Investigação na Petrobras pesa sobre rating do país
A agência de rating Moody’s diz que a Petrobras mereceria um grau especulativo sem o apoio estatal, e que a empresa está pesando sobre a nota do Brasil
Da Redação
Publicado em 8 de dezembro de 2014 às 21h45.
Nova York -Em 2011, a Moody’s Investors Service classificava a Petrobras três níveis acima de seu principal acionista, o governo brasileiro.
Hoje, a agência de rating diz que a petrolífera mereceria um grau especulativo sem o apoio estatal, e que a empresa está pesando sobre a nota do país.
Mauro Leos, analista da Moody’s para o Brasil, disse no dia 5 de dezembro que a investigação de suborno na Petrobras e parte da perspectiva negativa do rating do Brasil, dois dias depois de a Moody’s reduzir o chamado rating independente da empresa para o grau especulativo.
Os comentários sugiram depois que a investigação deu outra reviravolta na semana passada, quando o partido de Dilma Rousseff foi acusado de ter recebido doações de empresas em troca da garantia de contratos com a Petrobras.
Embora a piora da situação fiscal brasileira tenha sido a principal razão por trás da decisão da Moody's de reduzir A perspectiva da nota soberana em setembro, a nomeação de Joaquim Levy como ministro da Fazenda diminuiu algumas das preocupações e os males da Petrobras agora estão se tornando um problema maior, disse Leos.
Os bonds da Petrobras caíram nos últimos 30 dias em meio a investigação que levou a polícia a prender funcionários de empresas construtoras acusadas de formar um cartel para ganhar contratos, incluindo R$ 59 bilhões (US$ 23 bilhões) da empresa petroleira.
“O componente Petrobras se tornou um elemento da perspectiva negativa”, disse Leos, por telefone, de Nova York. “Temos todos esses acontecimentos negativos. Por isso O elemento que era o mais importante por trás da perspectiva negativa já não é tão significativo. É como se um tivesse substituído o outro”.
Prejuízos dos bonds
As assessorias de imprensa da Petrobras e da presidência do Brasil não responderam a e-mails e telefonemas que buscavam comentários a respeito do impacto da investigação na empresa petroleira sobre o rating do Brasil. Um assessor de imprensa do Ministério da Fazenda preferiu não comentar.
No dia 3 de dezembro, a Moody’s rebaixou o chamado baseline credit assessment da Petrobras, o rating que não leva em conta o apoio do governo, para Ba1, um nível abaixo do grau de investimento. Nymia Cortes de Almeida, analista da empresa de ratings, disse que a nota de crédito convencional da Petrobras foi mantida em Baa2, dois níveis acima do grau especulativo e em linha com a do Brasil, sob o pressuposto de que o governo estará disposto e será capaz de dar apoio à petroleira.
O total de US$ 2,5 bilhões em bonds da Petrobras com vencimento em 2024 estenderam os prejuízos na semana passada, empurrando as quedas para 4,3 por cento nos últimos 30 dias, mais de duas vezes a queda média dos mercados emergentes, mostram dados compilados pela Bloomberg.
O governo brasileiro controla a Petrobras com a maioria das ações ordinárias.
Acusação mais recente
Augusto Mendonça, um executivo da Toyo Setal Empreendimentos Ltda, com sede em São Paulo, disse que pagou subornos de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões para conseguir contratos da Petrobras, segundo um depoimento divulgado na semana passada como parte da investigação de corrupção.
Alguns dos supostos pagamentos foram feitos por meio de depósitos diretos nas contas do partido entre 2008 e 2011. Ele também disse que pagou em dinheiro a executivos da Petrobras e que transferiu dinheiro para contas no exterior.
A assessoria de imprensa do PT disse em um comunicado enviado por e-mail na semana passada que recebe todas as doações de acordo com a legislação em vigor.
“Este é um fator que contribuirá para uma ação negativa em relação aos ratings” da nota soberana, disse Michael Roche, estrategista da Seaport Group LLC, por telefone, de Nova York. “Se a percepção agora é que essa é a cultura, essa opacidade, essa falta de controle, isso resiltará em custos de empréstimos mais elevados para a nota soberana”.
Déficit orçamentário
Em março, a Standard Poor’s rebaixou a nota do Brasil para BBB-, um nível acima do grau especulativo, também citando a piora das finanças do país.
O governo teria uma capacidade limitada para dar apoio à Petrobras devido à sua situação fiscal frágil, disse Leos, da Moody’s.
Levy, ex-executivo do Banco Bradesco SA e ex-secretário do Tesouro, prometeu reduzir o maior déficit orçamentário em mais de uma década.
A Petrobras, a empresa petroleira mais endividada do mundo, viu os custos dos empréstimos atingirem o nível mais alto da história em relação ao governo federal e corre o risco de perder o acesso aos mercados de capital porque a investigação está impedindo a empresa de divulgar resultados auditados.
Conceder financiamento à Petrobras, empresa que a Moody’s estima que tem US$ 170 bilhões em dívidas, poderia colocar o rating do país “sob ataque”, segundo a Vaquero Global Investment LP.
“A única razão de a nota da empresa poder ser de grau de investimento é porque existe a expectativa de que o governo os resgataria”, disse Wilbur Matthews, CEO da Vaquero, por telefone, de San Antonio, EUA. “Se o Brasil entra em cena, ele corre o risco de desfazer uma porção de coisas boas que fez na última década. A Petrobras é a pior coisa que eles poderiam apoiar”.
Segundo dados da consultoria Economática, a estatal perdeu 12 bilhões de reais no mês passado na bolsa brasileira, período no qual o Ibovespa recuou 1,14%. Boa parte da queda é atribuída aos maus resultados de 2013 apresentados pela empresa.
No final de fevereiro, o valor de mercado da estatal era de 172,8 bilhões de reais.
A cotação média do mercado, no entanto, ultrapassa a cifra de 2,40 reais e a diferença está preocupando o mercado, que não consegue entender como a estatal chegou a esse valor.
A fim de não aumentar a inflação, o governo tem segurado os preços e a estratégia tem impactado negativamente a petroleira. A estimativa do mercado é que a empresa tenha deixado de ganhar 1,1 bilhão por não repassar alta do petróleo.