generalizado. Se olhamos os números dos Balanços de Pagamentos, ao longo dos últimos 12 meses perdemos praticamente 50 bilhões de dólares em investimentos no Brasil. Ou seja, é o quanto deixou de entrar de financiamento externo no Brasil em todas as classes de ativos – dívida, investimento direto, empresas, portfólio. Mas eu diria que o interesse é muito grande, primeiro porque no mundo hoje não há taxa real de juros positiva, então temos o interesse imediato de muitos investidores. Com um grau de previsibilidade um pouco melhor em relação ao câmbio e às linhas políticas e econômicas o interesse só cresce.

Os investidores já estão se preparando para uma alta da taxa de juros nos Estados Unidos. Muitos dizem que isso pode provocar uma fuga de investidores dos países emergentes. O Brasil corre esse risco?
Eu diria que no teatro do nosso próprio drama, o Federal Reserve não deixa de ser um ato, mas que é efêmero. Ele pode atrapalhar, mas as verdadeiras decisões somos nós mesmos que vamos ditar. Se adotarmos novas medidas, vamos chamar a atenção dos investidores.

É possível aprovar medidas econômicas importantes antes das eleições de outubro?
O problema não está nas eleições. O fato é que estamos com problema de solvência fiscal e solvência no setor privado e as escolhas que a sociedade enfrenta são muito difíceis. Os ajuste terão impacto na renda e no patrimônio. Se formos capazes de encontrar uma solução como sociedade, o governo se resolve. Sobre o ponto de vista otimista, se voltarmos a 1994, com o início da implementação do plano real, eu diria que nos momentos mais tenebrosos das madrugadas de hiperinflação parecia impossível ser feito o que foi feito. Quando precisa a sociedade tem que encontrar uma maneira de fazer, a população como um todo precisa estar disposta a arcar com os custos, que são enormes. Mas os custos de não fazê-las serão muito maiores.

(Letícia Toledo)

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