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Ibovespa zera ganhos em meio à tensão entre Bolsonaro e equipe econômica

Surpreendido por notícias de que o governo estudava congelar aposentadoria para financiar o Renda Brasil, presidente fala em dar "cartão vermelho"

Bolsa: Ibovespa sobe 0,02% e encerra em 100.297,91 pontos (REUTERS/Paulo Whitaker/Reuters)
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Guilherme Guilherme

Publicado em 15 de setembro de 2020 às 10h30.

Última atualização em 15 de setembro de 2020 às 17h47.

A bolsa brasileira se descolou do cenário externo positivo, nesta terça-feira, 15, e zerou os ganhos da manhã, após o vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro critica quem passou as informações sobre supostos congelamentos de aposentadoria para o financiamento do programa Renda Brasil. "Quem, por ventura, vier apresentar uma proposta dessa, só posso dar um cartão vermelho para esta pessoa", afirmou. Para os investidores, as reclamações do presidente evidenciaram o desentendimento entre o presidente e sua equipe econômica. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou em leve alta de 0,02%, em 100.297,91 pontos.

Vídeo

Em vídeo publicado no Twitter, o presidente se defende de matérias publicadas pela imprensa e afirma que não irá mais falar de Renda Brasil até 2022. "Está proibido falar de Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final", afirma.

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Fernando Siqueira, gestor de renda variável da Infinity Asset, considerou negativa a fala de Bolsonaro. "Mostra falta de entrosamento, o que é pior em meio à situação atual, de piora dos gastos fiscais. A impressão que passa é que ele está jogando contra a própria equipe. O certo é elogiar em público e criticar no particular. Mas em público é só crítica", comenta.

Segundo Siqueira, as discussões sobre uma possível saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, chegaram a entrar em pauta, mas perderam força, após o ministro afirmar que o "cartão vermelho" não era para ele. "A ideia sobre a saída de Guedes tem se tornado remota, já que por mais que ele não goste da situação, acaba aceitando. O risco maior é de mais gente da equipe sair."

Apesar do contexto ser negativo, o fim da ideia de implementar o Renda Brasil foi comemorada pelo mercado, já que representa um risco fiscal a menos. Em nota, André Perfeito, economista-chefe da Necton classificou a decisão como acertada. "Ao tirar o Renda Brasil da mesa, acredito que abra espaço para discussão de termas mais urgentes da agenda legislativa e isso pode ser mais eficiente", escreve.

Dados econômicos

Apesar da tensão no cenário interno, o exterior teve um dia de ganhos impulsionados pelos dados econômicos da China, que voltaram a surpreender positivamente. Pela primeira vez no ano, as vendas do varejo chinês superaram, em agosto, as do mesmo período do ano passado. No mês, a alta anual foi de 0,5% frente à expectativa de 0,1%. Já a produção industrial chinesa segue avançando a passos largos, crescendo 5,6% em relação a agosto do ano passado.

EUA

Apesar dos números fortes da China, nos Estados Unidos, os dados da produção industrial de agosto, divulgada pela manhã, ficaram abaixo das expectativas de mercado. No mês, a atividade teve mensal de 0,4%, confirmando o quarto mês de recuperação, mas do crescimento de 1% anteriormente esperado. Na comparação anual, a produção industrial de agosto teve queda de 7,73%. Por mais que tenha decepcionado, os dados americanos não foram suficientes para inverter o bom humor do mercado americano, que seguiram em alta. O índice S&P 500 fechou em alta de 0,52% e o Nasdaq, de 1,21%. De acordo com analistas a Exame Research, a expectativa de que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, adote um discurso mais “relaxado” em relação à inflação contribuiu para a alta nas bolsas globais.

Exportadoras

Com participação de 10% no Ibovespa, as ações da Vale ajudaram a sustentar o índice, subindo 1,1%, na esteira dos dados de produção industrial da China, principal destino de suas exportações. Nessa mesma linha, as ações das siderúrgicas CSN e Gerdau avançaram 2,41% e 5,77%, respectivamente.

Mas, foram as ações da Suzano que lideraram as altas do índice, com valorização de 6,01%, enquanto sua concorrente Klabin subiu 3%. “Esses papéis dependem mais da recuperação da economia global do que do cenário interno, então já vinham de alta. A fala do Bolsonaro, que desvalorizou o real, até contribuiu para a alta desse grupo”, disse Siqueira.

Frigoríficos

Também com parte considerável de suas receitas em dólar, os frigoríficos apresentaram forte apreciação, com BRF, JBS e Marfrig subindo, 4,19%, 3,83% e 3,63%, respectivamente. Mas, entre eles, o destaque ficou com a Minerva, que teve alta de 4,30%, após a empresa assinar uma carta de intenções para uma potencial combinação de negócios que avalia sua subsidiária Athena Foods em 1,5 bilhão de reais.

Segundo a empresa, a proposta veio de uma sociedade de propósito específico paraaquisição, listada na Nasdaq. Após a operação, a Minerva espera ficar com 75% do capital da entidade remanescente e receber cerca de 200 milhões de reais em dinheiro. Ainda de acordo com a Minerva, a listagem na Nasdaq poderia ajudar a Athena a fortalecer sua liderança global na produção e exportação de carne bovina e continuar gerando valor a seus acionistas.

Para analistas da Guide Investimentos, o impacto da operação é positivo para a emrpesa, já que seu valor de mercado é de 2,2 bilhões de reais e a Athena representa 30% do total (cerca de 730 milhões de reais). ‘No ano passado, o frigorífico considerou realizar uma oferta pública inicial de ações para a Athena, que captaria US$1,5 bilhão, mas teriam de vender parte maior do que os 25% propostos”, comentam em relatório.

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