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Investidores estrangeiros já previam ruído político no Brasil

Estrangeiros ficaram de fora do rali recente por não estarem tão seguros com as perspectivas para as reformas

B3: "nós sempre soubemos que não era uma administração politicamente experiente e isso foi apenas uma ilustração fantástica disso" (Alex Wroblewski/Getty Images)

Karla Mamona

Publicado em 28 de março de 2019 às 16h25.

(Bloomberg) -- Muitos investidores estrangeiros estão se sentindo convencidos esta semana por conta da reversão nos ativos brasileiros, já que eles ficaram de fora do rali recente por não estarem tão seguros com as perspectivas para as reformas.

O Ibovespa caiu para o menor nível desde 8 de janeiro na quarta-feira, enquanto o dólar subiu pelo segundo dia consecutivo, atingindo o maior nível em em cinco meses.

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Os ativos brasileiros estão sofrendo com o aumento do atrito entre o presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus principais aliados no Congresso que ameaça atrasar ou mesmo inviabilizar a reforma da Previdência, considerada essencial para o controle do déficit fiscal. Embora os investidores estrangeiros há muito alertassem para a continuidade do risco político no Brasil, os investidores locais alimentaram a alta em ações e bonds iniciada em meados de 2018 com base no otimismo de que Bolsonaro conseguiria apoio suficiente para o projeto.

"Isso é o que temíamos", disse Edwin Gutierrez, gestor de recursos da Aberdeen Standard, em Londres, que ajuda a administrar US$ 735 bilhões, e não detém títulos brasileiros em dólar e recentemente reduziu sua exposição em dívida local em 60%. "Nós sempre soubemos que não era uma administração politicamente experiente e isso foi apenas uma ilustração fantástica disso."

O apoio público a Bolsonaro despencou, ele está antagonizando com os principais aliados e seu gabinete é dividido por intrigas e disputas internas.

“As expectativas de mercado de uma reforma rápida precisam ser reduzidas”, disse Juan Prada, estrategista de câmbio do Barclays em Nova York, que escreveu em relatório no início deste ano que os desafios para a agenda de reformas se tornariam mais aparentes. “Nossa visão não mudou: o processo de aprovação da reforma previdenciária trará volatilidade.”

Investidores estrangeiros Estrangeiros retiraram o equivalente a US$ 662 milhões das ações brasileiras em fevereiro, com a interrupção do rali, estendendo as retiradas de 2018 que marcaram a maior saída anual desde a crise financeira global. Em seguida, eles entraram com US$ 1 bilhão até 22 de março, quando o Ibovespa subiu acima de 100.000 pontos pela primeira vez na semana passada.

A queda de 4,3% na moeda e de 5,5% no Ibovespa na semana passada mostram que os operadores agora estão precificando um processo mais longo de aprovação e uma reforma final diluída. No entanto, os preços não estão refletindo uma derrota completa para o governo de sua principal bandeira. Marcin Lipka, analista sênior da Cinkciarzpl na Polônia que mais acertou as projeções para moedas latino-americanas no quarto trimestre do ano passado, de acordo com dados da Bloomberg, diz que se a política não se estabilizar, o real poderia facilmente enfraquecer para R$ 4, um nível visto pela última vez em outubro.

"Com todas as questões políticas se desdobrando, considero que pode ser muito mais difícil de implementar", disse Lipka. "Espero que nem tudo tenha acabado, mas com o apoio público em queda, o plano de reforma pode ser muito menos ambicioso".

O último contratempo sofrido por Bolsonaro foi a aprovação relâmpago na Câmara de um projeto de lei que reduz o controle orçamentário do governo. A emenda constitucional pode restringir a capacidade do governo de congelar gastos, uma derrota ao presidente, enquanto ele tenta reduzir o déficit fiscal.

"Se não virmos palavras tranquilizadoras do governo nas próximas semanas, a correção poderá piorar", disse Delphine Arrighi, gestor de recursos na Merian Global Investors em Londres.

Por enquanto, porém, os mercados ainda estão precificando a aprovação da reforma da Previdência, embora com muito ruído e alguma diluição.

"Bolsonaro abalou, mas não quebrou a credibilidade com os investidores", disse Jim Barrineau, chefe de dívida de mercados emergentes da Schroders.

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