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Investimentos ligados à inflação são a bola da vez, diz gestora da Sonata

Em entrevista à EXAME Invest, Patricia Palomo diz que a 'inércia inflacionária' vai manter os retornos dos títulos atrelados ao IPCA mais altos também em 2022

Patricia Palomo, da gestora Sonata: 'Quando o investidor notar que o mercado trabalha com noções muito claras de cautela ou de certeza, é hora de avaliar se esses sentimentos já estão precificados' | Crédito: Divulgação (Sonata Investimentos/Divulgação)
BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 1 de dezembro de 2021 às 15h50.

Última atualização em 1 de dezembro de 2021 às 19h52.

Manter o foco no médio e longo prazo será a regra de ouro para sobreviver à volatilidade do mercado em 2022. Esse é o principal diagnóstico de Patricia Palomo, sócia da Sonata, um family office especializado em gestão patrimonial.

A um mês do fim de 2021, o Ibovespa caminha para um desempenho anual negativo na casa dos 14% — um banho de água fria para investidores que entraram na renda variável em busca de retornos elevados quando os juros estavam mais baixos. A taxa está atualmente em 7,75% ao ano e deve subir para a casa de dois dígitos no início do próximo ano.

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Para 2022, não há previsão de fôlego. A disparada da inflação, a consequente alta da Selic e a disputa eleitoral devem criar uma combinação de instabilidade no mercado financeiro, o que prejudica especialmente o cenário de curto prazo. Por outro lado, para quem pode manter sangue-frio, o próximo ano deve abrir boas oportunidades de investimento.

"Olhando para um horizonte de 12 a 18 meses, sabemos que o que nos espera é uma inflação mais alta, por causa dos choques de preços de commodities, energia e alimentos. Isso faz com que o Banco Central precise subir os juros para tentar ancorar expectativas e, assim, desenhar uma dinâmica de inflação mais controlada. Será um cenário de oportunidade para os investidores", diz Palomo.

A sócia da Sonata explica que a relação de risco-retorno mudou, por causa da nova situação dos juros, e que as aplicações de renda fixa voltaram a fazer mais sentido na carteira do investidor. Isso não significa, entretanto, que os ativos de renda variável devam ser deixados de lado completamente.

"Claro que não é recomendável que os portfólios migrem 100% para a renda fixa, porque a construção de patrimônio requer alocação em renda variável. Estruturalmente, mantemos também a alocação em ações, fundos imobiliários e ativos globais globais", conta.

Veja abaixo a entrevista completa Patricia Palomo, sócia da gestora Sonata:

Quais mudanças de portfólio você tem sugerido aos clientes, olhando para o cenário de 2022?

O Brasil viveu um período longo de Selic baixa, o juro real ficou negativo, e isso fez com que as alocações buscassem mais risco. Os investidores passaram a procurar prêmios em ações, fundos imobiliários e outros ativos de renda variável. Fazia sentido, porque era ali que estava a melhor relação de risco e retorno. Mas essa relação mudou quando começamos a ver normalização da política monetária, em razão do fim das restrições causadas pela pandemia.

Olhando para um horizonte de 12 a 18 meses, sabemos que o que nos espera é uma inflação mais alta, por causa dos choques de preços de commodities, energia e alimentos. Isso faz com que o Banco Central precise subir os juros para tentar ancorar expectativas e desenhar uma dinâmica de inflação mais controlada. Será um cenário de oportunidade para os investidores.

Onde estão essas oportunidades em renda fixa?

Dada a dinâmica atual, os ativos pós-fixados indexados ao juro real oferecem uma relação de risco e retorno mais interessante, porque já temos ideia de trajetória da Selic e da inflação. Os títulos atrelados à inflação têm uma situação especial, porque o cenário de 12 a 18 meses ainda é de alta dos preços. Ainda que a intervenção do Banco Central nos juros comece a fazer efeito, a inflação no Brasil tem um aspecto de inércia, porque os índices acumulados reajustam alugueis, salários e preços administrados [como combustíveis, energia elétrica, saneamento etc.]

Não tem por que o investidor não aproveitar esse tipo de conjuntura. Claro que não é recomendável que os portfólios migrem 100% para a renda fixa, porque a construção de patrimônio requer alocação em renda variável. Estruturalmente, mantemos a alocação em ações, fundos imobiliários e ativos globais globais.

Não são esses ativos que tendem a sofrer mais com o cenário de incertezas projetado para o ano que vem?

De fato, o preço desses ativos vem oscilando, mas é importante entender que isso não aconteceu por causa da situação das empresas, e, sim, por causa da conjuntura, do macro. Na verdade, as empresas aproveitaram os juros baixos para melhorar o passivo e estão saindo da crise menos alavancadas. Muitas cresceram em participação de mercado e conseguiram se modernizar nesse período. Ou seja: são empresas saudáveis e com corpo para gerar bons resultados.

Para o ano que vem, o melhor é escolher ativos em setores mais resilientes, como em energia elétrica, saneamento e agronegócio. É importante ponderar, claro, que toda situação macro também impacta o micro. Houve pressão de custos em alguns setores em que as empresas não conseguiram repassar a inflação de forma mais ágil, e isso impactou as margens. Foi essa a decepção dos balanços do terceiro trimestre.

Até que ponto o macro pode continuar impactando as empresas?

Se conseguirmos equalizar a questão do fiscal, amenizando a discussão da expansão de despesas do governo e da manutenção do teto de gastos, e se aprovarmos as reformas tributária e administrativa, então teremos uma dinâmica mais positiva para os juros. Assim como as ações caíram quando as expectativas para os juros mudaram, podemos ter o mesmo efeito de preços na descida da curva. O mercado exagera para cima e para baixo.

O mesmo vale para os fundos imobiliários, que tiveram uma reprecificação. É um momento interessante para olhar oportunidades nesse segmento, ainda mais com a dinâmica de reabertura pós-covid ficando mais clara. Os shoppings, por exemplo, estão tendo um movimento crescente e isso é convertido em vendas e receita.

Dado que não temos certeza de que essa equalização ocorrerá, como o investidor pode se proteger?

Para tirar a correlação local, um dos caminhos é o de alocação em ativos fora do Brasil. Por causa da deterioração do fiscal, da dinâmica de aceleração inflacionária e da atividade econômica perdendo ritmo, acabamos vivendo uma realidade muito própria. Isso causa uma contaminação de risco entre classes de ativos e impede o investidor de diversificar riscos no mercado local. É o que chamamos de risco sistêmico.

Usamos, então, o orçamento de risco, que representa uma parte pequena da carteira, para investir em classes de ativos diferentes, como em venture capital e private equity. São investimentos com um tempo maior de maturação e relação de risco e retorno diferenciada.

Qual a composição ideal da carteira do investidor pensando nesse cenário?

Pensando em uma carteira média, a parcela de renda fixa pode chegar a 60% do total, a renda variável pode ficar entre 25% e 30%, e o restante em investimento alternativo e hedge. Para hedge, recomendamos uma alocação de 5% e com foco em ativos descorrelacionados, como dólar e ouro.

Para além das recomendações de composição da carteira, há um aspecto comportamental importante. Toda vez que o investidor notar que o mercado trabalha com noções muito claras de cautela ou de certeza, é hora de avaliar se esses sentimentos já estão no preço dos ativos. Momentos assim são ideais para parar, reavaliar, entender o cenário e lembrar dos seus objetivos, para evitar o ímpeto de entrar e sair dos investimentos de forma irracional.

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