Ibovespa fecha em alta e recupera perdas da semana com ajuda do Fed
Cenário externo otimista com manutenção da taxa de juro americana próxima de zero contribui com tom positivo no mercado interno
Guilherme Guilherme
Publicado em 28 de agosto de 2020 às 17h00.
Última atualização em 28 de agosto de 2020 às 18h32.
A bolsa brasileira fechou em alta nesta sexta-feira, 28, com ajuda do cenário externo positivo, com os investidores ainda repercutindo a sinalização de que a taxa de juro americana deve permanecer próxima de zero por um longo período. Por aqui, a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o auxílio não é para sempre também ajudou a impulsionar a bolsa, segundo analistas. O Ibovespa, principal índice da B3, subiu 1,51% e encerrou em 102.142,93 pontos. Com isso, o índice recuperou as últimas perdas e encerrou a semana em alta de 0,61%
“As indicações dadas pelo presidente do Federal Reserve , Jerome Powell , continuam ditando o rumo dos mercados”, avaliam analistas da EXAME Research. Na véspera, Powell anunciou a meta de inflação média, que sugere uma abordagem mais branda sobre o controle da inflação.
Em relatório assinado pelo executivo-chefe de investimentos da EXAME Reseach, Renato Mimica, e pelo economista da casa, Arthur Mota, a manutenção da taxa de juro americana próxima de zero nos Estados Unidos tende a manter o dólar desvalorizado e dar espaço para outras economias também deixarem seus juros baixos — o que favorece investimentos em renda variável, como ações.
“Se lembrarmos do que manda a regra de paridade de juros, o juro local precisa pagar pelo menos o juro americano, uma taxa de prêmio de risco e expectativa de desvalorização da moeda”, afirmam em relatório.
Por aqui, o Ibovespa esticou o movimento de alta, após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que o auxílio emergencial "não é aposentadoria". Por outro lado, o governo irá mantê-lo até o fim do ano. O valor do auxílio deve ser definido ainda nesta sexta. Mas a expectativa é que o ministro da Economia, Paulo Guedes, ceda aos interesses do presidente, e deixe o valor em 300 reais.
Os gastos com o auxílio emergencial tem sido a principal pauta da semana no mercado brasileiro, que teme o estouro do teto de gastos. Segundo Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, a declaração de Bolsonaro contribuiu para a valorização das ações, mas "ainda é muito cedo para avaliar os impactos" e os temores fiscais seguem permeando o mercado.
No cenário local, o mercado também repercute positivamente a transferência de 325 bilhões de reais do Banco Central para o Tesouro Nacional. Os recursos fazem parte dos ganhos da reserva cambial com a valorização do dólar e servirão para o pagamento da dívida pública mobiliária interna.
“Isso adia um problema de curto prazo. Mas é um alívio temporário, que evidencia quão problemática está a situação fiscal no país. O colchão de liquidez do governo praticamente não existe mais”, afirma Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Destaques
Com o bom humor externo elevando o preço de commodities no mercado internacional, as ações da Petrobras subiram 2% e as da Vale, 0,5% contribuindo para a alta do Ibovespa. Também com forte peso no índice, os grandes bancos voltaram a ser negociados em alta, com Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander avançando 1,03%, 2,95%, 2% e 1,6%, respectivamente. "Fazia um bom tempo que esses papéis não subiam e, com essas incertezas no mercado, os grandes bancos também servem como ativo de segurança", comenta Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.
Na liderança do índice ficaram as ações da Cyrela, com alta de 7,39%, após a recomendação de compra por parte de analistas do J.P. Morgan, que fixaram o preço-alvo de 30 reais. O papel da companhia é negociado a 25 reais
Na ponta negativa, as ações da Braskem recuaram 1,08%, após a empresa ser processada nos Estados Unidos por não ter informado acionistas sobre os problemas da companhia em Alagoas, onde a planta de mineração de sal-gema provocou fissuras no solo de bairros de Maceió. A informação foi dada pelo colunista de O Globo, Lauro Jardim. "A notícia é negativa para a Braskem, embora não traga maiores complicações de curto prazo. Trata-se de mais um fator de pressão para a petroquímica, que poderá ter de arcar com desembolsos extras no futuro relacionados à ação coletiva", afirma analistas da EXAME Research em relatório.